HISTÓRIA e MEMÓRIA (Luís Reis Torgal)
(Excertos do artigo, sublinhados meus)
(Excertos do artigo, sublinhados meus)
Em 1989 escrevi um livro intitulado História e Ideologia, com base em textos que havia publicado ao longo de vários anos. Tentei mostrar que uma coisa é a História como ciência, que procura objectivamente interpretar de todos os ângulos e com todas as fontes possíveis o que se passou e vai passando, e outra a Memória que vai surgindo, mais ou menos espontaneamente ou em função de ideologias organizadas, e cuja “legitimidade histórica” (para empregar uma expressão de Marc Ferro) vai variando à medida que se altera a visão do mundo.
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Neste mundo de (des)informação — devido por vezes ao excesso de informação superficial — basta dizer para crer. Assim, surgem nos periódicos e nas redes sociais — a par de textos de jornalistas, de historiadores e de outra gente da escrita, feitos com muita serenidade — artigos e opiniões que enchem de crenças ou de dúvidas quem os lê, sem se procurar saber até onde chegou o conhecimento histórico da realidade.
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O homicídio do afro-americano George Floyd pela polícia de Mineapolis desencadeou uma onda de legítimo anti-racismo que devia ser controlado pela posição correcta e objectiva dos poderes políticos, da ciência e da civilidade, e não aproveitado abusivamente por ideologias.
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O homicídio do afro-americano George Floyd pela polícia de Mineapolis desencadeou uma onda de legítimo anti-racismo que devia ser controlado pela posição correcta e objectiva dos poderes políticos, da ciência e da civilidade, e não aproveitado abusivamente por ideologias.
E o certo é que esse anti-racismo militante, por vezes tão primário como o próprio racismo, ..................
O que parece a alguns ser prioritário é vandalizar, ..............
O que parece a alguns ser prioritário é vandalizar, ..............
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A nossa forma de alterar o cenário político e social — em Portugal e em outros países — foi, em certos casos, meramente formal e em resultado das paixões do momento. Assim, por exemplo, criaram-se, mudaram-se ou apagaram-se nomes, construíram-se e derrubaram-se estátuas e outros símbolos de memória, sem muitas vezes saber porquê, em lugar de se assumir a História e tentar por meios estruturais alterar a ordem das coisas. Seria este — a meu ver — o modo mais certo de não apagar a História (ou a Memória, como por vezes se diz) e de tentar mudá-la para melhor, em benefício de todos os homens.
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Não volto a discutir assuntos que já estão gastos sem verdadeiramente se terem debatido. Mas recordo ainda uma experiência pessoal e deixo uma breve consideração de ordem científica e cultural.
Há algum tempo perguntaram-me se a minha Universidade deveria retirar o título de doutor honoris causa a Francisco Franco, que lhe foi concedido em 1949, tal como fez a Universidade Santiago de Compostela. A minha resposta imediata foi “não”, pois a História não se apaga, mas explica-se e compreende-se criticamente.
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Não volto a discutir assuntos que já estão gastos sem verdadeiramente se terem debatido. Mas recordo ainda uma experiência pessoal e deixo uma breve consideração de ordem científica e cultural.
Há algum tempo perguntaram-me se a minha Universidade deveria retirar o título de doutor honoris causa a Francisco Franco, que lhe foi concedido em 1949, tal como fez a Universidade Santiago de Compostela. A minha resposta imediata foi “não”, pois a História não se apaga, mas explica-se e compreende-se criticamente.
O mesmo terá considerado a Universidade de Oxford, que em 1941 concedeu o título a Salazar. E, quanto à questão fundamental do racismo, julgo que Portugal, como país que teve um “Império Colonial” até 1974 (com uma falsa tentativa desesperada para alterar legalmente o seu estatuto, sobretudo a partir dos anos 50 e 60, sem com isso deixar de sentir uma guerra que se prolongou por mais de uma década), deveria contribuir — dando colaboração aos investigadores autóctones — com os seus historiadores, os seus antropólogos, os seus sociólogos... para melhor conhecer a realidade dos países de língua oficial portuguesa, quer na sua perspectiva colonial, quer na perspectiva anticolonialista.
É que sem isso não será possível conhecer a sua história de hoje, cheia de contradições e dificuldades. E essa realidade não se conhece apenas nas bibliotecas e arquivos, mas nos próprios espaços, no íntimo da complexidade das suas geografias, das suas sociedades e das suas culturas. Também assim se conheceriam melhor os seus exilados ou aqueles que, vindos de África, como de outros continentes, escolheram Portugal para viver.
Não sei se por cá há mais ou menos racismo do que noutros países — houve seguramente (a meu ver) menos anti-semitismo depois de derrubado o monstro da Inquisição —, mas o que importa é contribuir de forma autêntica, e não através de falsos combates, para que ele desapareça, em todas as formas que subsiste. E são muitas, com certeza.
Não sei se por cá há mais ou menos racismo do que noutros países — houve seguramente (a meu ver) menos anti-semitismo depois de derrubado o monstro da Inquisição —, mas o que importa é contribuir de forma autêntica, e não através de falsos combates, para que ele desapareça, em todas as formas que subsiste. E são muitas, com certeza.
António Cabral (AC)
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