segunda-feira, 9 de maio de 2016

EXEMPLO de COMPLETA AUSÊNCIA de VERGONHA

Como já vi escrito - "Há uma coisa que impressiona na política portuguesa e que é os políticos não terem consciência da sua pequena dimensão" . Vem isto a propósito da criatura que se vê numa fotografia tristemente célebre. Exactamente, o senhor Durão Barroso.
É lamentável, opinião minha naturalmente, discutível, esta telenovela que nem mexicana consegue ser, de tão má qualidade e de tão fracos actores. 
Com esta "cena", o ex-jornal de referência terá tentado aumentar a tiragem? Não faço ideia. Foi pedido de Barroso? Desconheço. Interferência de Balsemão? Sei lá.
Não interessa, apareceu, obrigou Jorge Sampaio vir a terreiro defender-se. Não muito bem, acho eu, opinião discutível, certamente.
Não sendo especialista de relações internacionais, não sendo constitucionalista mas tendo estudado direito constitucional, tendo alguma experiência de vida, e anos de contactos privados com alguns dos melhores em relações internacionais (o melhor dos que conheci infelizmente já falecido), vou atrever-me a dar uns palpites.
1. Se Sampaio tivesse insistido na não realização da cimeira nas Lajes, tinha ou não havido invasão do Iraque? Tinha, Bush estava mais que decidido. Além de que uma operação militar daquela envergadura leva muito tempo a preparar. Estava mais que em marcha.
2. A participação de Portugal na cimeira, nas Lajes ou em outro local, era importante, era primordial? Só um louco acredita nisso. 
3. Diz-se por aí que Durão Barroso se colocou em bicos de pés, e quase terá feito papel de mordomo chique! Pela minha parte, parvo é que ele não é. 
E, ao longo dos anos, passado o seu período arruaceiro, tratou da vidinha. Sim, porque não se vai por acaso para Georgetown e etc, e por lá se anda uns tempos largos. 
E creio que será das ligações especiais que construiu em círculos ainda mais especiais, e que mais tarde também o ajudaram a convencer uns quantos a conseguir o lugar de Bruxelas, que quando estava tudo em marcha nos planos logístico e operacional, mas faltava um esboço de legalidade à coisa, que eles se lembraram - "liga aí ao Zé Manel que ele dá um ajuda logística e de encenação". O então presidente dos EUA precisava apenas de uma encenação de legalidade e comprometimento internacional, parcial que fosse.
4. Porque se lembrou Barroso de falar na coisa? Havendo entrevista, pedida ou não, não havia como fugir a esse capítulo da história nacional e da internacional. Diz ele que foi a única pessoa que consultou antes de. 
Bem, não podia dizer que o ex-PR se tinha oposto. 
E, de facto, como se lê nas palavras de Jorge Sampaio, não se opôs. E aqui começa o jogo de cintura de um e de outro, o jogo da semântica. Pessoalmente, tenho em péssima consideração Durão Barroso. Mas quanto a Jorge Sampaio, não tendo dele uma péssima opinião, também não ponho as mãos no lume, por mais que os seus adoradores andem sempre a tentar convencer o pagode.
Ler atentamente, com isenção, o artigo do ex-PR, fácil é concluir que nem tudo bate certo. Joga e muito bem, com o enorme descrédito que Durão Barroso, e muito merecidamente, tem junto da esmagadora maioria dos cidadãos. Mas isso é pouco.
Até porque, se tinha tantas desconfianças e tantas discordâncias com o ex-PM, como aceitar de boa fé a justificação que ele lhe deu? 
É por esta e por outras  que estes senhores não me merecem grande consideração. Mas Barroso é bem pior que Sampaio.
5. Adicionalmente, e ainda neste - aceitou, não aceitou - o ex-PR é um dos maiores artistas a convencer o povinho. Vem isto a propósito de me parecer que é mais um daqueles que clama sempre que não pode, que não lhe compete, mas depois é dos que gosta que lhe mostrem previamente os discursos na véspera de os ouvir publicamente durante cerimónias. Não estou a dizer que era assim que mandava proceder, mas da leitura do seu artigo fica a sensação de ser o tipo de pessoa que gosta do estilo - façam o que eu digo, não o que eu faço. Se não aceitava tudo, porque aceitou uma coisa que entrava pelos olhos dentro cheirar mal? Enfim.
6. Por fim as memórias selectivas. Creio que Sampaio tem toda a razão no "toque" que dá em Barroso a este propósito. Interessante o nível de detalhe evidenciado por Jorge Sampaio no seu artigo designadamente a horas. Interessante também chamar à colação, com grande ênfase, o seu papel e responsabilidade de Comandante Supremo das Forças Armadas.
Mas que pena, tenho pena, que não tenha elaborado um pouco sobre as suas decisões, que muito superficialmente recupera mas com jactância, sobre o impedimento de envio de tropas para o exterior. Afirmei decisivamente o papel efectivo do Presidente como Comandante Supremo das Forças Armadas, escreveu o ex-PR. Não dá para sorrir mas quase.
Porque, precisamente concordando com ele -importam tanto os resultados como os processos - teria sido instrutivo e esclarecedor conhecer as suas decisões e conversas, por exemplo, no âmbito das duas reuniões do Conselho de Estado a que alude, acerca das Forças Armadas, sobre enviar ou não enviar, quanto a enviar se deviam ser forças do Exército ou de outro Ramo, e acerca do ir pensando em meios da GNR em vez de meios das Forças Armadas.
Ah, já me esquecia, segredo de Estado. O costume.
Espera, ou memória selectiva?
AC

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