quinta-feira, 14 de setembro de 2023

JOANA AMARAL DIAS (JAD)
Eis que, finalmente, o país discute o Conselho de Estado. Pena que seja pelas más razões. Pelos piores motivos. É que esta luta de galarós Belém/Bento pouco interessa aos portugueses, afogados nas prestações bancárias e na inflação.

Seria melhor que se preocupassem com o facto de ser uma Maçonaria ou uma Máfia, onde os seus membros gozam de múltiplos regimes de excepção e podem até não ter que responder à mão pesada da justiça. Tão pouco à sua cegueira. Sabia que estes conselheiros vivem acima da lei? Sobre isso, ninguém fala. Como aí todos vão ao pote, já guardam segredo e já não há fugas de informação. Mas já lá vamos.

Para já, diga-se em abono da verdade que Marcelo transformou esse órgão num arraial, convidando estrangeiros e outras atracções de circo, tornando-o num ringue para disputa de egos e poderios, por vezes quase num antro de alcoviteirice e calhandrice. Sobretudo, desde que começou o braço do ferro a reboque de galamba. Quanto mais impotente se sente, mais abusa.

Também é verdade que António Costa só se desagrada com a ruptura do sigilo nesse conclave quando lhe convém, e que tem zero capacidade de ouvir reparos, como já demonstrou, por exemplo, com o idoso que o criticou na rua. Que dois. Só se estraga uma casa - Portugal.

Mas vamos ao que importa: o Conselho de Estado é um fungo de tráfico de influências e deve extinguir-se. Já. Que importa a maledicência palaciana, os debates sobre a igualdade de género e etária na mais inútil instituição da República Portuguesa, ou mesmo as discussões fulanizadas sobre a dignidade de certa pessoa para pertencer ao clube?" Sepulte-se esta excrescência secular que só serve para distribuir prebendas e meter egos na engorda. Onde a suposta nata da nação fantasia com decisões colegiais, goza-se de regalias como livre trânsito; acesso a dados públicos; passaporte e cartão de cidadão especiais; porte de arma sem licença. Sabia? Inclusive, de uma imunidade absurda (mais ampla que a dos deputados), só exposta em 2011, quando uma petição apelou a Cavaco (então PR) para excluir Alberto João Jardim devido a dívidas ocultas de mil milhões (apenas saiu em 2015, só então perdendo essa prerrogativa que, durante anos, manteve-lhe suspensos vários processos graves). Este super poder é tipo carta do monopólio "livre da prisão": o membro suspeito apenas vai a tribunal quando deixar de ser conselheiro. Entretanto, é como se fosse impune e intocável. Uma cultura de privilégios babada pelas nossas elites párias e feudais, antagónica à democracia evoluída que tem a ética republicana, a transparência, a prestação de contas como pilares fundacionais.

Mas Marcelo, em vez de reconhecer este anquilosado tique luso, adicionou tralha. Inclusive declarou que a reserva seria apenas uma questão da consciência de cada elemento e não um estrito dever (já as actas permanecem restritas três décadas). Se o Presidente da Republica quer mesmo inovar e dar ares cosmopolitas, em vez destas afirmações ou em vez de tingir o órgão num escrutínio ao governo, pugne pela mudança constitucional e arrume com este jarrão oneroso de uma vez por todas.

Quanto a Costa, no que ao conselho de estado diz respeito, podiam seguir-lhe o exemplo. Afinal, se todos entrassem mudos e saíssem calados, por maioria de razão, depressa estado extinguir-se-ia. Silêncio. Que bênção.

Psicóloga clínica.

JAD escreveu este texto. 
Os sublinhados são da minha responsabilidade.
Apreciava o seu pai, mas não aprecio, nada, a jornalista JAD.
Mas creio que ela tem aqui pontos certeiros.
AC

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