Todos iguais. Somos todos iguais, proclama-se.
NÃO.
É mentira, uma das maiores mentiras propaladas por muita gente. NÃO, não somos todos iguais!
Somos todos diferentes, uns dos outros, na cor do cabelo, na pigmentação da pele, na cor dos olhos, na estatura física, nos genes.
Mas esta é a parte pouco relevante.
E agora nesta época Natalícia, e a caminho do final de ano, e agora que coisas estranhas não param de suceder, volto à carga como há muito tempo já (mais superficialmente) tinha feito/ escrito.
Quanto a coisas estranhas cito apenas uma, relacionada com a Covid. Dois sobrinhos, casal quarentão, no início de 2020 tiveram Covid, sem excessivas consequências. No processo daí para cá foram vacinados, têm duas doses. Estão há cinco dias outras vez com o "bicho"!
Somos todos da mesma massa, mas a realidade é que as fôrmas de onde surgimos são diferentes. DIFERENTES.
Somos todos diferentes, uns dos outros, porque,
* muitos têm tecto onde se abrigar, outros não,
* uns têm emprego, outros não,
* uns podem viajar, outros não,
* uns passaram o Natal com familiares e amigos até na Suíça, outros tentaram roubar cebolas e batatas para a consoada,
* uns alimentam-se regularmente, outros passam fome,
* uns têm mudas de roupa, outros são maltrapilhos,
* uns roubam cebolas e são logo presos, enquanto outros roubam muito e muitos, e passam anos a passear e a pagar aos advogados com o dinheiro que têm lá fora,
* uns têm apenas aquilo que conseguiram amealhar ao fim de anos de vida e trabalho esforçado, enquanto outros têm muito com o que conseguiram………adiante…..
* uns ficam numa fila à porta do centro de saúde à chuva sendo que a fila tinha para cima de 50 pessoas ao longo do passeio, enquanto outros defendem o hospital público mas vão ao privado onde são acompanhados à consulta como ainda em Outubro e Novembro pude comprovar,
* uns têm um carro utilitário a gasolina, de 1988, enquanto outros (por exemplo um que bem conheço, tem um Tesla, e dois Porsches (um Panamera e um 911),
* uns compram os bens alimentares nos diferentes supermercados incluindo El Corte Inglês e ainda nas lojas finas de bairro, enquanto outros compram o que podem no MiniPreço,
* uns têm filhos em escolas públicas mas também em escolas privadas e pagam explicadores aos filhos sempre que necessário, enquanto outros andam nas escolas públicas e alguns não acabam a escolaridade obrigatória,
* uns têm empregada (ou senhora que ajuda lá em casa, padreca dixit), enquanto outros tratam da casa ao fim de semana mesmo que estafados da semana de trabalho,
* uns vestem-se a rigor ou "casual" conforme as circunstâncias e não por tola ideologia, outros aperaltam-se disfarçadamente quando conseguem estar entre decentes,
* uns podem usufruir de seguros de saúde enquanto outros rogam para que a saúde não lhes falte,
* uns têm a casa aquecida no Outono e Inverno ou fresca quando o tempo aquece, enquanto outros têm o ar condicionado ao tempo que faz,
* uns conseguem pagar um lar com melhores condições e perto da residência fiscal de modo a ter os muito idosos da família bem tratados, enquanto outros ……..
* uns conseguiram recuperar a casa de família na aldeia ou conseguiram comprar uma, enquanto outros contam os tostões,
* uns compram livros de vez em quando, enquanto outros compram de vez em quando o jornal desportivo,
* uns tem aparelhagem em casa para ouvir música, têm muitos discos de música clássica e vão a concertos, enquanto outros se contentam com a telenovela,
* uns levam os netos à natação e ao judo, enquanto outros têm os miúdos a jogar à bola na estrada,
* uns vão regularmente comer fora de casa uma boa refeição de peixe, enquanto outros se deliciam de vez em quando com um "Burger",
* uns têm as revisões dos carros em dia e feitas na marca, enquanto outros chumbam de vez em quando na inspeção,
* ………e………e….…e…....
Não, não, e não. Não somos todos iguais.
Mas onde todos somos iguais é nos direitos formais. Todos!
Numa sociedade decente, democrática, de direito, livre, próspera, desenvolvida, e onde exista justiça efectiva e um combate real e constante às desigualdades sociais, nessa sociedade todos temos de ser iguais perante a lei.
Numa sociedade assim, todos somos iguais perante a lei.
Nada de diferente no essencial entre mais favorecidos ou menos favorecidos.
Nada de diferenças no acesso a oportunidades.
Nada de diferenças nos acessos à saúde, habitação, educação.
Nada de diferenças no essencial da vida, no essencial à vida.
E todos, mas todos, temos de ser iguais nos deveres.
E por ordem alfabética, deveres chegam primeiro que direitos.
E assim deve ser em sociedade, e assim devia estar escrito na Constituição, primeiro os deveres e depois os direitos.
Deveres e Direitos, na família, e designadamente para com os ascendentes e para com os descendentes.
Todos temos de ser iguais como cidadãos, como munícipes, como trabalhadores qualquer que seja a profissão, por conta de outrem, como servidores do Estado, e como funcionários públicos.
Há servidores do Estado que não são funcionários públicos.
Todos devemos ser iguais, no pluralismo de expressão, na qualidade de vida na comunidade, na preservação do ambiente, na preservação da nossa cultura e da nossa história.
Todos devemos ser iguais no que respeita à nossa liberdade e à nossa segurança.
Todos temos de ser iguais perante a lei, sendo certo que sendo todos da mesma massa nascemos de fôrmas diferentes.
É a realidade.
Não somos todos iguais, mas todos temos os mesmos deveres e os mesmos direitos.
Ninguém é melhor ou superior que outro concidadão.
E todos devemos saber servir e não o contrário, abusando da posição, do estatuto, da função, do cargo.
Se perante a lei não formos todos iguais, então vivemos numa sociedade doente, perversa.
E numa sociedade perversa, incentiva-se a ignorância disfarçada de excelentes e simplificados programas de aprendizagem.
Numa sociedade perversa instiga-se, por exemplo, através da publicidade enganosa e do marketing intensivo e das telenovelas e dos espectáculos pimba massificados, a estar horas nas TV a ver isso e futebol, a estar horas nas redes sociais a contar a vida íntima e parolices e imbecilidade, e etc.
Numa sociedade assim perversa, as redes sociais imperam e o que os poderes fazem aos cidadãos é assim também disfarçado.
Numa sociedade perversa, a comunicação social é manietada, descaradamente, ou por formas enviesadas.
Numa sociedade perversa e embrutecida ou que para lá caminha a passos largos, há o sr António, ou o sr José, ou o sr Francisco.
Não, não sou nem admito ser e que me chamem o sr António.
Sou o António Cabral, se quiserem sou o sr António Cabral, se quiserem podem colocar a seguir ao sr o título académico.
Não sou o sr António. Não somos todos iguais.
Devemos ser todos iguais nos deveres e nos direitos e por eles lutar.
Procuro sempre nunca disto me esquecer e ser consequente.
Ah, às vezes dói-me já a coluna vertebral.
Mas tenho coluna vertebral, e não uma esponjosa massa cartilagínea e colagénio.
António Cabral (AC)
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