quarta-feira, 6 de outubro de 2021

??  E Q U Í V O C O S  ??

(siglas: CRP-Constituição da República Portuguesa, PR-Presidente da República, PM-Primeiro-Ministro, MDN-ministro da defesa nacional, FA-Forças Armadas, IM-Instituição Militar, CEMGFA-chefe do estado-maior general das Forças Armadas, CEMA-Chefe do Estado-Maior da Armada, CSDN-Conselho Superior de Defesa Nacional, CSFA-Comandante Supremo das Forças Armadas, OCS-órgãos de comunicação social)

 - Este texto vai ser longo. Não, não é equívoco, vai ser longo.
Escrevo há muito, com alguma elevação umas vezes, outras com português terra à terra, por vezes à bruta pois o nível a que certos assuntos chegam e se desenvolvem na praça pública  mais não merecem.  
Não me calo perante certas coisas que sucedem na nossa sociedade. 
Estou ciente da minha quase irrelevância perante os "senhores" da terra, tal como acontece com milhões de concidadãos comuns como eu. Não tenho amigos ou conhecidos na comunicação social. Às vezes erro, nessas alturas reconheço-o.
Estou farto de tanta pouca vergonha, estou farto de assistir a sucessivas faltas de consideração para com instituições do Estado e, neste caso particular, para com a instituição militar e designadamente para com a Marinha que leva 700 anos de história a servir Portugal. 
Estou preocupado, estou muito zangado, este texto vai ser longo.

- Já abordei muitas vezes questões diversas que eventualmente "cabem" no título supra.
Depois de umas linhas há dias, decidi logo no fim desse meu breve texto voltar ao assunto, escrever de novo e mais assertivamente, sem paninhos quentes, sem punhos de renda que a nada levam, face aos últimos e vergonhosos desenvolvimentos protagonizados por quem (são vários e formalmente muito responsáveis!) assiduamente demonstra uma descarada ausência de vergonha na cara, e uma total falta de respeito pela CRP, leis, instituições pilares do Estado, e pessoas. 
Sexta-feira e Sábado passados foram socialmente muito agitados e festivos. Houve que retemperar energias no Domingo e parcialmente ontem. 

- Mas se a decisão que refiro estava tomada e para o tentar fazer até ao final de 4 de Outubro, depois de atentar em nojentas prestações televisivas de certos conhecidos comentadores, depois de escritos nitidamente encomendados incluindo de um que nem Paris o  poliu, depois de ler as diatribes de criaturas que confessam não prestar muita atenção a coisas de defesa mas logo a seguir peroram sem qualquer pudor, ou ouvir um inchado de soberba e grande técnico em abate ou não abate de navios, mais me leva a querer salientar e detalhar coisas que praticante todos não referem. Admito que o façam com a melhor das intenções, mas é exactamente com esta postura de elevação a que se segue a corja a querer esmagar os cidadãos com o respeitinho serôdio, que muitas coisas em Portugal estão como estão. Como se ao mais alto nível do Estado não me mentisse, não se encobrisse, não se denegrisse.

- Mas, sobretudo, tendo ponderado algumas prestações televisivas de pessoas que considero e lido uma frase de um homem da minha profissão que também muito considero, mais ganas me dá para partilhar rapidamente o que penso de tudo isto. E tudo isto obriga a tomar "Primperan" antes de ir escrever, para não vomitar. 
A frase é esta ….."será mais "chover no molhado", mas vale a pena continuar a chover porque certamente alguém merecerá sair molhado". 
Pois da minha parte será também chover no molhado. Sem paninhos quentes, por mim, todos de quem se fala e um que quase não se refere mas é sinistro, sairão molhados. 

 - Recorro ao inglês, para recordar o seguinte: "decency" e "decent person". Dirão, há em português as mesmas palavras, está esquecido?
Não, não estou esquecido, mas nos dicionários de português existentes, em gabinetes específicos de certos edifícios governamentais, nos palácios, e em certas redacções, e em casa de certas criaturas que escrevem verdadeiros nojos, a página D onde está a palavra "decência" foi rasgada há muito.

