FORMAS  de  ESTADO

Salgueiro Maia
“Meus senhores, como todos sabem, há diversas modalidades de Estado. Os estados sociais, os corporativos e o estado a que chegámos. Ora, nesta noite solene, vamos acabar com o estado a que chegámos! De maneira que, quem quiser vir comigo, vamos para Lisboa e acabamos com isto. Quem for voluntário, sai e forma. Quem não quiser sair, fica aqui!”

Tenho recordado várias vezes esta famosa dissertação. Mas cada vez mais me interrogo, em que Estado estamos?

> Podia referir-me por exemplo às obras num hospital militar, que decorreram como decorreram; 

> Podia referir-me ás velocidades doidas a que circulam as viaturas oficiais de António Costa, Cabrita, outros ministros e secretários de Estado, se calhar vários deputados, se calhar muitos daqueles a que jornalistas e outros consideram importantes, se calhar o próprio Marcelo Rebelo de Sousa;

> Podia referir-me à fuga de João Rendeiro e como porventura alguns se sentirão agora que são mostrados nas TV acompanhando esse senhor nos últimos meses e anos; 

> Podia-me referir ao patético e escandaloso que é o que se passa com a CP, as centenas de milhões de dívida acumulada, caminharmos para o fim do ano e não ter orçamento e plano de actividades aprovado;

> Podia referir-me às baboseiras constantes de uma criatura de cara gorda inchada e barbuda;

> Podia referir-me que se caminha para o 4º mês quase passado sobre a morte de um trabalhador causada pelo carro onde seguia o senhor Cabrita e nada se sabe do inquérito que teoricamente foi iniciado;

> Podia referi-me que até agora ninguém quer substituir a deputada do CDS que, pessoalmente penso, se fartou;

> Podia referir-me a tanta coisa, uma linha só por tema, que quando chegasse ao fim teria a mão cansada, a vista cansada, e as páginas deste texto seriam mais que o grosso livro de ajuste de contas de Balsemão.

Mas não, vou deitar-me, passam 35 minutos da meia-noite. Para que me hei-de maçar demasiado com o estado a que isto chegou quando, o que se passou em dois dias é, na minha perspectiva e de umas dezenas mais, provavelmente a coisa mais grave destes já passados 47 anos do actual regime mas que, pelos vistos, não passa/ passou de um ou dois ou três pequeninos equívocos? Quem na sociedade se incomoda? Algum problema?

Na feliz expressão de um homem da minha profissão que muito respeito com a qual concordo, o que se passou é só, provavelmente, um verdadeiro crime de lesa Pátria. Mas não interessa para nada, não é verdade? O Benfica ganhou, Portugal apurou-se para a final do mundial do futsal!

Mas vou voltar ao assunto. Boa noite.

AC