sexta-feira, 11 de agosto de 2017

FORÇAS ARMADAS PORTUGUESAS
A COMPLEXIDADE dos DESAFIOS e a CONDIÇÃO MILITAR

No dia 18 de Julho passado fui um dos muitos convidados para assistir à apresentação do livro que tem o título e sub-título supra.
O livro é da autoria do Grupo de Reflexão Estratégica Independente (GREI).
No dia 19 de Julho coloquei um post sobre o assunto, o qual agora repito.
>> O Grupo de Reflexão Estratégica Independente (GREI) promoveu ontem ao fim da tarde um evento para apresentação de um livro que o GREI pretende seja "....simplesmente um documento de divulgação e esclarecimento". 
O livro tem por título as frases supra.
Entre civis e militares fui um dos muitos convidados, e sentado estive a ouvir algumas personalidades que compunham a mesa.
O GREI deu a presidência da mesa ao general Ramalho Eanes e, para além de proeminentes elementos dos corpos sociais da associação, nela estavam e falaram e por esta ordem, o presidente da mesa da assembleia geral do GREI, o Professor Adriano Moreira que prefaciou a obra, e o Dr Jaime Gama que se encarregou da apresentação do livro.
Nos inúmeros convidados (a sala do Museu Nacional de Arqueologia estava a abarrotar) havia de tudo, desde muitos políticos conhecidos da nossa praça como Jorge Coelho ou o actual e inefável presidente da Câmara Municipal de Lisboa, a pensadores ilustres como Joaquim Aguiar, professores catedráticos, muitos militares do activo na reserva e na reforma, chefes militares trajando à civil ou uniformizados, ex-chefes militares, muitos militares dos três ramos das FA, etc.
Vou ler o livro, aliás comecei ainda ontem à noite.
Voltarei ao assunto.
António Cabral <<



Como disse na altura, volto agora ao assunto pois já li o livro e, além disso e sobretudo, procurei recordar-me de coisas do passado respeitantes ás Forças Armadas (FA) isto é, consultei documentação variada e discursos passados, incluindo de vários chefes militares. Foi esclarecedor.
Antes de prosseguir, será de salientar que entre os elementos fundadores do GREI se encontram designadamente, um ex Chefe de Estado-Maior do Exército, um ex CEM da Força Aérea, um ex CEM da Armada, três ex Vice CEM da Armada, um Comandante-Geral da GNR. Ou seja, oficiais que tiveram as maiores responsabilidades nos três ramos das (FA), as maiores responsabilidades pela gestão desses ramos.
Aliás, não tendo a certeza, creio que dois desses ex- CEM não só estiveram nos cargos os três anos legais como terão sido reconduzidos.

Salvo melhor opinião, o livro é de facto um bom documento de divulgação e esclarecimento. De fácil leitura, bem elaborado.
Terá sido fácil chegar ao texto final, tendo presente as naturais diferenças de mentalidade, de postura, de inserção na sociedade do presente, e concretamente no que se refere aos ex-CEM, e concretamente tendo presente as ligações de cada um que são publicas e estão documentadas?
Talvez aí se possa encontrar uma parcial explicação para o livro ser de facto um bom elemento de divulgação e esclarecimento mas, e isso para mim é um elemento curioso que cada um interpretará como quiser, não me parece que o livro transpareça alguns aspectos dos vários discursos e tomadas de posição mais vigorosas assumidas por alguns no passado.
Posições que, do que li, pessoalmente me pareceram bem justas. Por outras palavras, e sendo brutal, nada de ofender os políticos  actuais nem as visões institucionais de ex titulares de órgãos de soberania, sempre muito elaboradas, sempre muito eloquentes, de grande elevação e patriotismo, mas tragicamente todas vazias de consequências para a realidade. Como os anos comprovam e todos sabem bem.

Considero-o um livro muito interessante, com cinco partes (Contexto social, conflitos e as guerras, a mudança organizacional, os militares e o profissionalismo, a condição militar), e dentro de cada uma extensa e sequencial referência ás evoluções históricas nacional e internacional, ás questões do antes e pós 25 Abril 1974, ás sucessivas e nunca acabadas reformas (algumas ao acaso, inconsequentes e incoerentes, inacabadas), ás questões do profissionalismo e do serviço militar obrigatório que foi extinto, e por fim a abordagem à condição militar.
Terminam os autores com uma parte que designam por "visão institucional" em que foram buscar trechos de discursos (para inglês ver ?) dos ex-Presidentes  Ramalho Eanes (para mim o mais intelectualmente honesto), Jorge Sampaio, Cavaco Silva e até do actual presidente Marcelo Rebelo de Sousa. 
Interessantíssimo, para mim naturalmente, que nesta recolha de visões institucionais nada tenha sido repescado da parte de Mário Soares enquanto PR. Há curiosidades mesmo "curiosas e bem elucidativas".

No prefácio, bem interessante, e que valoriza a obra, Adriano Moreira discorre sobre os homens e as instituições, chamando à atenção mais uma vez para a indispensabilidade de se dever olhar com outros olhos (frase minha) ás instituições como as FA, neste mundo que está cada vez mais fragilizado, senão mesmo doido, digo eu.

O livro é muito interessante, é um bom apoio para quem se preocupa com assuntos do País, da Soberania, da Defesa Nacional, das Forças Armadas.
No capítulo da condição militar discorrem sobre o assunto mas, ao mesmo tempo que confessam saber da complexidade dos assuntos, infelizmente o livro é pouco assertivo em apontar com rigor o que tem sido o sucessivo comportamento de fraude política por parte dos poderes públicos e governamentais e sucessivos titulares de órgãos de soberania.
Pela minha parte há muito que me deixei de comover com as discursatas que não têm concretização praticamente nenhuma, sobretudo de algumas que por vezes quase vinham acompanhadas de lágrimas de crocodilo.
Como me atrevo a presumir que, no seu íntimo, não poderão deixar de concordar os ex chefes militares que integram o GREI. 
Recordo aliás alguns recentes artigos de jornal de elementos do GREI e um recente programa "Prós e Contra".
Pelo que talvez não ficasse mal, mantendo exactamente a mesma elevação de tratamento dos assuntos e linguagem onde aliás se detectam contribuições técnicas de grande saber, verterem para o livro parte das suas indignações demonstradas enquanto chefes dos três ramos das FA.
A terminar, tenho as maiores dúvidas que algum jovem português se comova com o assunto em causa, e que algum compre este livro ou outro, sério e académico, sobre Defesa Nacional e sobre Forças Armadas. 
E nisso, muita culpa têm os políticos todos, designadamente desde 1991. Alguns chefes militares foram periodicamente dando uma ajudinha, com e sem socos no estômago, a começar naquele que, segundo se dizia, se proclamava como não sendo- chefe de sindicato.
António Cabral (AC)


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