 - A CRP é muito clara. Art. 9º, Tarefas fundamentais do Estado, Art.13º, Princípio da igualdade, Art. 19º que bem especifica a excepcionalidade de suspensão do exercício de direitos, Art. 39º, Liberdade de expressão e informação, Art. 133º e 134º quanto ás competências do PR relativamente às chefias militares e como comandante supremo das Forças Armadas, Art. 275º, Forças Armadas. 
E aqui cabe referir o que tem sido avançado como a grande pedra no sapato do MDN para com o CEMA. É que este militar atreveu-se a discordar de certas propostas de alteração da legislação de enquadramento da IM. Esquecem-se que os militares também têm direitos e deveres. Por exemplo, é dever de qualquer militar responder com verdade e rigor aos deputados eleitos, aos titulares de órgãos de soberania. 
Os militares acatam a CRP e as leis. Mas há uma coisa importantíssima e que os militares sabem e cumprem. Os militares estão, e bem, subordinados ao poder político. Mas o que parece ser exigível por certas criaturas que por aí andam, é a submissão dos chefes militares e da hierarquia militar. Estamos a voltar a 24 de Abril de 1974?
Subordinação não é sinónimo de submissão.

 - A recente alteração (com o beneplácito do actual inquilino de Belém, dos partidos apoiantes do governo, PSD e CDS) da Lei de Defesa Nacional e da LOBOFA (Lei Orgânica de Bases da Organização das Forças Armadas) é exemplo indesmentível da sede de poder de alguém com uma soberba desmedida e superior argúcia na manipulação de bastidores e de mentes políticas fracas. 
Em cima disto, é minha opinião, o PM começou a aperceber-se que nos últimos meses crescia uma estrela, com características muito diferentes e bem melhores que as de boys e girls partidários. Havia que enquadrá-lo rapidamente, arranjar-lhe um poiso com pouca ou nenhuma proeminência. E assim, o governo aproveitou para, a par de querer resolver rapidamente situações relativas a certas pessoas, dar um passo gigantesco na descarada governamentalização das Forças Armadas. 

- O que se tem passado nos últimos dias desde 28 de Setembro, visível em diferentes OCS, merece o maior repúdio, pelo atropelo de regras basilares, pela incompetência nas considerações de comentadores políticos e jornalistas, chegando-se ao nojo de uma jornalista invocar publicamente a construção (para mim também estranha) de um campo de golfe na área do Alfeite para assim tentar demonstrar possíveis méritos no desejo do MDN se preparar para pedir ao PR a exoneração do CEMA. Disso sabendo o PM, muito provavelmente. Não estou nada convencido que tudo isto é culpa apenas de Cravinho. Outros procuram passar entre os pingos da chuva. Já lá irei.
Tanto mais inacreditável como nauseabundo, quando não é trazida à colação muita coisa pouco esclarecida quanto a outras pessoas.
Repugnante, portanto, a campanha sórdida montada para criar uma situação insustentável na Marinha e concretamente ao seu actual chefe, numa manipulação vergonhosa e de total falta de respeito pela IM. Agora, o PR parece andar a mostrar apoio ao actual chefe da Marinha.
Mas, é inequívoco, há mandante na sombra, repugnante e insidioso. Não se pode dizer o nome. Rui Rio parece que já percebeu, a marosca, e o mandante. Com elevada probabilidade, em Belém também sabem, mas parece evidente que tudo está manietado.

 - Não me encantam as supostas caneladas públicas tão glorificadas por alguns. Não me encantam os vozeirões de certos comentadores estrategos (!?!?) que nas TV gostam de dizer que sabem muito e estão por dentro disto. Cansa e enoja esta coisa dos "gajos" sombra. Continuo a observar jornalistas e políticos e titulares de órgãos de soberania a invocarem constantemente  - que a lei diz  - mas nunca explicitam a que se referem em concreto e, por várias vezes, ficam-se mesmo por ausência completa de rigor. 
Equívocos? É mais uma sucessão de vergonhosos actos e atitudes, mentiras e disfarces, vários na sombra, outros em directo nos OCS, diversos nos jornais e televisões, a maioria bem perto do desprezível. Tudo tratado como se estivessem a comentar jogos de bola. Um falhanço completo, indiciando um pântano nauseabundo.

