quinta-feira, 7 de setembro de 2023

P R O T E S T O

Protesto pela Floresta do Futuro

O que era esperado continua a acontecer. A destruição de áreas rurais, comunidades e territórios continua após décadas de avisos, de pareceres, de discussões, de traições e desprezo. O estado de degradação da floresta portuguesa continua a ser condição fundamental para a catástrofe: abandono, monoculturas industriais, espécies invasoras, degradação dos serviços de protecção e vigilância, desinvestimento no interior. Em cima disto, a seca engole o país devido à crise climática e o calor torna tudo mais frágil. Os incêndios que ocorreram este ano em Odemira, Proença-a-Nova, Monchique, Cadaval, entre outros, são a manifestação disto. Em ciclos cada vez mais curtos o nosso país está exposto a incêndios catastróficos que têm responsáveis.

Olhamos para o futuro e não podemos ignorar que o que está a acontecer é exactamente o que governos e celuloses impuseram: mais monoculturas, mais eucaliptos, mais incêndios, mais abandono, despovoamento, alterações climáticas, desertificação e perda de biodiversidade. Mais monoculturas de eucaliptos, invasoras e espécies de crescimento rápido com apetência pelo fogo substituem a floresta autóctone, acelerando este ciclo. E o clima muda, fica mais quente, mais seco, com secas, verões mais longos e menos dias de chuva. O deserto está a ganhar. Esse também é o plano dos governos e das celuloses. Não têm outro plano e rejeitam qualquer alternativa.

As medidas que não revertem este ciclo, aceleram-no. Precisamos de floresta como a primeira barreira contra a seca e desertificação. Para isso temos de mudar a paisagem. Não daqui a décadas, agora. Temos de responsabilizar as celuloses que nos trouxeram até aqui, a The Navigator Company e a Altri Florestal, e os governantes que lhes estenderam a passadeira - de todos os partidos. Não as travaram e entregaram-lhes o futuro do nosso país. Não podemos aceitar mais isto. As celuloses têm de pagar a destruição do passado e a atual.

Responsabilizamos também as empresas portuguesas que continuam a agravar a crise climática, como a Galp e a EDP, que planeiam continuar as suas atividades destruidoras e extrativistas durante décadas, lucrando como nunca e rejeitando os cortes de emissões necessários para travar o caos no clima. É urgente assegurar as necessidades das pessoas, o equilíbrio ambiental e a saúde pública e não os negócios de sempre.

Precisamos menos ignições e menor área ardida. Isso significa ter um cadastro florestal total do território nacional, e o que está abandonado tem de ser assumido pelo Estado. A áreas abandonadas têm de ser geridas, não pelas estruturas caquéticas atuais, mas por uma instituição criada para o efeito. O rumo seguido durante décadas no mundo rural em Portugal foi feito em oposição aos pequenos proprietários e à diversificação rural, agrícola e florestal, mantendo propositadamente preços baixos e pobreza permanente. Uma floresta de futuro tem de ser construída com intervenção direta do estado, mas de um estado que rejeite ficar nas mãos de uma indústria devastadora para o país, como é a das celuloses.

Temos de deseucaliptizar Portugal. Precisamos de tirar 700 mil hectares de área de eucaliptal no país esta década - que corresponde fundamentalmente ao que tem sido abandonado - e transformar essas áreas em floresta e bosque resiliente que aguente o futuro mais quente e mais seco que a crise climática produziu. Temos fazer isto acontecer para travar o deserto.

No dia 3 de Setembro saímos à rua, em Lisboa, no Porto, em Coimbra, em Odemira, na Figueira da Foz, em Viseu, em Oliveira do Hospital, em Arganil, na Sertã, no Cartaxo, em Proença-a-Nova, em Vila Nova de Poiares, ... e em outros territórios porque as promessas e os remendos dos últimos anos nunca cortaram a lógica que nos trouxe até aqui e que nos levará, se não nos rebelarmos, a abdicar do território em que vivemos para que se torne uma zona incapaz de sustentar populações, incapaz de defender vidas. Saímos à rua por um futuro muito além da lógica redutora dos ciclos económicos e políticos. Basta
.

