sexta-feira, 22 de outubro de 2021

"A cigarra e a formiga

(versão caricatural, de um pais)

Lembrei-me disto a propósito de mais um OE, a propósito de várias declarações, de este OE ser ainda mais amigo das famílias, dos jovens, das crianças, do emprego, das empresas, um verdadeiro AMIGÃO.

A (por muitos  considerada burra) formiga trabalha no duro o ano todo, construiu a sua casa e tratou de se preparar para o Inverno, em todos os aspectos, segurança e isolamento da casa e mantimentos. 

Enquanto isso, a cigarra passava os dias no ginásio 💪, no café, ou a arranjar as unhas de gel 💅, e no intervalo a gastar mais uns tempinhos nas redes sociais a combinar festas, arruaças, etc.
As noites sempre no "Bibá la noche" com as amigas.🍸🍻🥃🍾

Chegado o inverno 🌨️🌩️☃️, e ele está quase aí, com o preço da electricidade a subir, a carestia dos combustíveis e do gás para aquecimento e água quente, a formiga refugia-se em casa onde tem tudo preparado, tudo o que precisa até á Primavera. 🍞🍗🥣🔥

Por seu lado, a cigarra começa a ficar cheia de frio e cada vez com mais fome. Decide ir a um canal de televisão e queixar-se a uma conhecida entrevistadora de coisas mundanas do mais fino recorte. 

Queixa-se de que não é justo que a formiga tenha direito a casa e comida enquanto outros, como ela, com menos sorte que a formiga (!?!?), passam frio e fome. E ali, em directo, todos os assistentes convidados para estarem no programa concordam que o que a cigarra denuncia é de facto uma vergonha, um escândalo. 👎👎👎

Um canal televisivo da concorrência, grande especialista em tragédias, não perde a oportunidade, e faz um directo à porta de casa da formiga, passando imagens da formiga obtidas pela janela que estava ainda com os estores abertos, vendo-se a formiga no quentinho da sua habitação, e com a mesa bem composta.

Os espectadores fieis de tal canal televisivo, ficam revoltados com as imagens mostradas e, particularmente, ao se aperceberem que no seu país, ainda dito desenvolvido, se deixa sofrer uma pobre cigarra, enquanto que outros andam a viver à grande e à Francesa. 

É então imediatamente organizada uma marcha de apoio à cigarra - #jesuiscigarra 🙏

É feito um episódio especial num conhecido programa da RTP,  onde se coloca a questão - como é que a formiga enriqueceu às custas da cigarra. De um lado da bancada, surgem os defensores da igualdade (pró-cigarra) e do outro lado, os sem-coração 💔(que defendem a egoísta e insensível formiga)

Em resposta às mais recentes sondagens, o governo logo decide preparar uma lei sobre a igualdade económica e, claro,  com efeitos retroactivos (desde o Verão). 
Aumentam depois e consideravelmente, os impostos sobre a  formiga, a qual ainda incorre numa multa por não ter prestado assistência à cigarra. Os descontos para a segurança-social também sobem, para serem justamente partilhados com a cigarra. 

A casa da formiga é entretanto penhorada pelo fisco por não ter conseguido pagar todos os impostos.

A formiga, decepcionada, faz as malas e emigra para um país onde o seu esforço venha a ser reconhecido, e onde possa desfrutar dos frutos do seu trabalho árduo. 🇦🇺️🇨🇦️🇧🇻️🇨🇵️🇩🇪️🇫🇮️🇭🇲️🇯🇵️🇮🇸️🇱🇺️🇷🇴️🇺🇲️

A antiga casa da formiga é entretanto rapidamente convertida numa habitação social para cigarras. Cigarras com muitos filhos, e que vivem de doações de comida, cerveja e de coca-cola. O pouco que recebem dos descontos da formiga mal lhes dá para os bens essenciais, como por exemplo, para sapatilhas da Nike, e outros bens de consumo e de boa marca 🕶️👚👟👠💍💄👜🎮

A casa, naturalmente, começa a deteriorar-se por falta de manutenção mínima. O governo é entretanto fortemente criticado pela falta de meios colocados à disposição da cigarra, que vive agora em condições quase desumanas. Coitadinha.

A oposição propõe por isso uma comissão de investigação multi-partidária, que se estima possa vir a custar uns milhões de euros.

Entretanto, subitamente, a cigarra acaba por morrer com uma overdose.

Os "media" garantem que a morte da cigarra se deveu sim à falta de assistência e apoio social por parte do governo, que falhou redondamente no seu dever de acabar com as desigualdades sociais e a injustiça económica.

A antiga casa da formiga acaba finalmente por ser ocupada por uma família de aranhas que surgiram sem se saber bem de onde. 
Surgem entretanto fortes suspeitas de haver no seu seio traficantes de tudo e mais alguma coisa, e somam-se as notícias sobre desacatos e violências no bairro, o que começa a aterrorizar a vizinhança. As forças de segurança assistem de longe.

O governo, entretanto, vai-se regozijando com a diversidade cultural do país, recheado de insectos os mais variados.

AC

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