10º - Da Lei Orgânica nº3/ 2021/ 9 Agosto, Lei de Defesa Nacional
Artigo 9.º
Presidente da República
…….
2 - Sem prejuízo de outras competências que lhe sejam atribuídas pela Constituição ou pela lei, compete ao Presidente da República, em matéria de defesa nacional:

a) Exercer as funções de Comandante Supremo das Forças Armadas;
…………..
g) Nomear e exonerar, sob proposta do Governo, o Chefe do Estado-Maior-General das Forças Armadas, bem como, ouvido o Chefe do Estado-Maior-General das Forças Armadas, os Chefes do Estado-Maior da Armada, do Exército e da Força Aérea;

Artigo 10.º
Comandante Supremo das Forças Armadas

……..
b) Direito de ser informado pelo Governo acerca da situação das Forças Armadas;
……..
f) Consultar o Chefe do Estado-Maior-General das Forças Armadas e os Chefes do Estado-Maior da Armada, do Exército e da Força Aérea, em matérias de defesa nacional;

Artigo 12.º
Governo
………...
e) Propor ao Presidente da República a nomeação e a exoneração do Chefe do Estado-Maior-General das Forças Armadas e dos Chefes do Estado-Maior da Armada, do Exército e da Força Aérea;

Artigo 13.º
Primeiro-Ministro

1 - O Primeiro-Ministro dirige a política de defesa nacional e das Forças Armadas, bem como o funcionamento do Governo nessa matéria.
……….
c) Informar o Presidente da República sobre a política e as decisões nas matérias da defesa nacional e das Forças Armadas;
…………….
f) Propor ao Conselho de Ministros, conjuntamente com o Ministro da Defesa Nacional, a nomeação e a exoneração do Chefe do Estado-Maior-General das Forças Armadas e dos Chefes do Estado-Maior da Armada, do Exército e da Força Aérea;
3 - O Primeiro-Ministro pode delegar, no todo ou em parte, a competência referida na alínea a) do número anterior no Ministro da Defesa Nacional.

Artigo 14.º
Ministro da Defesa Nacional

…...
i) Propor ao Conselho de Ministros, conjuntamente com o Primeiro-Ministro, a nomeação e a exoneração do Chefe do Estado-Maior-General das Forças Armadas e dos Chefes do Estado-Maior da Armada, do Exército e da Força Aérea;

Destes artigos pelo menos duas conclusões são possíveis: a primeira, a de que o PR, PM e MDN actuaram porventura mais do que uma vez, no escrupuloso cumprimento desta lei ou seja, todos envolvidos no assunto, nenhum à margem da coisa, pelo que o transmitido aos portugueses em nada corresponde à realidade, apenas distorção de factos, esquecimento propositado de outros, tudo a roçar a pura aldrabice; a segunda conclusão, a lei não foi cumprida e, então, é só tirar conclusões, e ver quem actuou com dolo. Percebe-se ou não?

11º - Da Lei Orgânica n.º 2/2021/ 9 Agosto, Lei Orgânica de Bases da Organização das Forças Armadas (LOBOFA) 
Artigo 19.º
Nomeação dos Chefes de Estado-Maior dos ramos

1 - Os Chefes de Estado-Maior dos ramos são nomeados e exonerados pelo Presidente da República, sob proposta do Governo, a qual deve ser precedida de audição, através do Ministro da Defesa Nacional, do CEMGFA.
2 - O CEMGFA pronuncia-se, nos termos do número anterior, após audição do Conselho Superior do respetivo ramo.
3 - O Governo deve iniciar o processo de nomeação dos Chefes de Estado-Maior dos ramos, sempre que possível, pelo menos um mês antes da vacatura do cargo, por forma a permitir a substituição imediata do respetivo titular.
4 - Se o Presidente da República discordar do nome proposto, o Governo apresentar-lhe-á nova proposta.

Destes artigos pelo menos duas conclusões são possíveis: a primeira, a de que o PR, PM e MDN e o CEMGFA actuaram porventura mais do que uma vez, no escrupuloso cumprimento da lei ou seja, todos envolvidos no assunto, pelo que o transmitido aos portugueses em nada corresponde à realidade, tudo roçando a mais pura aldrabice; a segunda, a lei não foi cumprida e, então, é só tirar conclusões e ver quem actuou com dolo. Percebe-se ou não?
Já agora, quando alguém bate com a porta, quando já não está para aturar mais enxovalhos e vai embora, demite-se. Quem queria que isso acontecesse e bem tentou, ficou ainda mais irritado por não acontecer. Quando, em linguagem popular - alguém é corrido - isso é exoneração. 

