sábado, 25 de novembro de 2023

A PROPÓSITO do 25 de NOVEMBRO
A propósito desta data, e concretamente do que na altura em 1975 aconteceu de facto e do que ficou escondido e disfarçado, e das celebrações que hoje alguns quiseram levar a efeito, confesso que não tenciono perder muito tempo. Umas linhas apenas.

Não celebro, nunca celebrei o 25 de Novembro. Nem tenciono algum dia celebrar. 
Celebro o 25 de Abril. 
Alguns anos houve em que, estando na zona de Lisboa, passeei pelo Marquês do Pombal, desci e subi a avenida da Liberdade. 
Tenho imensas fotografias disso. 

Celebro o 25 de Abril e, para mim, o 25 de Novembro colocou a democracia e a liberdade definitivamente nos carris.
Falo do 25 de Abril por exemplo com os meus netos.
Interesso-me e muito pelo Portugal democrata, pela nossa sociedade.

Discordo, sempre discordei, de determinadas acções. 
Ajudei amigo que poderia vir a ser enrascado. 
Nada estou arrependido.

Creio que quem é intelectualmente honesto reconhecerá que "uma esquerdalhada radical" tentou nessa altura o controlo político-militar do país. 
A esquerdalhada menos radical não creio que se tenha incomodado e ficou a ver como paravam as modas, mantendo contacto permanente com quem só para dar um dos vários exemplos, tinha ligação directa a forças na margem Sul do Tejo.

Desconheço o que se passou numa famosa reunião em Tancos. 
Mas tenho a sensação de que, para lá de ser evidente pelos factos subsequentes que uma certa esquerda militar perdeu poder, gostava de saber todos os contornos, todos os discursos e decisões do que lá se passou. Nunca se saberá, isso e muito mais. 

Não vem exactamente a propósito, mas lembrei-me de repente do branqueamento que nos últimos anos vem fazendo a família do comandante da fragata que em 25ABR74 se postou em frente ao Terreiro do Paço. Voltando ao PREC.

Há quem considere que é da mitologia que Portugal tivesse corrido um risco de cair num regime comunista, que nas vésperas do 25NOV75 o país estivesse à beira de ser tomado pelo extremismo.
Os patuscos são assim. 
São assim e até se esquecem do que Melo Antunes disse um dia a jornalistas estrangeiros.
Uns Patuscos que, presumo, sabem que existem pessoas, de grande dignidade na área militar e que viveram essa época, que escrevem sem sombra de dúvidas que houve perigo de ditadura comunista, e sabe-se perfeitamente que a isso se opuseram os "9", e o seu famoso "Documento dos Nove".

Há quem, por outro lado, considere que esses riscos foram reais.
Em ambos os lados há patuscos.
Em ambos os lados da barricada, creio, ainda hoje escondem certos factos.

Só me falta qualquer dia ver alguém vir negar que, no PREC, não houve bombistas de todos os lados, sabotagens diversas inclusive económicas, violências contra partidos de todas as cores, sedes partidárias atacadas, comícios não de esquerda proibidos, os casos República e Renascença, prisões arbitrárias do então COPCON com mandados em branco, ocupações selvagens de casas e propriedades, esvaziamento parcial de paióis em Beirolas e subsequente distribuição alargada de armamento a civis e certa gente, etc.

Depois argumenta-se, e é verdade porque não se conseguiu comprovar, nenhuma implicação factual do partido A ou B pode ser confirmada. Mas ficaram certos pequenos factos e sensações, ou não?
É, foi, mais um típico milagre português. 
Eu chamo-lhe retirada estratégica, do tipo - não os mandem sair.

Tal como num tribunal, não tendo havido reunião de provas decisivas, o réu foi mandado para casa. 
Mas não é garantido que não tenha cometido um crime.

Pessoalmente sempre considerei e mantenho, Melo Antunes fez bem em ter ido à televisão e dizer o que disse. E fazer o que fez e foi fazendo.
Mas isso não desculpabiliza nada, nem ninguém. Foi uma acção decisiva, e ainda bem que foi tomada.

Qualquer pessoa intelectualmente honesta poderá concordar que, na data em causa, a linha extremista de esquerda que até tentou que não houvesse eleições em 25ABR75, saiu derrotada. 
Ou não houve ortodoxos desse tempo, entretanto reconvertidos aos salões de Bruxelas e Estrasburgo, que nisso porfiaram?
Sabem bem que isto não pode ser confirmado em tribunal.
São até bem capazes de ter a lata de o negar. Muito democraticamente.

Oxalá se comemore dignamente o 25 de Abril de 2024.
25 de Abril sempre, pelo que trouxe de positivo e fazia muita falta na sociedade portuguesa.

Mas:

- A continuação de certas acções pelos que se acham donos disto, engordarão Andrés e quejandos. 
Era bom que pensassem nisso.

- A continuação de certas acções políticas, a continuação de descaradas políticas, a continuação de enorme desfaçatez e pouca vergonha e completa ausência de sentido de Estado e sentido de responsabilidades, engordarão Andrés e quejandos.
Era bom que pensassem nisso.

- Deixem-se de armas de arremesso, de ambos os lados das deploráveis barricadas. Era bom que pensassem nisso.

Em síntese, deixem-se de não pensar seriamente e a longo prazo no futuro dos filhos, netos e bisnetos de todos nós. De TODOS NÓS.
Acabem com a pouca vergonha.

António Cabral

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