sexta-feira, 24 de junho de 2022

ORA AQUI ESTÁ, UM PUTINISTA DEVOTO
Publico partes do (para mim) excelente artigo de um homem insuspeito. Insuspeito é coisa que o espanhol Borrell não é, e é reconhecidamente um herói de borradas atrás de borradas. Sublinhados da minha responsabilidade. Já não nos bastava o fdp em Moscovo para termos ainda os desvarios de mendecaptos como este pateta espanhol.
A Lituânia e Borrell erraram, devem emendar a mão

Victor Ângelo (24 Junho 2022 - 00:17)
O Alto Representante para a política externa da União Europeia, Josep Borrell, considera correta a decisão lituana de interditar o trânsito através do seu território de determinadas mercadorias em circulação entre outras partes da Rússia e a região russa de Kaliningrado. Borrell esclarece ainda que a interdição apenas inclui os bens que fazem parte da lista de sanções da UE. Ou seja, o aço e outros metais, os materiais de construção, artigos tecnológicos e, em breve, o carvão e, mais tarde, o petróleo. Borrell procura proteger a Lituânia ao dizer que a decisão do governo desse país se limita a dar cumprimento ao que havia sido aprovado ao nível europeu. A interdição abrange cerca de 50% do tráfego ferroviário e por estrada entre Kaliningrado e o resto do território russo. Não diz respeito à passagem de pessoas, que continua aberta, embora com algumas restrições já antigas.

Embora tenha um grande respeito pela determinação do governo lituano, vejo a medida como um erro grave. E não concordo com a defesa que Borrell e outros dela fazem. As sanções aprovadas pela UE incluem de facto uma clara referência ao trânsito de mercadorias. Mas o que se passa no corredor de Suwalki - assim se chama a faixa de 65 Km que liga Kaliningrado à Bielorrússia e depois ao resto da Rússia - é diferente do trânsito de mercadorias por razões de importação ou de exportação. As sanções dizem claramente respeito ao comércio externo da Rússia. No caso em questão, trata-se de permitir a movimentação entre duas partes do mesmo país. Por isso, a matéria deve ser vista como um assunto da economia interna russa e, assim, fora do regime das restrições impostas por Bruxelas.

Para mais, tudo isto tem uma conotação política muito delicada. Abre-se, deste modo, uma nova frente de confrontação direta entre a UE e a Rússia. Particularmente perigosa e que nos distrai da preocupação fundamental, urgente e prioritária, que é a de concentrar todas as energias no apoio à Ucrânia e aos seus esforços de legítima defesa. É perigosa porque oferece à Rússia um pretexto fácil de explorar para uma investida muito forte contra a Lituânia, um país membro da NATO. Ora, a Lituânia, tal como os seus dois vizinhos mais a norte, a Letónia e a Estónia, é muito difícil de defender. Vários exercícios estratégicos, simulados ao mais alto nível de comando da NATO - tive a oportunidade de participar em alguns - mostraram repetidamente a fragilidade extrema de qualquer um desses três países, no caso de uma intervenção militar hostil vinda da vizinhança. São territórios pequenos, sem profundidade estratégica, fáceis de ocupar. Abrimos, assim, um conflito num ponto fraco do nosso espaço de defesa. Não é certamente uma decisão estratégica inteligente, menos ainda sensata. Mais, não havia necessidade.

Neste momento ainda não se sabe qual poderá ser o tipo de retaliações que o Kremlin irá adotar. Mas o bloqueio parcial de Kaliningrado é visto em Moscovo como algo muito sério. E isso deixa-me bastante preocupado. Muito provavelmente, Vladimir Putin irá responder a este desafio nas precisas vésperas da cimeira da NATO, que deverá decorrer em Madrid de 28 a 30 de junho.

Borrell deveria ser aconselhado a rever, sem demoras, a sua posição em relação a este bloqueio parcial. Tem de haver coragem e bom senso, nos principais países da União Europeia, para que se diga, alto e bom som, que o momento exige prudência e uma compreensão serena do que é apropriado e prioritário. Espera-se, é evidente, que Borrell e todos os outros condenem sem qualquer tipo de equívoco a política russa e a guerra de agressão contra a Ucrânia ou, ainda, que falem com clareza sobre as questões de segurança alimentar e do respeito pela ordem internacional. Devem pôr em evidência a firmeza europeia, defender os nossos interesses e contrabalançar as campanhas de desinformação que a Rússia leva a cabo no Norte de África, na África subsariana e no Médio Oriente. Mas, sempre com a preocupação de serem vistos como representantes de uma União que quer a paz e o respeito pelas regras de boa vizinhança. E que sabe retificar os seus erros.

Conselheiro em segurança internacional.
Ex-secretário-geral-adjunto da ONU

António Cabral (AC)

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