terça-feira, 20 de janeiro de 2015

A propósito da Base das Lajes: qual a actuação dos políticos portugueses?

1. Tudo indica que os EUA vão, a muito curto prazo, proceder a uma drástica diminuição de meios humanos e materiais na base das Lajes, melhor dizendo, na área maior da BA nº4 adstrita ao uso directo pelos americanos. Passar a ser, até um dia, um simples posto de gasolina, como terá dito o embaixador dos EUA acreditado em Lisboa. Sendo uma futura realidade, é uma lamentável e pesporrente frase.
2. A estadia dos americanos na Ilha Terceira tem, por trás, o formalismo do acordo de defesa que se conhece, e que tem contornos vários, e em anexo, laborais, militares, etc. E poderá ter tido já actas secretas, terá sido cumprido numas coisas, não em outras.
3. Aparentemente, a redução abrupta agora revelada reflecte uma decisão unilateral por parte dos EUA. Tudo, respeitante a um acordo existente, que seja decidido unilateralmente é criticável sem apelo nem agravo, e deve ser por isso repudiado ao mais alto nível. Pequeno País, ainda assim deve mostrar que tem dignidade soberana.
4. A existência da infra-estrutura na ilha da Terceira, confere a Portugal uma importância geo-estratégica muito importante. Importância que devia ter sido sempre acautelada pelos sucessivos governos da República desde 1951, e devia ter estado sempre presente em concreto nas cabecinhas dos sucessivos governos regionais. A importância não desaparece, pode em dada altura ser secundarizada como agora, mas está lá, e os Açores juntamente com a Islândia são uma linha de defesa avançada no Atlântico, uma linha de apoio. Sempre.
5. A existência dos americanos na ilha significa directamente que se constituem como um dos principais, porventura o segundo, empregadores na ilha; isso reflecte-se no comércio, na restauração, nas centenas de postos de trabalho ocupados por Terceirenses dentro da base, no arrendamento de casas, etc.
6. Estou convicto que os sucessivos governos regionais dos Açores desde a queda do muro de Berlim sabiam perfeitamente que o poder negocial dos americanos iria por isso gradualmente aumentar. O que fizeram para acautelar o futuro?
7. Estou convicto que tudo continuou mal com uma célebre reunião pós-PREC, onde estiveram 4 ou 5 pessoas apenas, uma delas infelizmente já desaparecida, e talvez deles o único homem estadista e de craveira intelectual impares.
8. Todos os governos regionais dos Açores, como todos os sucessivos governos da República tinham a obrigação de saber que, a queda do muro de Berlim, os desenvolvimentos tecnológicos no campo científico e militar, as alterações estratégicas dos EUA e que não são de há um ano, iriam fatalmente secundarizar (mas não desaparece) o valor estratégico da base na ilha Terceira. Por exemplo, em 2001, e o que será agora, observei um drone atravessar o Atlântico e ir até ao médio Oriente e voltar aos EUA.
9. Vale a pena recordar as cores dos governos desde a queda do muro de Berlim: governos da República - PS, PSD/CDS, PS, PS, PSD; governos regionais Açores - PSD, PSD, PS, PS, PS, PS.
Esta questão é mais uma daquelas que não devia estar na praça pública. Mas a inexistência concreta do presidente da República, a inabilidade e incompetência do actual governo, a postura de bicos de pés do novo messias, a inabilidade e incompetência dos partidos todos, a fragilidade do actual presidente do governo regional que herdou o elefante de pés de barro, tudo conjugado dá este triste espectáculo a que estamos a assistir.
10. A realidade é que vai sobrar para umas centenas de Terceirenses. A propósito, bem gostava de perceber como é poderão desaparecer cerca de 10000 habitantes da Terceira como consequência da saída dos americanos, como parece que anuncia um estudo que para aí está propagandeado, e que presumo tem alguma ligação ao governo regional. Porque se assim é/ for, não será então demonstrativo da postura de conformismo/ imobilismo dos sucessivos governos regionais, e designadamente desde o primeiro de Carlos César? Aliás não é por acaso que os açorianos das outras ilhas quando se deslocam a SMiguel dizem que vão ao continente.