12º - A actual legislação manteve a norma sobre substituição de chefes militares. Portanto, um mês antes do fim do mandato do actual CEMA, fim de Janeiro passado ou primeiros dias de Fevereiro, antes portanto de virem a decidir se seria substituído ou reconduzido, o Conselho do Almirantado devia ter dado um parecer ao CEMGFA sobre um nome que lhe tivesse sido apresentado nessa altura pelo governo como possível futuro CEMA, e o CEMGFA o seu parecer ao MDN sobre esse nome / vice-almirante. Depois disso, o MDN devia ter levado o assunto ao PM para ser apreciado em conselho de ministros, e posterior endosso ao PR de concreta proposta governamental de substituição do CEMA. Este é o processo estabelecido. 
O que se passou? Houve conselho de almirantado nessa altura? Ou chamaram o CEMA para uma conversinha? Claro que havia alguém que queria um determinado oficial para futuro CEMA, alguém queria Já! Claro que com o que se passou nos últimos dias se fica com certeza de que houve, manipulações, etapas não cumpridas, não cumprimento dos preceitos legais, vigarices.

13º - Mas agora convém recordar outro ingrediente desta palhaçada. No final de Novembro 2020, foi criada a celebrada "task force" para a vacinação, em que o então coordenador trabalhou tão bem até ao inicio de Fevereiro de 2021 que o seu partido se viu na obrigação de correr com ele, e o seu directo colaborador militar assumiu o cargo de coordenador, até há poucos dias. Até estar quase atingido o almejado patamar de 85% da população vacinada com duas doses. Nesse mesmo dia, de acordo com o que se vê na praça pública, o MDN muito provavelmente em conluio com outrem decidiu ficar para a história pelos motivos mais baixos.
Politicamente, e como as coisas corriam infelizmente muito mal no país no âmbito da pandemia, no final de Janeiro /início de Fevereiro 2021, o poder político estava a braços com uma situação delicada do ponto de vista sanitário pelo que, como se compreende, muitas decisões foram congeladas, ou remetidas para outro momento. Isto acontecendo em simultâneo com o processo formal que devia ser encetado para substituição do CEMA. Ou recondução, como acabou por se verificar, desconhecendo-se o que terá sido então equacionado, conversado, prometido.
Quando se chega a meados desse Fevereiro, obviamente que nenhum político tinha qualquer noção daquilo que hoje se sabe, relativamente às características e qualidades do coordenador da famosa "task force". É, portanto, mais do que duvidoso que, na cabeça do PR, do PM e talvez até do MDN, estivesse o seu nome escolhido para futuro CEMA. A menos que tivesse havido "um cozinhado" à margem de qualquer regra e assim desconsiderado vários vice-almirantes. Uma pessoa isso queria.

14º - Outros ingredientes desta palhaçada prendem-se com realidades da vida militar que, conhecedores desses assuntos mas particularmente comentadores e jornalistas nunca referem e na minha opinião, quase de certeza, o cerne daquilo que se passou recentemente.
Tem a ver com a chamada lista de antiguidades entre militares e neste caso oficiais de Marinha. 
Mas, antes de mais, e creio não estar equivocado, recordar que o actual almirante CEMGFA e o actual almirante CEMA são do mesmo curso de Escola Naval. 
O primeiro foi CEMA antes do actual cargo de CEMGFA, e o segundo foi nessa altura o seu vice-CEMA. Penso que não estou equivocado.
Quanto a listas de antiguidades, a ter em conta que o vice-almirante Gouveia e Melo é mais moderno ou seja, há outros vice-almirantes no activo que têm maior antiguidade militar que a sua, e que passarão à reserva por limite de idade no posto em Junho e Julho de 2023 respectivamente ou seja, depois do vice-almirante Gouveia e Melo completar 62 anos em 21 Novembro de 2022. Se este vice-almirante não vier a ser CEMA antes de fazer 62 anos passará à reserva por limite de idade no posto.

