MEMÓRIAS
O nº 76 da Visão História/ Abril/Maio de 2023, páginas 50 a 57 traz um artigo/ testemunho de Pedro Lauret intitulado - "Guiné, o princípio do fim".
Este testemunho, trouxe-me à memória muitas coisas e nomeadamente todo o ano de 1973 que ambos vivemos na Guiné, onde se inclui aquela fase concreta e trágica que ele relata.
Tenho ainda boa memória mas, naturalmente, não me lembro 100 % de tudo e pode acontecer que, quer em relação aos meus tempos de África 29OUT1971 - 28JUL1973 e que aqui me importa agora, quer em relação a outros tempos da minha vida privada e profissional, possa escapar-me um ou outro detalhe ou ter hoje alguma dúvida sobre acontecimentos passados.
Ele poderá confirmar, ou o Lupi se ler estas linhas, mas se a memória não me atraiçoa muito, o NRP Hidra para onde fui mandado cumprir uma comissão de serviço e ali fui oficial imediato do meu estimado então comandante o então 1º Tenente Blanc Lupi, (primo do cavaleiro) esteve no rio Cacine naquela zona, depois do NRP Orion ter participado em tudo aquilo que está descrito na Visão. Foi uma missão no rio Cacine que recordo ter sido complicada.
Mas o relato do Pedro Lauret fez recordar-me outros eventos e outras datas. Dois ou três exemplos.
Relativamente à minagem da estrada para Binta em Maio de 1973, o meu navio foi rio Cacheu acima poucos dias depois e, mais uma vez se a memória não me atraiçoa, creio que embarcámos pessoal do destacamento de fuzileiros comandado pelo saudoso camarada de armas Alves de Jesus.
Recordo, também, ter fotografado vários dos nossos helicópteros Allouette a passar sobre o Cacheu, e rumo a Norte!!!!!!
Recordo, também, termos recebido a bordo quem tinha vindo de Norte, e confessar-nos na câmara de oficiais - tenho os pés todos f******!
Recordo, também, os últimos dias de Março de 1973, tinha eu vindo a Lisboa creio que por uma semana, e estava cá há dois dias quando o primeiro avião Fiat foi abatido.
Recordo, também, que não muitos dias antes de 20 de Janeiro de 1973, com o navio atracado em Ganturé, ouvi (eu e outros) de boca importante e já não entre nós - "se tivermos sorte qualquer dia o Amílcar desaparece".
Passaram poucos dias, e Amílcar Cabral foi assassinado naquele dia 20. Felizmente há quem se recorde bem deste período histórico.
Recordo, também, com saudade, camaradas de armas com quem convivi naquele período em África.
Infelizmente, alguns já nos deixaram, como é o caso do Coelho Rita, então comandante do NRP Orion, com quem convivi muito em Bissau pois ele era então um solteirão inveterado e eu solteiro geográfico.
Recordo, para terminar, o mês de Maio de 1973 e, particularmente, o final do dia 19, quando pelas 2340 horas navegando rio Cacheu acima, o navio foi atacado por Bombordo.
Evento que anualmente aqui recordo.
Evento que me marcou para toda a vida, evento de guerra em que, com a infeliz excepção de um militar Comando, nesses dia ninguém mais morreu, tendo ficado feridos sem gravidade alguns militares da guarnição.
Deixo fotografias da época nomeadamente a do NRP Hidra:
1ª - diferentes actividades no rio Cacheu,
2ª - descrição sumária do navio,
3ª - a navegar no rio Cacheu
4ª - no plano inclinado dos estaleiros navais em Bissau, a reparar os estragos decorrentes do ataque de 19 de Maio de 1973.
Parece que foi outro dia.
António Cabral
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