terça-feira, 27 de setembro de 2022

PORTUGAL, o meu País
Com várias décadas de vida, tendo conhecido o antes e o depois de 25 de Abril de 1974, tendo combatido na Guiné (hoje Guiné-Bissau) de 29 de Outubro de 1971 a 28 de Julho de 1973, aí tendo sofrido bastante mas tendo tido a sorte de não ter morrido nem ficado ferido durante o ataque que o navio sofreu em 19 de Maio de 1973, tendo ficado com alguma deficiência auditiva no ouvido esquerdo, não tendo sofrido/ ficado com distúrbios para a vida ao nível do aparelho digestivo, não tendo ficado traumatizado para a vida e tendo recuperado vida e actividade normais ao fim de pouco mais de três meses na metrópole, tendo passado por três bancarrotas socialistas, tendo já conhecido muitas pessoas influentes na vida nacional, e tendo algum "mundo", como reformado e olhando às vertentes externa digo como a minha idosa mãe de 97 anos - está tudo doido.

Quando olho à vertente interna, a frase supra aplica-se quase sem necessitar de alterações. Está tudo doido, quase todos doidos.

Sobre o meu País, e tendo sempre bem presente a liberdade de opinião e a de expressão bem como sempre presente que todas as opiniões são de respeitar mas discutíveis, a situação  actual traz-me muito mas muito preocupado, muito desconfortável. Como sempre gostei de ler tenho andado a reler alguns dos antigos. Sei que é costume afirmar-se que a história não se repete, e tenho bem a noção que as circunstâncias mudam ao longo de décadas e séculos e é assim necessário ser prudente nas apreciações.

 Isto dito, sobre Portugal e os portugueses, Guerra Junqueiro escrevia assim na "Pátria" em 1896 (sublinhados meus).

"Um povo imbecilizado e resignado, humilde e macambúzio, fatalista e sonâmbulo, burro de carga, besta de nora, aguentando pauladas, sacos de vergonhas, feixes de misérias, sem uma rebelião, um mostrar de dentes, a energia dum coice, pois que nem já com as orelhas é capaz de sacudir as moscas; um povo em catalepsia ambulante, não se lembrando nem donde vem, nem onde está, nem para onde vai; um povo, enfim, que eu adoro, porque sofre e é bom, e guarda ainda na noite da sua inconsciência como que um lampejo misterioso da alma nacional, reflexo de astro em silêncio escuro de lagoa morta.
Uma burguesia, cívica e POLITICAMENTE CORRUPTA até à medula, não descriminando já o bem do mal, sem palavras, sem vergonha, sem carácter, havendo homens que, honrados na vida íntima, descambam na vida pública em pantomineiros e sevandijas, capazes de toda a veniaga e toda a infâmia, da mentira a falsificação, violência ao roubo, donde provem que na política portuguesa sucedam, entre a indiferença geral, escândalos monstruosos, absolutamente inverosímeis.
Um poder legislativo, esfregão de cozinha do executivo; este criado de quarto do moderador; e este, finalmente, tornado absoluto pela abdicação unânime do País. [.] A justiça ao arbítrio da Política, torcendo-lhe a vara ao ponto de fazer dela saca-rolhas; Dois partidos [.] sem ideias, sem planos, sem convicções, incapazes, [.] vivendo ambos do mesmo utilitarismo céptico e pervertido, análogos nas palavras, idênticos nos actos, iguais um ao outro como duas metades do mesmo zero, e não se malgando e fundindo, apesar disso, pela razão que alguém deu no parlamento, de não caberem todos duma vez na mesma sala de jantar."
Guerra Junqueiro, "Pátria",
1896.

 Como já evidenciado em cima, este texto está datado.

Mas depois de o ter relido duas vezes, com um pequeno intervalo dei comigo a comparar o que Guerra Junqueiro escreveu com a realidade nacional do presente e interrogo-me com os meus botões.

Olhando aos sublinhados:
- como está a justiça? Por exemplo olhando recentes nomeações para o STJ?
- como está a corrupção?
- como se desenrola a vida parlamentar?
- os titulares dos órgãos de soberania falam-nos verdade?
- e quanto à resignação da maioria dos portugueses?
- e quanto à violência doméstica, violência nos estádios de futebol, violência nos bares e discotecas?
- e quanto a ..... uma lista sem fim.............
AC

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