sexta-feira, 6 de maio de 2022

"DOS DIAS QUE CORREM"

Em que pensará esta idosa?
* Na viuvez, vai para quase duas décadas?
* Na operação e vida subsequente da filha?
* Na prisão passada do genro e consequências?
* No emprego do neto, inexistente na aldeia, inexistente no concelho, e só conseguido na capital de distrito?
* Nas flores bonitas que plantou aqui na casa da vizinha?
* No filho agora reformado da força de segurança, filho que como muitos aqui na zona aí conseguiu sustento?
* De como era no passado a festa do castelo ou de Santa Cruz?
* Na barragem Marechal Carmona que devia estar com mais água?
* No calor que aí virá e no ar condicionado que em casa tem e é condicionado pelo tempo que faz cá fora?
* No início da vida de casada em que na freguesia havia mais de 3000 pessoas e agora, diz-se que não chegará ou pouco passará das 700 (aldeia e todos os lugares à volta do monte) e que aqui em cima na aldeia menos de 80?
* Saberá ela que aldeias há, muitas, com menos de 10?
* Nas obras nas ruas aqui na aldeia e que nunca mais acabam, e já originou quedas graves?
* Saberá ela que dentro da parte muralhada da aldeia de Sortelha, por exemplo, vive em permanência apenas uma pessoa?
* Saudades do burrito que regressava com o marido ao fim da tarde da horta, lá para os lados da "Devesa", e bem carregado com hortaliça, batatas, cebolas, fruta?
* Preocupada porque no concelho, presentemente, entre as 2400 e as 0800 da manhã não há assistência médica (médico, enfermeiro)? Se acontecer alguma coisa -INEM, bombeiros de Idanha-a-Nova e é ir para o hospital de Castelo Branco, que o historial demonstra ser um Totobola?
Na sua solidão, pensará certamente muito. E aprecia as boas vistas daqui da aldeia, como esta tirada do quintal/ jardim.
Tenham um bom fim de semana.

António Cabral

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