sábado, 25 de abril de 2020

DIA  da  LIBERDADE
Como vou comemorar o dia de hoje?
Sem liberdade para andar na rua, e nomeadamente em Lisboa o dia todo. Como reformado, respeitaria rigorosamente o distanciamento social, como aliás faço no presente em todas as saídas de casa que a lei/ restrições presentes permite.
Anos houve que cheguei a andar nas ruas de Lisboa, a pé, desde o Campo das Cebolas e Doca da Marinha até Entre-Campos, ida e volta. Com passagens pelo Parque Eduardo VII, pela Av. da Liberdade, com paragens na "Versailes" e no "Chiado".
Tenho a Nikon por testemunha.
Lembro-me sempre deste homem.
Conheci-o juntamente com outros, na Escola Prática de Cavalaria, em Santarém, no final de 1977. Lembro bem os olhos, a sua bonomia, o seu sorriso, e a tristeza que se descortinava por trás do seu semblante.
Lembro-me que o grande catalisador para 25 foi sobretudo ter havido isto por pouco mais de 13 anos, guerra estúpida e condecorações póstumas. Estive lá, Guiné, de 29 de Outubro de 1971 a 28 de Julho de 1973 e, felizmente escapei à morte (19MAIO1973, 2340 horas) e felizmente não fui ferido e não tive sequelas físicas nem psíquicas.
Gradualmente voltaram as condecorações mais que exageradas.
Mário Soares, Jorge Sampaio, Cavaco Silva e agora o rei do comentário e dos beijos rivalizam num campeonato lamentável de condecorar tudo e mais alguma coisa. Faz lembrar a velha "foge cão que te fazem barão".
Conheço casos, caricatos, no meio civil e no seio dos militares.
Contaram-me que, recentemente, até já se atribuíram medalhas por supostos méritos a quem partilhava o mesmo tecto de determinada personalidade institucional.
Lembro-me de ver de bem perto a fragata comandada pelo Louçã sénior e lembro bem, como se fosse hoje, as ordens seguidas que esse então comandante recebia do alto comando da Marinha de então para "tratar" de quem estava no Terreiro do Paço. Que muitos foram ouvindo.

O meu amigo Francisco Pina, que tão prematuramente nos deixou, ouviu tudo isto a meu lado. 
Que pensará ele, "lá de cima", quando observa isto cá em baixo, um ridículo e patético Ferro Rodrigues, uma crescente corrupção, anos de processos de colarinho branco sem resultados concretos, a geração mais bem preparada de sempre, auto-estradas algumas vezes em duplicado, umas Forças Armadas sempre desconsideradas mas pelo menos a servir para receber infectados e em que só faltava que fosse a PSP ou a GNR a guardar esses infectados dentro das instalações militares da OTA, e todas estas porcarias a ensombrar, os progressos vários que a sociedade portuguesa fez em muitas áreas, e desde logo a Liberdade, o fim da guerra em África, o progresso em diminuir bastante as desigualdades de 24 de Abril de 1974, o aumento da esperança de vida, etc.etc.etc. 

Como vou comemorar o dia de hoje?
Muito em casa face ás circunstâncias, voltas e voltas ao bairro que as restrições permitem e assim sem basicamente nada para fotografar, verei os netos por via das maravilhas da tecnologia, comerei talvez ainda melhor que nos outros dias, em excelente companhia da minha mulher.
Não sei se a par de um bom tinto, pois parece que vamos fazer uns belíssimos "canelloni" caseiros, não me dará para abrir uma destas.
Este ano não haverá, creio, guarda de honra na AR a receber Marcelo, não haverá desfiles na Av. da Liberdade, discursos públicos.
Não esqueço o dia. Além de que Abril é quando quiser e como eu quiser.
António Cabral (AC
um reformado fechado em casa

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