segunda-feira, 11 de abril de 2022

OCASO  da  VIDA

Nenhum de nós, nenhuma família, escapa à inexorável marcha da vida.
Refiro-me a várias coisas.
Refiro-me à inevitável realidade da vida que é, nascermos por vontade de outrem, os nossos pais, vivermos melhor ou pior (milhões, infelizmente, horrivelmente mal), envelhecemos (muitos não chegam a isso), ficamos dependentes, falecemos um dia.

Mais. Há dois aspectos que demonstram bem o subdesenvolvimento ou o desenvolvimento de uma sociedade/ um país, e são: 
- como a sociedade trata e cuida das crianças e dos jovens, 
- e como cuida dos idosos, dependentes e dos deficientes.

Quanto às crianças, hoje apenas uma nota, pois quero focar-me sobretudo no que respeita ao título deste opinativo. 
Fiquei a saber, no decurso de recente assembleia-geral da IPSS onde a minha mãe (97 em Julho) vive, que haverá uma determinação governamental para que em 2025 nenhuma criança (ou melhor, os pais) pague seja o que for nas creches, por todo o país, independentemente do IRS dos pais. Ou seja, mais uma conta que alguém pagará.

Mas, voltando à questão principal que já diversas vezes aqui partilhei, e que hoje de novo quero abordar, há IPSS e IPSS. E há instituições privadas neste âmbito, muitas, várias com capacidades decentes, várias com deficiências face às normas, e muita clandestinidade que, periodicamente, vem à luz do dia, como aconteceu durante as fases mais agudas da pandemia Covid.

Faz parte da vida haver muitas pessoas que nada se preocupam seja com o que for, que só dão valor a certas coisas quando de repente delas precisam, que nunca se interrogam porque acontece isto e aquilo, ou como se suporta/ financia isto e aquilo. É assim, é a triste realidade, apesar da propagandeada sucessão de gerações o mais bem preparadas de sempre.

Comecei a preocupar-me mais com esta faceta da vida (lares, apoio a idosos) sobretudo a partir de 1987. Creio que conheço alguma coisa do assunto.

São colocadas em lares as pessoas idosas com deficiência, as pessoas que não têm familiar que os ampare (conheço dois casos). Também pessoas que se encontram com saúde ainda muito razoável para a idade física e que no seu completamente lúcido discernimento assim o decidem por, após a viuvez, já não terem força física para continuar a viver sozinhas nas suas casas, como aconteceu com a minha mãe (2011-2019).

Por óbvias razões, se de há anos já tinha uma percepção razoável desta área da sociedade, fiquei mais ciente ainda dos problemas envolvidos a partir de 2000 e sobretudo a partir do início de 2019 devido à situação da minha mãe.

Que questões?
Como é a infra-estrutura assistencial, em que estado de conservação se encontra o imóvel, que manutenção vai tendo, que valências tem, capacidade/ quantos utentes alberga, quadro de pessoal (médico, enfermeiros, assistentes operacionais, pessoal de manutenção, pessoal de limpeza), confecção de alimentação "in situ" ou "catering", visitas, saídas, apoio médico, apoio à saúde mental dos utentes, mensalidade a pagar, que subsídio por parte do estado/ governos, etc.

A realidade é que em Portugal ao longo das últimas 4 décadas foram encerradas muitas instituições incluindo unidades para tratamento e acompanhamento de pessoas com débil saúde mental ou mesmo sem ela. Para onde passaram essas pessoas a ser "descarregadas" (sim, é termo violento, mas real) ? Para IPSS e etc.

Que acompanhamento, que inspeções por parte dos governos, quer no âmbito social, quer no âmbito do trabalho e emprego, quer no âmbito saúde? Que meios para isto?

Creio que nem todas as IPSS e outras associações de solidariedade social têm também infra-estruturas para cuidados continuados, mas muitas têm. E nesses cuidados continuados ficam pessoas por algum tempo, outras por muito tempo, outras só de lá saem ao falecer. Quanto custa isto? Já pensaram? Que paga o Estado/ governos?

Todos os governos, de origem PSD ou PS pois são na essência basicamente iguais, os subsídios são sempre por baixo. Se as dificuldades financeiras para as instituições daí resultantes não são rápida e adequadamente equilibradas (nunca são), a algum lado as instituições/ associações vão buscar o diferencial. 
Corta-se na qualidade da alimentação? Corta-se nas limpezas? 
Corta-se no aquecimento? Corta-se na manutenção de equipamentos de aquecimento e outros?  Etc.?

E que pensar de governos que nada fazem quando pantomineiros deixam por exemplo, em 2017, um buraco de 11 milhões numa dada associação? Será porque o dirigente era da clique? Que justiça?

Que genuína preocupação têm tido designadamente os ministérios da saúde e da Solidariedade Social e do Trabalho para com as dificuldades que enfrentam misericórdias e outras instituições de solidariedade social?

Esta área da sociedade é complexa. A manta é sempre curta, mas é pena que muitas pessoas se iludam com propaganda e não cuidem de observar a realidade. 
É preciso interessarmo-nos por tudo, mesmo não tendo momentaneamente interesse directo. 
Nesta área, como em todas da sociedade em que vivemos. 
O interesse da generalidade das pessoas pode medir-se pela assistência a assembleias -gerais das diferentes instituições de solidariedade social. Portugal desenvolvido? POUCO!
António Cabral (AC)


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