domingo, 24 de setembro de 2023

GLIFOSATO, AMBIENTE e CERTOS ARAUTOS
O município de Idanha-a-Nova que é como quem diz, na realidade o presidente da Câmara Municipal, não apreciou os diferentes artigos recentemente saídos em jornais regionais e nacionais apontando aspectos ligados ao eventual excessivo emprego de glifosato em áreas daquele município/ Concelho.
Concretamente, um determinado estudo apontava a "Herdade da Fonte Insonsa" como sendo uma área onde se empregaria muito glifosato, herdade que na região se diz ter muita importância para o presidente do município. 

O município veio a público dias depois reafirmar a sua oposição ao uso de glifosato e fez o comunicado que reproduzo em baixo.

Face à divulgação de um estudo segundo o qual Portugal tem a maior concentração de glifosato entre 12 países europeus analisados, e onde é referido o concelho de Idanha-a-Nova, em nota de imprensa o Município esclarece que estranha "estes resultados e os critérios escolhidos para selecionar a Herdade da Fonte Insonsa, em Idanha-a-Nova. Alguém acredita que Idanha tem o índice mais elevado de glifosato da Europa?", questiona.

Em fevereiro de 2018, a Câmara Municipal promoveu um encontro com outras autarquias do país, alertando para o uso do glifosato e apresentando alternativas que passavam por maior monda manual e o uso de produtos biodegradáveis como o Katoun Gold, solução de origem natural.

No seguimento desse encontro, a Câmara Municipal de Idanha-a-Nova aderiu à Rede Nacional de Autarquias Sem Glifosato, promovida pela Quercus, abdicando da utilização de herbicidas com impactos na saúde pública e no ambiente;

"Neste sentido, a Câmara Municipal não utiliza glifosato em nenhuma intervenção que seja da sua competência. Além do corte regular das ervas daninhas, é aplicado um herbicida biológico nos espaços públicos, como ruas ou jardins;

"A autarquia tem, simultaneamente, estimulado que as mesmas práticas sejam aplicadas pelas Juntas/Uniões de Freguesia, para que a utilização de glifosato no controlo de vegetação seja erradicado na totalidade do concelho, tendo inclusivamente sido aprovado em Assembleia Municipal a não utilização de glifosato em Idanha-a-Nova;

"Além disso, é público que enquanto Bio-Região, a Câmara Municipal incentiva e apoia os produtores do concelho na transição, seja para o modo de produção biológico devidamente certificado, caracterizado pela não utilização de produtos químicos de síntese, seja para métodos agroecológicos e práticas reconhecidas internacionalmente;

"Entre as vantagens do modo de produção biológico, estão a produção de alimentos saudáveis e a promoção de práticas sustentáveis e de impacto positivo no ecossistema agrícola. Desta forma, preservam-se os solos e águas da contaminação por poluentes, com vista à salvaguarda do ambiente, da biodiversidade e da saúde geral dos produtores e consumidores;

"O facto é que em 2019, ano referente ao último Recenseamento Geral da Agricultura, da responsabilidade do Instituto Nacional de Estatística, o concelho de liderava os municípios do país relativamente ao total de superfície em produção de agricultura biológica das explorações agrícolas (totalizando 17.492 hectares);

"A proporção da superfície agrícola do concelho em modo de produção biológico era, nesse ano, de 20,7%, o rácio mais elevado apurado na totalidade dos 100 municípios que constituem a Região Centro e o 5º a nível nacional;

"Em relação às áreas de amendoal existentes no concelho, que causam alguma controvérsia, recordamos que são projetos de investimento empresarial privado. No entanto, motivados por esta autarquia, que tem colaborado em projetos como o TransFarmers, que resulta de uma candidatura ao programa ERASMUS, também os produtores de amêndoa estão a apostar em boas práticas e em soluções de sustentabilidade ambiental. É um caminho que a Câmara Municipal de Idanha-a-Nova tem acompanhado e deseja que resulte na conversão ao modo de produção biológico. Em implementação estão práticas para a regeneração de solos, uso eficiente da água, alternativas naturais aos produtos químicos, a proteção da biodiversidade e dos recursos naturais;

"A Câmara Municipal de Idanha-a-Nova reafirma a sua oposição à utilização de glifosato e incita as entidades governamentais, com responsabilidade nesta matéria, a adotar as recomendações da OMS, que classifica este produto como um potencial carcinógeno e apela à proibição da sua utilização;

"Mais ainda, a Câmara Municipal de Idanha-a-Nova, interessada em entender melhor os índices ambientais em todo o concelho, encomendou ao CoLAB Food4Sustainability, laboratório colaborativo na área da sustentabilidade ambiental, um estudo independente e credível que inclua monitorização de indicadores ambientais na Bio-Região de Idanha-a-Nova, nomeadamente o uso de pesticidas (onde se inclui o glifosato)"
.

O comunicado supra foi remetido para a comunicação social porque um estudo da organização Pesticide Action Network e pelo Grupo dos Verdes/Aliança Livre Europeia, mostrou que a Herdade da Fonte Insonsa, em Idanha-a-Nova, é um dos locais com maior concentração de glifosato em Portugal como aliás acontece em outros países e dizendo por exemplo que a concentração de glifosato detectada continha três microgramas por litro, ou seja, 30 vezes mais que o limite legal, tendo sido a mais elevada concentração de glifosato detetada nas amostras analisadas no estudo.

Aparentemente parece que Portugal não está nada bem cotado no que respeita a concentração tóxica para consumo humano do herbicida glifosato em cursos de água doce. O facto é que a UE continua a autorizar a sua utilização, pelo menos até ao próximo dia 15 de Dezembro.

Mas se o edil de Idanha-a-Nova se sentiu picado e fez o comunicado supra não tardou a levar contra-resposta.

E chamaram-lhe à atenção, por exemplo, para várias muito discutíveis  transformações no tecido agrícola de rega no concelho e apontam designadamente a introdução da monocultura intensiva de amendoal.

Pela minha parte, e conhecendo alguma coisa do distrito de Castelo Branco e do concelho de Idanha-a-Nova nada me espanta isto e muito mais coisas.
Quando vejo durante anos o gasto de muito mas muito dinheiro em promoções e propaganda, dinheiro cujas contas parecem continuar a levantar muitas dúvidas e questões diversas, fico sempre desconfiado.

Práticas ambientais sustentáveis, visões estratégicas, Bio isto e aquilo, estratégia que visa apresentar o concelho como uma Bio-região, marketing territorial, agricultura sustentável, produção biológica, etc., e quando depois olho a realidades nos terrenos do concelho e para a vila sede do Concelho ou me lembro do estranho desaparecimento da fábrica de queijos em Idanha-a-Nova, fico muito pensativo. 

Mas deve ser problema meu.
António Cabral

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