Li isto, duas vezes, calmamente.
Sublinhei algumas partes.

Antes de mais, não sou silvicultor, agrónomo, não tenho acções de nenhuma empresa, não sou proprietário de extensões de eucaliptos/ sobreiros/ castanheiros/ pinheiros/ nogueiras/ oliveiras/ vinhas/ outros produtos agrícolas. 
Sou co-proprietário, com a minha mulher e respectivos irmãos, de um terreno de 0,752 hectares (junto da aldeia de Monsanto, que era da minha sogra, à venda desde 2010, e que ninguém compra apesar do preço ridículo que pedimos há anos), em que mais de metade tem penedos e pedras, numa extrema está um velho palheiro meio desmoronado, e o restante tem talvez 3 a 4 dezenas de eucaliptos que, quando já estão mais crescidos, são cortados em toros pequenos para juntar ao azinho e outras espécies, para gáudio das nossas lareiras na invernia da Beira-Baixa.
As ervas, folhas, e mato são rapados de dois em dois anos para prevenção de incêndios.

Isto dito, e apesar da vivência de décadas com as quintas (e seus problemas, antes e depois do 25ABR74) de um primo direito (engenheiro agrónomo) da minha falecida sogra, e ter um amigo muito conhecedor do mundo agrícola e florestal e dos mercados abastecedores e do ministério da agricultura logo a partir de 1974, em bom rigor não percebo NADA de florestas e agricultura.

Mas sei de experiência própria, vivida, o que é abandono, nas Beiras, Trás-os-Montes, Alentejo e Algarve. 
Sei bem o que é fuga de pessoas para a orla costeira, por exemplo no respeitante às Beiras.

Soube de algumas consequências da chegada dos primeiros fundos da Europa - oh António, a vinha da "Pereira" continua a dar bom vinho mas eles dão-me mil contos para a arrancar . . . .
Conheço o caricato de um velhote daqui da aldeia já não ter conseguido identificar/ encontrar uma pequena quinta que a família terá para os lados de Vila Velha de Ródão.
Sei bem onde havia vigilância das florestas e sei o que há agora (Beira-Baixa)
E podia continuar o dia todo, sem parar!

Pessoalmente, entendo que há muito que protestar, sobre as nossas florestas, sobre o nosso mundo agrícola, e muito mais na sociedade portuguesa. 
Fico pela floresta e pelo mundo agrícola.

Indo ao protesto a que alude o radical cartaz supra.
Reparei que, como em relação a tantas outras coisas e temas em Portugal, houve grande alarido a anunciar mais um protesto mas, depois, como em relação às touradas, ficam-se quase só pelas touradas no leito!
Imagens e notícias sobre os grandes protestos?
Que proporção entre os anúncios mediáticos e a concretização? Hummmm!

A desertificação, a fuga das pessoas para a orla costeira, o abandono do trabalho agrícola porque nomeadamente não pago como devia ser, são tudo aspectos que têm origens.

Mas quando continuamos apenas com folclore de uns grupinhos que querem decidir da minha felicidade, quando o designado mais alto magistrado da Nação continua com as crescentes parvoíces e irritações, quando todos querem é falar para um microfone, não vejo como se altera o que respeita à floresta. Floresta para a qual as políticas deixam muito a desejar, mas há anos!

A luta de certos grupos de pressão cuja expressão/ representatividade  na sociedade é muitas vezes mais que de duvidosa expressão, conduz rigorosamente a NADA de palpável. 

E a nada de positivo conduzem as acções e inações e compadrios dos poderes públicos, os actuais, e os anteriores.
Não saímos disto.
AC

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