terça-feira, 28 de abril de 2020

O  MOMENTO  PRESENTE
Nesta fase da nossa vida colectiva, em que tenho a crescente sensação de que o Presidente e o governo me aldrabam, me mentem, apesar da habitual desfaçatez do nº 1 ao ter afirmado que isso não aconteceria, num presente em que os governantes e designadamente a criatura temporariamente PM quase diariamente debitam para os media pequenas notícias do que vai ou não acontecer-nos quanto a restrições, talvez valha a pena olhar Sophia.
Os sublinhados são meus. 
AC
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Nesta hora limpa da verdade é preciso dizer a verdade toda
Mesmo aquela que é impopular neste dia em que se invoca o povo
Pois é preciso que o povo regresse do seu longo exílio
E lhe seja proposta uma verdade inteira e não meia verdade

Meia verdade é como habitar meio quarto
Ganhar meio salário
Como só ter direito
A metade da vida


O demagogo diz da verdade a metade
E o resto joga com habilidade
Porque pensa que o povo só pensa metade
Porque pensa que o povo não percebe nem sabe

A verdade não é uma especialidade
Para especializados clérigos letrados

Não basta gritar povo
É preciso expor
Partir do olhar da mão e da razão
Partir da limpidez do elementar

Como quem parte do Sol do mar do ar
Como quem parte da terra onde os homens estão

Para construir o canto do terrestre
- Sob o ausente olhar silente de atenção -

Para construir a festa do terrestre
Na nudez de alegria que nos veste.

Sophia de Mello Breyner Andresen | "O nome das coisas", 1977

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