sábado, 13 de janeiro de 2018

SER BONZINHO
Apetece-me escrever o que tenho agora na cabeça, e aqui vai.
Não sou advogado em causa própria. Nunca fui.
Quando falecer, oxalá não seja tão cedo, familiares e os amigos verdadeiros chorarão, acredito e, provavelmente, não lhes passará pela memória as etapas e as coisas em que eu certamente poderia ter sido melhor, em que não devia ter feito certas asneiras, patetices, burrices.  É da vida, como dizia o outro.
Aos importantes, quando morrem, quer os que o foram mesmo, quer os que o sistema convencionou que o seriam, como os titulares de órgãos de soberania, muitos políticos, muitos gestores, muitas elites (??) e todos e todas que aproveitam essa ocasião para darem prova de vida, são tecidas as maiores loas.
No mínimo, merecidas para os que marcaram o nosso tempo com verdadeiro serviço à sociedade, nobreza de carácter e postura de vida. Mas não para os que chegaram à vida humildes de finanças e no caixão levam as explicações de como enriqueceram e ninguém percebe.
Eu pertenço aquele grupo, que não é nada pequeno, dos que não se modificaram muito com o passar das décadas. 
Não dei na vida voltas de 360º, ou de 180º.  
Continuo com o nariz empinado, como dizia alguém que respeito e estimo.
Continuo a procurar ser isento e o mais rigoroso possível, procurando diminuir os defeitos e nem sempre o conseguindo. 
Continuo a apreciar a vida e muito, mantenho-me fiel aos amigos verdadeiros, que são muito poucos, civis e militares, homens e mulheres.
Prezo muito todos aqueles que me marcaram, que contribuíram para a minha formação mesmo quando o contacto foi mais breve, e muitos outros na profissão e fora dela, que conheci e que respeito, mesmo discordando deles muitas vezes. Alguns, muito poucos, com quem houve picardias duras ao longo da carreira, não imaginam a consideração que por eles tenho.
"Escarapão" é um termo essencialmente popular, pouco conhecido/ empregue, que era usado por vezes em paragens do Alto Alentejo como Portalegre, por familiares muito idosos, teria eu os meus 8/9 anos. Significando, pessoa muito irreverente, seca, que não se deixa dominar.
Seco sempre fui um bocado, mas nada tendo de insensibilidade, e apesar de não ser advogado em causa própria, sei bem que confundiam o quase irascível com aquela reação legítima à coisa bem parva que é falar comigo tomando-me por tolo.
Situação que me foi perseguindo a vida toda. 
Que sempre e muito me irritou, e de que periodicamente dei nota dura a quem de direito, porfiadas vezes, olhos nos olhos.  
Nunca me dei mal com isso. 
Lembro-me do nº2 da organização anos atrás, com saudade, pois apesar de discordâncias tivemos um relacionamento institucional bem curioso e simpático; lembro, por exemplo, duas vezes que me deu o braço, algures no final de 1990, depois de eu estar a sair do meu gabinete e deparar com ele no corredor, para trás e para diante, como era seu hábito. A conversa começava - lá está você com o seu mau feitio -
Bonzinho não sou, mas tenho a certeza de que já consegui minimizar vários defeitos. 
Infelizmente, alguns persistem, e disso me tenho de penitenciar mas, sobretudo, mas esforço-me. 
Mas continuo a não gostar que me tomem por tolo.
Posso ter cara de parvo, o que não é garantia de que o seja de facto.
Quem tenha cara de parvo não tem culpa: os culpados são os progenitores e Deus. 
Ser eventualmente parvo, isso é outra coisa.
Tenho que fazer por agradar aos meus? 
Naturalmente, é uma certa obrigação. Mas há limites.
Devo esforçar-me por ser menos antipático? 
Tenho conseguido isso mais vezes.
Mas não me peçam para ficar satisfeito quando vejo coisas que me parecem muito criticáveis, na família, com os colegas de profissão, com amigos, com conhecidos, na sociedade.
Cada um tem as suas manias. 
Eu, se não me beijam na boca quando me  ****m  fico muito irritado!! 
Pronto já desabafei, estava cá dentro. Vou andar a pé.
AC

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