11. Claro que nestas coisas, como em tudo, existem as questões centrais e nucleares, mas também os aspectos secundários, as coreografias, ás vezes tudo bem bem tolo. Mas muitas vezes os secundários elucidam bem e explicam os desastres a prazo.
12. Presidentes da República, Mário Soares, Jorge Sampaio, Cavaco Silva, quantas reuniões com os presidentes americanos e abordagens concretas sobre a base?
13. Primeiros ministros, Ministros dos negócios estrangeiros, IDEM? Não falo dos ministros da defesa nacional porque do meu ponto de vista estão/deviam ter estado sempre num outro plano. Mas alguns talvez não tenham estado. E, quase certo, nada ajudaram.
14. Presidentes dos sucessivos governos regionais, IDEM.
15. À boa maneira portuguesa, ao longo de anos e anos, contaram sempre com o ovo no rabinho da galinha. 
16. Bem me recordo de alguns personagens ufanos das suas governações na região autónoma. Bem me recordo também, por exemplo em 2005, no dia da Autonomia, em Sta Maria, a disputa e acotovelanços ridículos pelos lugares protocolares na tribuna. Não será de admirar dada a sua menoridade a pesporrência de certos políticos nacionais não receberem certos políticos estrangeiros só porque no plano formal não estão ao mesmo nível protocolar. O resultado está à vista. E claro, figura parda sentada em certo poleiro anos a fio, nada ajudou.
17. Claro que agora, com a casa a arder, à boa maneira portuguesa, esta tralha politiqueira gesticula, corre ao Presidente da República (que, como os seus antecessores, sempre se esteve borrifando para quase tudo que não fosse a "sua grandeur") desespera pela sorte dos Terceirenses em particular os da Praia da Vitória, mas basicamente andaram a ir aos EUA às festinhas levando consortes e amiguinhos à custa do bolso dos de sempre, e uns pequenos encontros com lusos americanos de pouca concreta importância. Quando ao actual PM, para não referir o desastre anterior, dá ideia de parecer uma barata tonta, mesmo com conselhos de ratinho.
Há quem sugira: rever o acordo, que não só o técnico. Mas, o acordo sendo de defesa, está afectado, por esta unilateral decisão? Não creio que o acordo de defesa, o compromisso de aliança esteja alterado. O valor estratégico está lá, secundarizado porque o Pacífico está a preocupar mais, mas está lá. Mantém a importância. O que se passa é de natureza comercial, de emprego e, claro, com muitas infra-estruturas a passar de facto para as mãos do MDN/ Força Aérea, isso significa um encargo acrescido e muito relevante no que a manutenção respeita, portanto, mais dinheirinho nacional a gastar.
!8. Finalmente, mudar de parceiro, aliado? Só mentes tolas, verdadeiras baratinhas entontecidas com os palácios e o mercedes classe S podem recomendar a China. Nunca, no plano de defesa, militar. China e outros, incluindo EUA, deviam era ser chamados a instalar na Ilha Terceira empresas, raízes de desenvolvimento tecnológico. Não querem que se fale que os sucessivos governos até 25ABR74 andaram a dormir, que continuaram a dormir os pós 25ABR mais os sucessivos governos regionais? Será exagero? Talvez, mas tem muito de verdade. Basta ter conhecido os Açores. Conheço desde 1969. E apreciei pela última vez a sua realidade de 2004 a 2006. Diferenças enormes, para melhor, mas certas coisas em algumas ilhas pouco mudaram.
19. Tenho a certeza que alguma coisa do supra referido corresponde à realidade. A decisão unilateral americana não tem, a meu ver, justificação alguma. Mas a tradicional subserviência da esmagadora maioria dos políticos, nacionais e regionais, quando estão no estrangeiro, a gelatina vertebral de muitos pode, eventualmente, ter encorajado a tolice americana de saltar de um estudo do Pentágono para uma decisão a consumar até Outubro ou coisa que o valha. Lamentável, lá como cá.
AC

PS: ai que bom poder dar cartõeszinhos aos ilustres do Continente para irem ás boas compras nos supermercados americanos na base das Lajes.

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