EU . . . . NÓS . . . . EU . . . .
Há uma história antiga, que me foi contada há muitos anos, sobre um acontecimento naval, português. Desconheço se tem respaldo na realidade.
Antes de a contar, e para os não conhecedores do assunto, estou a referir-me a navegação, a navios de guerra, com comandante e guarnição.
A bordo dos navios de guerra existe uma coisa que se chama o "diário náutico", e que é um livro onde se registavam/ registam todas as ordens para governar o navio, desde direções /azimutes, estado de preparação do navio para combate ou não, desde as máquinas aos sensores, às armas, etc. Nesse livro se registavam também, por exemplo, determinados acontecimentos, determinadas ordens do comandante para governo do navio por exemplo durante a noite, durante a sua ausência na ponte de comando. Porventura, com a tecnologia dos tempos nossos, imagino que haja registos também digitais. Adiante.
Indo à historieta, um navio de guerra estava a poucas milhas da entrada da barra, porto de Lisboa, entrada que se pode fazer pela barra Sul ou pela barra Norte, sendo que esta é relativamente mais perigosa.
E o comandante estava na ponte de comando.
A aproximação ia-se fazendo, o comandante dando ordens diversas quer para o regime de máquinas (velocidade), quer para azimutes/ direções. Sabe quem anda pelas bandas do Bugio, que a barra de Lisboa mesmo a Sul está rodeada de baixios.
Já em plena barra Sul o navio encalhou. Acidente náutico.
Posteriormente, no decurso das investigações ao acidente, para lá das questões e perguntas colocadas quer ao comandante quer ao oficial de navegação, quer ao marinheiro ao leme, quer ao encarregado de transmitir as ordens para a casa das máquinas, naturalmente que o diário náutico foi analisado.
Da análise do diário náutico constatou-se o seguinte registo das ordens e indicações do comandante:
- às ... horas mandei governar ao rumo ...
- às ... horas mandei governar ao rumo ...
- às ... horas mandei reduzir as rotações das máquinas para ...
- às ... horas mandei governar ao rumo …
- às … encalhámos na posição …
Lembro-me desta historieta amiúde a propósito de muita coisa na nossa sociedade, a propósito dos dirigentes partidários ou não, e dos partidos que temos tido e temos desde 25 de Abril de 1974. Há quem lhes chame "elites".
A esmagadora maioria para não arriscar dizer TODOS, têm comportamentos semelhantes ao do comandante da historieta e, opinião pessoal naturalmente, Costas e companhia ilimitada (Augustos, Catarinas, os vários brilhantes que por aí se passeiam, Sócrates, etc.) são IMBATÍVEIS nesta postura.
Voltei a lembrar-me do tal comandante depois de ler vários episódios sobre os professores, mas particularmente sobre avaliações quer de professores quer de alunos, sobre os resultados no ensino das últimas décadas.
E a este propósito é comum de há anos, quer a sucessiva alteração de modelos os mais diversos, quer as análises inacreditáveis que depois muitos fazem sobre o que vem sendo decidido/ alterado ao longo de anos e sobre os respectivos resultados.
E, claro, sempre e cada vez mais com bons resultados não é verdade, ao ponto de "sermos os melhores dos melhores" (??), ao ponto de desde há anos termos "as gerações as mais bem preparadas de sempre" (??).
Referenciar os responsáveis directos por cada decisão ao longo dos anos, por exemplo no âmbito do ensino em Portugal, e avaliar com rigor os resultados sem paixões ideológicas e histerismos, isso é que não.
Porque, opinião pessoal naturalmente, as responsabilidades deviam ser claramente identificadas, a avaliação dos resultados devia ser feita tendo em mente as consequências para a formação dos futuros adultos, e para o desenvolvimento do país, e corrigir o que houver a corrigir.
Mas é mais cómodo usar o habitual passa-culpas e grunhirem SEMPRE, desbaratámos.
Desgraçado Portugal, desgraçados dos meus netos e dos da sua geração. Tudo aponta para desgraça colectiva.
AC
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