quinta-feira, 10 de outubro de 2024

COMUNICAÇÃO   SOCIAL

Se percebi correctamente as notícias que por aí circulam, o líder parlamentar do BE atirou-se ao actual PM porque, na opinião do deputado do BE, Luís Montenegro não só atacou a atividade jornalística como convive mal com o escrutínio.

As notícias referem que Luís Montenegro na abertura da conferência sobre "O futuro dos media", em Lisboa, terá afirmado designadamente isto - "Uma das coisas que mais me impressiona hoje, quero dizer-vos aqui olhos nos olhos, é estar com seis ou sete câmaras à minha frente e ter os jornalistas a fazerem-me perguntas sobre determinado acontecimento e ver que a maior parte deles tem um auricular no qual lhe estão a soprar a pergunta que devem fazer. E outros à minha frente pegam no telefone e fazem a pergunta que já estava previamente feita", declarou o primeiro-ministro, acrescentando que os jornalistas "não estão a valorizar a sua própria profissão",

É comum ouvir dizer, é comum ver escrito, que uns têm boa imprensa, outros têm má imprensa.

Respeitando, sempre, a opinião de outrem, concordando ou discordando, a afirmação supra que tanto sai da boca de comentadores como de políticos como de jornalistas, parece legitimar o direito de se questionar a isenção dos jornalistas em geral, sendo certo que, individualmente como cidadãos, têm o mesmo direito do que eu de defenderem o que lhes parece mais adequado.

Mas, lá está, quando se passa os olhos por jornais e revistas e mesmo escutando TV's, pergunto é sempre muito clara a distinção entre, opinar (legitimamente) e haver portanto artigos de opinião, e haver apenas o rigorosa relato noticioso de factos/ acontecimentos/ eventos? Sem interpretações?

Comungo exactamente da mesma opinião dos que consideram que - "o jornalismo tem o dever de informar, pode incomodar intervenientes políticos para cumprir esse dever, tem o dever do escrutínio e isso pode incomodar o poder político".

Sempre considerei e há anos que aqui o escrevi e há muitos mais que o defendo oralmente: não se trata de - pode incomodar - mas sim - tem que incomodar.

Como concordo em absoluto que os jornalistas têm o dever de 
perguntarem o que quiserem em cada momento, escrutinarem os poderes públicos todos, confrontarem todos os titulares de órgãos de soberania, sem excepção. Como também dirigentes / elites.

Sempre detestei, e desde o antigamente pois comecei a vida activa a meio dos anos 60 do século anterior, o respeitinho serôdio porque sim!

Naturalmente, para mim também, em cada momento os jornalistas não devem ser impedidos de fazer o seu trabalho.

É a partir daqui aqui que parcialmente divirjo de muitos.
É por demais evidente e de há muito tempo, que a formação de jornalistas no presente me parece deixar um bocado a desejar. 
Estou enganado?

Eu tenho a noção de que cada vez mais as redações querem estar em cima do acontecimento, competir com os alertas do inarrável (opinião pessoal, naturalmente) CM.
E o que se vê nos diferentes canais noticiosos TV é, muitas vezes, confrangedor (opinião pessoal, naturalmente).

É perfeitamente compreensível com o avanço da tecnologia e com a premência em relatar quase antes de uma coisa ter de facto acontecido, que uma redação (jornais, TV´s) esteja em contacto permanente/ directo com os jornalistas/ repórteres destacados algures.
Não compreender isto releva de mais do que ignorância, burrice.

Mas querer convencer que auriculares servem apenas para isso, para comunicar com a "régie" e facilitar coordenação, releva da habitual postura arrogante inerente aos vários que se têm na conta de moralmente superiores, e que é a de nos considerar burros.

Basta atentar em várias coisas para perceber porque a comunicação social vive período complicado, já há bastante tempo.
Aliás basta recordar e se a memória não me atraiçoa, que a "classe levou 19 anos entre dois eventos/ congressos (creio se chamava assim).
Eloquente do estado da "coisa"!

De cada vez que se é assertivo pimba, carimbo de desrespeitador da classe, e outras coisas do género.

Também na comunicação social coexistem "primas donas várias", muito susceptíveis.
Advogam para os outros mas fica a sensação de que se esquecem que também se lhes aplica, como a todos nós - ouvir e respeitar opiniões diversas e diferentes.
Isto não é um ataque à comunicação social, à classe jornalistas.

Já o escrevi muitas vezes, repito-me: não existirá democracia saudável, equilibrada, decorrente dos normativos constitucionais, sem uma comunicação social livre e independente.

Como dizia o pantanoso, . . . é fazer as contas.

Que alguns queiram amansar a comunicação social, não tenho dúvidas.
Mas não me venham com a treta de que isso é um vírus apenas à direita do PS.
A história destes 50 anos é bem eloquente.

Quanto a serviço público, se não me esquecer, escreverei alguma coisa a propósito destas "maravilhosas" medidas do governo anunciadas para a comunicação social, e particularmente sobre a RTP e o que estão a desenhar para ela.

Serviço público, jornalismo independente, rigoroso, e que pense sempre no quão indispensável é o contraditório. Pensado, estudado, preparado, com educação, mas com assertividade, e em tempo oportuno.

Registei quão eriçados ficaram uns quantos por um dado jornalista ter sido duro e assertivo durante uma entrevista com uma conhecida figura do PS.
Como registei que a entrevista de ontem ao PM foi feita por uma apoiante. Devia ter sido feita exactamente pelo tal jornalista.

Para terminar, vai-me ficando a ideia que este governo liderado por Luís Montenegro percebeu bem melhor do que anteriores governos, que é muito importante a comunicação do governo.
Terão percebido mesmo? Veremos.

Quanto ao que disse sobre os auriculares e telemóveis, se tiver coluna vertebral não dirá mais nada, e que os eriçados conselhos de redação  fiquem com os seus comunicados de ofendidos.

A comunicação social do presente tem de servir-se da tecnologia. PONTO.
Mas não me venham com a treta de que não usam a tecnologia para suprir a fragilidade e algumas vezes incompetência de entrevistadores ou repórteres.

(o caso dos telemóveis, é gritante; o mesmo se passa nos debates parlamentares, é ver membros dos sucessivos governos e os sucessivos deputados, a lerem constantemente o que lhes é enviado)

António Cabral (AC)

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