terça-feira, 10 de maio de 2016

O Acordo Ortográfico de 1990 (AO90)

Salvo melhor opinião, numa lista elaborada com seriedade com os principais problemas do meu desgraçado País, tenho a certeza que o AO90 não estava no primeiro lugar.
Mas não tenho dúvida nenhuma de que se trata de uma questão muito importante. É “só” a língua.
Tenho tomado atenção ao assunto, como aliás faço com praticamente tudo da minha envolvente mas, numa segunda fase, vou ordenando tudo por prioridades e, como muitas coisas são espuma dos dias, ficam em arquivo senão mesmo lixo.
Existem defensores acérrimos do AO90 mas em que muitas vezes apresentam justificações que me parecem fracas. Como por exemplo, sugerir que quem está contra é por reflexo da idade e dificuldade de adaptação!.
Há opositores que muitas vezes também não primam pela melhor defesa, mas existem os que apresentam argumentos que me parecem muito válidos e mesmo dificeis de rebater.
Mas também me parece que hoje em dia aparecem opositores de notoriedade pública que, no passado não muito longínquo, terão tido alguma passividade, para não ser mais assertivo.
A realidade é que ele está aí. Posto em vigor por quem se sabe. Aliás, como bem salientado por quem sabe, todo o processo começou de forma curiosa/ estranha, esteve anos mais ou menos parado, e de repente ZÁS: tem que entrar em vigor.
Um processo, portanto, que legítimamente suscita as maiores dúvidas quanto aos fundamentos. Porque quanto a processo e procedimentos pode dizer-se, no mínimo, lastimável.
E que realidades encontramos?
A nossa CRP, como bem lembrado por quem habitualmente é muito coerente nas suas posições e considerações, consagra que - "A língua oficial [da República Portuguesa] é o Português."
Uns designam-no por aborto, outros por aleijão, outros por nojo, e outros ainda adjectivam com mais ou menos floreados.
Quando o AO90 veio a público muitos subscreveram uma oposição clara. Têm sido coerentes.
Alguns países da lusofonia têm o assunto em muito baixa prioridade. Vários não ratificaram a coisa.
A nível do nosso Estado, tem sido obrigatório o “acordês”. Mas entidades e instituições há em que, aparentemente, os computadores não têm a ferramenta do “acordês”. 

E existem também entidades oficiais que mesmo pugnando pelo “acordês” cometem gafes tolas.
Discute-se a questão jurídica, se há ilegalidade, nulidade, etc.
O que parece ser certo é que uns conhecidos senhores andaram anos a viajar para lá e para cá. À nossa custa. À boa maneira “tuga”.
Por cá, muitos escritores não seguem o AO90, muitos jornalistas também, e em jornais vê-se de tudo um pouco. Editoras idem. E têm sido evidenciados vários exemplos que claramente mostram que o “acordês” está longe de ter lógica absoluta, ser coerente com o escrito e com o falado e com a sonoridade, com o que se “come" e "não come”. E quanto à invocada “unificação”?
O Presidente da República levantou a lebre com algum cuidado.
Da parte do governo parece que nem querem ouvir falar da coisa. 
A posição da AR não espanta.
Hà poucos dias, um conhecido constitucionalista veio a público defender o AO90.
Um dos seus argumentos para a defesa do AO90 - “"É essa, aliás, a opinião que colho de muitos colegas universitários que utilizam a escrita como instrumento de trabalho, sendo essa também a posição generalizada dos operadores públicos (legislativos, administrativos e judiciais)”".
Como sempre, respeito todas as opiniões.
Contudo, sei de experiência de vida que nenhuma instituição se auto-regenera. E, para mim, os professores universitários, como aliás se verificou/ verifica em muitas outras profissões, e sobretudo a partir de 1991, criaram o seu "sistema”. 
Em todas as profissões, sem excepção, existem excelentes, bons, sofriveis e maus profissionais. Valorizo pouco o argumento supra invocado.
Continuo a escrever como me apetece, isto é, como aprendi a partir de seis décadas atrás.
E de vez em quando cometo erros, vários um bocado involuntariamente porque ao computador.
Quando escrevo com a minha clássica e já idosa de quase 30 anos, caneta MontBlanc Meisterstuck nº 149, aparo 4810/ 14K /585, como se vê na fotografia, dou muito menos pontapés na gramática.
Sendo fraco na escrita, ainda assim socorro-me periodicamente da minha “Nova Gramática do Português Contemporâneo”, Celso Cunha/ Lindley Cintra, 1984, com prefácio dos autores, de 19 de Maio.
Gramática que foi compilada pelos autores designadamente porque, como escreveram no início da obra - “"……Trata-se de uma tentativa de descrição do português actual na sua forma culta, isto é, como a têm utilizado os escritores portugueses, brasileiros e africanos do Romantismo para cá, dando naturalmente uma situação privilegiada aos autores dos nossos dias. Não descuramos, porém, dos factos da linguagem coloquial, especialmente ao analisarmos os empregos e os valores afectivos das formas idiomáticas……….Como esta gramática pretende mostrar a superior unidade da língua portuguesa dentro da sua natural diversidade, particularmente do ponto de vista diatópico, geográfico, uma acurada atenção se deu às diferenças no uso entre as modalidades nacionais e regionais do idioma, sobretudo às que se observam entre a variedade nacional europeia e a americana……….uma permanente preocupação de salientar e valorizar os meios expressivos do idioma…….””.
Pela minha parte vou continuando a seguir este assunto. 
E aprendendo com a coerência dos argumentos. E registando o resto.
António Cabral (AC)

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