sexta-feira, 23 de fevereiro de 2024

Militares e civis - essência e coincidência.

Na tarde de 10 de Abril de 1997, um dos meus três grandes amigos civis (tenho 3 ou 4 grandes amigos militares) dizia, numa cerimónia pública - 

"As sociedades distinguem os militares, não por razões de deferência temerosa, mas como forma de reconhecimento à diferenciada função em que se empenham, de forma comumente disciplinada e previsível. Esta opção de vida por um serviço colectivo é valorizada por uns, inutilizada por outros, mas ninguém fica indiferente à realidade factual que ela encerra e que, no mais recôndito, alude ao conceito de nacionalidade, âmbito de particular relevância na vida dos homens de todos os tempos.
Sendo certo que toda a Nação tem o problema intrínseco da sua defesa, esteja ou não organizada politicamente em Estado-Nação, os militares são a certeza formal da sua possibilidade e as sociedades sempre aceitaram esta especialização dos civis, como forma de garantir a própria organização e eficácia de um sentir colectivo.
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Sempre isto se esperou dos militares, e sempre isto eles souberam dar: fidelidade a uma causa através da garantia de um propósito.
Aceita-se que se faça a distinção entre militares e civis, talvez melhor entre paisanos e militares porque estes não aparecem desfalcados de cidadania, e não convém à natureza dos factos, identificá-los como uma espécie de casta à parte..........os militares são um conjunto diferenciado de nós todos, motivados para a salvaguarda da colectividade de que são membros e para a constituição da qual contribuíram com a sua intrínseca dignidade. É um empenhamento na coisa pública que a usura do tempo, até na sua vertente ideológica, não destrói ou arruina. 
E esta verdade chega até aos que gostam mais de ouvir do que compreender.
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Mas ao Camões de "mudam-se os tempos/ mudam-se as vontades" sucedeu-se hoje a "mudança mudada em permanente mudança", o que leva muitos a lançarem pela borda fora da vida, não só as referências mas as permanências, sem as quais soçobra a própria vida comunitária.
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Cada qual, deve conscientemente, fazer o possível para se informar como vive o País, como e de que vivem as suas classes, quais os objectivos de cada grupo no contexto da sociedade.
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Ninguém pode estar contra si mesmo, nem contra os seus interesses.

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Revisito periodicamente a brilhante comunicação então feita pelo meu infelizmente já desaparecido amigo, e interrogo-me, sempre com crescentes dúvidas, sobre os fossos que cada vez mais cavam em nosso redor, à maioria dos portugueses, militares incluídos.

Realço a frase do meu amigo - ....."e esta verdade chega até aos que gostam mais de ouvir do que compreender".

Em tempos escrevi - Temo que nos últimos anos já nem ouçam, quanto mais tentarem compreender. Até quando?

Olhando aos últimos 10/12 anos já tenho a certeza: 
- Nunca ouviram, nunca quiseram ouvir.
- Nunca tentaram compreender. 
- Têm-se consumido com, vacuidades e desprezo pelos militares.
- Proferem discursos grandiloquentes e vazios. 
- Tudo isto se vem passando do topo da hierarquia Constitucional para baixo; refiro-me aos sucessivos titulares de órgãos de soberania, que sempre demonstram pela sua postura desconhecerem o que é soberania. 
- Sempre arrogantes e ufanos dos seus cursos e mestrados de estratégia  e ciência política, e do comentário em institutos, OCS, conferências.
- Sempre contentinhos das suas constantes viagens de Falcon para os corredores alcatifados Europeus, onde rastejam dóceis, agradecidos e subservientes, vindo depois a palrar dando-se ares de estadistas. 

Como hoje estou a verificar. Coitados e coitadas

Terão visto, anos atrás, aquele general Iraquiano a palrar frente a câmaras de TV e vendo-se depois aparecer no fundo da imagem os carros de combate americanos?

António Cabral

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