sábado, 16 de abril de 2022

ENCHER  CHOURIÇOS
Esta é uma expressão corriqueira para, essencialmente, querer dizer que determinado tema, conversa, historieta, etc., não tem interesse algum e serve apenas para empatar, ou tentar justificar alguma coisa irrelevante mas que se quererá que seja entendida como muito importante.

Salvo melhor opinião, é o caso de mais um artigo da "especialista" do Diário de Notícias sobre a deslocação para a Roménia de  militares do Exército e respectivo material.

Refere a "especialista" que, para essa deslocação, o Exército contratou por ajuste directo duas empresas para levar blindados e outro material da tal força nacional destacada (FND). A "especialista" refere ainda que isto acontece por - "ausência de recursos próprios". Diz ainda a "especialista" que a coisa foi assinada por um  Brigadeiro-General e que a conta será suportada pelas verbas orçamentadas das Forças Nacionais Destacadas (FND).

Parece que a "especialista" não teve respostas às suas perguntas endereçadas ao Exército e ao Estado-Maior-General das Forças Armadas (EMGFA), responsável pelas FND, para saber se não existiam recursos do Estado e das próprias Forças Armadas (navios da Marinha, aeronaves da Força Aérea, veículos do próprio Exército) que pudessem ser utilizados. Parece que teve algumas respostas do departamento da Sra ministra Helena Carreiras.

Do que se lê nesta fantástica notícia do DN, a "especialista" ficou então a saber que "as Forças Armadas não dispõem dos meios de projeção estratégica capazes de transportar forças terrestres de tipologia média ou pesada" e que "havendo a necessidade de transportar viaturas com essas características tornou-se necessário recorrer a uma empresa privada, como acontece com a generalidade dos países da UE que não dispõem desta capacidade de transporte nas suas Forças Armadas".

A "especialista" recorda ainda - que o único navio que a Marinha tinha que poderia ser utilizado em transportes de carga média e pesada era o Bérrio, o "gigante" reabastecedor logístico que foi mandado abater em janeiro de 2020 sem que outra alternativa estivesse disponível, estando atualmente ainda a ser avaliada a sua possível recuperação.
Finalmente, refere que a tropa vai para a Roménia sem fatos de proteção para ataques químicos.

Como estou alertado por bons amigos que percebem destes assuntos militares (o muito pouco que sei fui aprendendo com amigos) para estar sempre muito de pé atrás quanto a tudo o que estes e estas especialistas militares escrevem, li a coisa duas vezes. 
Porque, dizem-me os meus amigos militares, este tipo de notícias umas vezes é mesmo para encher chouriços, outras vezes são encomendadas, muitas vezes deturpam ou escondem factos para servir alguém (militar, ou político).

A "especialista" não teve respostas do EMGFA às suas perguntas, o que não deixa de ser muito curioso sabendo-se no que se transformou o Estado-Maior General das Forças Armadas (EMGFA) e o seu chefe (CEMGFA) depois das famosas reformas Cravinho, sabendo-se ainda que esta coisa das FND é sempre superiormente decidida em reuniões do poderoso Conselho Superior da Defesa Nacional. 
Creio que lhes devia ter lembrado que agora a ministra Carreiras quer diálogo com a sociedade. 

Outras curiosidades que o texto suscita a um cidadão ignorante como eu e para as quais não encontro respostas nas palavras da "especialista" :
> as verbas para as tais FND estão no orçamento, das Finanças, do ministério (MDN) da ministra Carreiras, no do EMGFA, ou no do Exército?

> o tal Brigadeiro-General apontado na notícia creio que é um oficial do Exército mas, está colocado num departamento do Exército ou, é um oficial do Exército a prestar serviço no EMGFA? É que são coisas diferentes.

> então a "especialista" não conhece as fraquezas nacionais? Se conhece devia ter escalpelizado a coisa e os porquês, assim um cidadão como eu fica cheio de dúvidas. Até porque tirando os EUA são escassos os países com capacidade de projeção de forças quer por via marítima quer por via aérea. 

> a "especialista" recorda o abate do navio Bérrio (gigante??) e quase parece dar a entender que foi um escândalo. Eu, confessado cidadão ignorante, sigo este assunto com alguma atenção, e decorridos 4 meses não recordo que esta "especialista" (ou outros) tenha já perguntado ao actual chefe da Marinha pelas conclusões dos tais estudos para ver se o falecido Bérrio pode ter conserto.

> a especialista refere certas fraquezas mas não me parece que ponha qualquer ênfase no facto de a Marinha não ter capacidades adequadas mas é para acorrer aos Açores e à Madeira se necessário. Isso sim, parece-me muito importante.
Quanto à Força Aérea creio que tem aviões de transporte que chegam para  levar muito material e pessoal para as ilhas. 
Não creio que sejam necessários blindados nas ilhas.

Lida a coisa, não me parecendo que contenha loas ao EMGFA e ao CEMGFA, somatório de banalidades sem nada de novo, parece-me que o artigo/ notícia fica mais no campo - encher chouriços.

Santa Páscoa!
AC

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