quarta-feira, 5 de fevereiro de 2025

ALMOÇOS, …………. o costume
Esteve cá a encomenda holandesa que os EUA designaram para secretário-geral da OTAN. Para seu criado, portanto (opinião pessoal, naturalmente).

A inarrável criatura foi recebida pelo actual PM e pelo inquilino em Belém. Até aqui nada de mal, nada de extraordinário.

Ainda não há notícia sobre se, eventualmente, o holandês teve de ir ou não ao hospital depois de cumprimentado por Marcelo, que é perito em deslocar ombros e pulsos às pessoas que cumprimenta de uma forma. . . . . como dizer, caricata? Talvez estúpida, não?

Aquilo que se designa por almoço de trabalho e é normal em todo o mundo civilizado, é um almoço/ encontro que deve servir principalmente para conversar, abordar assuntos e temas de interesse comum, ou para explicar determinadas situações.

Em Portugal, nos Palácios de Belém, S.Bento ou em Sintra, os ricos (à nossa conta) titulares de órgãos de soberania nunca se privam de ofertar uma lauta almoçarada aos convidados. Empanturram-nos.

Além disso fazem com que, enquanto em Portugal, os convidados/ visitantes sejam transportados nos mais luxuosos Mercedes ou BMW.
Transportá-los um simples Audi 4 ou num VW Passat mesmo que limpo por dentro e bem lavado por fora, seria um verdadeiro insulto e daria uma triste imagem de Portugal. Certo?

Naturalmente que os luxos, as galas, as cerimónias, devem existir, cumprir-se, não se devem perder nem essas tradições nem esse cerimonial, e para isso e para as ocasiões de Estado existe e bem o Palácio da Ajuda. Assim deve ser, SEMPRE.

Agora, nas diversas circunstâncias de, política interna, de relacionamento entre órgãos de soberania, de política externa, de relações bilaterais, portanto sempre questões de trabalho, é impensável para os cagões (quer os actuais quer os anteriores e assim acontecerá com os futuros titulares de órgãos de soberania), terem reuniões em que as almoçaradas não sejam o destaque.

Alguma vez essas criaturas desceriam do seu pedestal arrogante, e se sentariam à mesa com, por exemplo este holandês arrogante, e lhe servissem umas excelentes sandes ou de bom queijo da serra, ou com uma belíssima omelete, ou salmão fumado fatiado, acompanhadas de um bom copo dos nossos excelentes vinhos?

Ná, isso seria uma piroseira, nada digno de um Presidente da República (mudar de fato de banho em público ou fazer de calceteiro já está bem) ou de um PM, ou de um ministro. 
Ná, nada dessas modernices.

Essas coisas são para os saloios dos nórdicos por exemplo!

Claro que o actual PM, jactante como é, tal como Marcelo, levaram com a lata e o desplante do holandês a fazer declarações públicas sobre a nossa defesa nacional (???) enquanto que, creio, em Espanha, o tipo não abriu a boca em público.
Porque será, porquê a diferença? Pensem nisso.

Estas coisas fazem-me recordar alguns dos muitos episódios que viveu o meu melhor amigo militar e que aqui muitas vezes tenho referido, e que é um almirante reformado (não, não é candidato à Presidência).

Em Haia:
- o almirante superintendente do material da marinha holandesa, com quem esse meu amigo conviveu e falou frequentemente durante quase dois anos, almoçava regular e habitualmente numa cantina da marinha holandesa, "self-service", onde também almoçavam todos os militares holandeses (praças, sargentos, oficiais, militarizados) daquela área e alguns estrangeiros como esse meu amigo.
E depois de se servir, lá ia o almirante sentar-se numa das muitas mesas com o seu prato descartável bem recheado de comida, mais o seu copo de esferovite com água ou coca cola, como todos! 
Depois ia à máquina buscar café.

- por três ocasiões ao longo do tempo, o meu amigo almirante foi convidado a almoçar com o almirante holandês, na dita cantina, mas num reservado que mais não era que um canto da enorme sala semi vedada com um biombo.
Porquê esse simplório reservado?
Porque o almirante recebeu pessoas de um estaleiro holandês, noutra ocasião de um estaleiro belga, noutra ocasião, cientistas de um departamento estatal.
E nessas ocasiões as mesas tinham toalha de pano, guardanapo de pano, louça, copos de vidro, talheres a sério, a refeição era servida por pessoal adequado. E serviram bom vinho francês.

- numa ocasião, o almirante holandês ofereceu um requintado e fantástico jantar, de "trabalho", num sofisticado restaurante, mais do que requintado, requintado pelo menu, requintado pelo serviço, requintado pelo traje, requintado devido a alguns dos convidados.
 
O meu amigo almirante que aliás já o sabia de outras experiências europeias ao longo dos anos (Alemanha, França, Noruega, Reino Unido, Bélgica) confirmou ali mais uma vez, tal como no final das reuniões mensais em que durante esses quase dois anos participou em Antuérpia, que lá fora são práticos, são directos, são pragmáticos, e quanto a refeições quotidianas de trabalho, são simples e sóbrios, quer nos ambientes, quer quanto ao de que se alimentam.
Mas também sabem comer com talheres, com baixela, com requinte.
 
Também nisto, a par de uns serem protestantes e outros católicos, está uma pequenina parte da explicação para o estado deste tão maltratado Estado. 
A pesporrência, a arrogância, a vaidade parola, a soberba latina.

Mas um outro exemplo quero deixar, ainda no campo gastronómico, mas também quanto a "requinte", a saber estar, ao sentido das proporções, e sobretudo à falta de quase tudo em certos "bimbos".

Um caso intra-muros contado/ recordado há vinte anos mas passado mais atrás.
Um caso passado nas ilhas.

Um dia, depois de uma sessão especial, musical, uma espécie de sarau, depois de jantar, em que estavam presentes como convidados do anfitrião muitas entidades civis e militares e pessoas importantes da sociedade da região, um muito conhecido político e que na altura tinha uma posição política muito proeminente e era conhecido por ser muito frugal e de se deitar sempre cedo, no fim desse sarau para que também fora convidado, aceitou com um misto de cerimónia e protocolar enfado disfarçado de cansaço, o convite de uma dada entidade para cear na residência oficial dessa entidade, logo adiantando que não se poderia demorar muito.

Esse conhecido político ficou embasbacado e de certo modo quase agoniado quando, já noite algo entrada, deparou com a tal "dita ceia" onde, para seu horror, visualizou um pouco de quase tudo pouco ou nada apropriado para uma tardia ceia requintada e simples, e onde se incluíam bem vistosos por exemplo, a popularmente chamada "punheta" de bacalhau com grão, e pézinhos de coentrada. 
Para ceia (???) não estava mal.

O dito político recordou /contou esta "cena" rindo-se, e salientando que não se demorou lá mais do que 20 minutos. E nada comeu!
E claro, ficou com uma óptima opinião sobre o anfitrião da dita ceia!

Como disse o "outro" um dia,  por cima só rendas . . . . . . .
António Cabral

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