15º - Fácil é perceber certas angústias, e subsequentes manipulações e aldrabices. A todos os níveis, sem excepção. E é lamentável enlamear o actual CEMA e o até há pouco tempo coordenador da "Task Force".
Mas há outro elemento que, creio, ajudou a complicar tudo, e decorre de outra coisa da vida militar. 
É sabido pelos OCS que, creio no início de Junho passado, o CEMA entregou ao ministro a proposta com o nome de um contra-almirante para vir a ser promovido a vice-almirante e em sequência ser nomeado comandante naval. 
É do domínio público que o MDN fez um veto de gaveta a esse nome e assunto. Se calhar muito aconselhado!
Como se compreende, esta deplorável atitude política e administrativa não ajudou em nada. Entretanto, decorria o processo das reformas da legislação acima referida. Logo que essas reformas entraram em vigor em Agosto passado, sabe-se pela comunicação social, o CEMGFA vetou o nome apresentado pelo CEMA, e o veto foi avocado pelo MDN. 
O oficial vetado não aceitou o enxovalho. 
Porquê o veto? Não foi explicado, mas é fácil de perceber. Se esse contra-almirante fosse promovido a vice-almirante para, em sequência, ser depois nomeado comandante naval, ultrapassava outro camarada de armas mais antigo no mesmo posto de contra-almirante e, ao que se sabe, isso não era de todo aceitável para a estrutura superior e tutela. 
A realidade deve andar muito coladinha a isto. O resto, reflexões mais que imperfeitas.

16º A maioria dos actuais titulares de órgãos de soberania não são muito diferentes dos antecessores, mas muitos andam com uma clara tendência para serem piores. Em todos os sectores da vida nacional parecem continuar a considerar que todos os portugueses são criancinhas, devendo como tal ser tratados. Enganam-se.
Se a mansidão é infelizmente uma nota predominante na nossa sociedade, ainda existem vários portugueses, civis e militares, que não são criancinhas, nem estúpidos e broncos, e que têm bem a noção da CRP, do que deve ser o regular funcionamento das instituições e que não é nada disto a que se assiste. 
Conhecem bem legislação importante e de enquadramento nos mais diferentes aspectos da vida em sociedade, conhecem a história que não só a recente do regime em que felizmente vivemos e que caminha para os 50 anos.  
Esses portugueses sabem que a gravidade / delicadeza de certos assuntos / ocorrências e o respeito que é devido a instituições pilares do Estado não deve ser abordada, com ligeireza, com mentira, com superficialidade, com confusão e mistura propositada de aspectos e processos que embora dentro do mesmo quadro devem ser ponderados em separado e sequencialmente. Sabem que certos assuntos não devem ser abordados sem transparência e dignidade e, menos ainda, tratados à porta da Ginjinha do Rossio, sem qualquer desconsideração para a Ginjinha do Rossio.

17º - Como sempre defendi por escrito e oralmente, a esmagadora maioria dos cidadãos não quer saber destas coisas para nada, o que para mim é triste, lamentável até. E por isso também, muito coisa corre mal. Ora, se a maioria dos portugueses nem se dá ao trabalho de verificar qual era o preço do crude/ petróleo no início da Troika e o preço dos combustíveis à boca da estação de serviço (petróleo muito mais caro então e combustíveis para as viaturas mais baratos), e comparar com os actuais, por que razão se hão-de maçar com coisas da "Tropa", mais as diabruras do PR, ou as malfeitorias do PM e dos senhores do edifício rosa ao Restelo?
Para a maioria, o que sai da boca dos titulares de órgãos de soberania é quase divino. 
NÃO É, e por isso Portugal está como está ao fim de 47 anos, e tivemos as condições quase todas para já não estar como estamos.
Como sempre, mais uma vez estão, praticamente TODOS, a enganar os cidadãos portugueses. Porque muitos detalhes concretos são a génese dos problemas. A que se soma, soberba incontrolável, ânsia desmedida de poder, o achincalhar instituições, incompetência e o desprezo pelos militares para não dizer quase ódio.
As realidades da vida militar, ao longo de décadas, mostram que, vários foram ultrapassados por outros na promoção, vários foram para a reserva por limite de idade em posto, vários não foram nomeados para cargos que ambicionavam, e uns quantos sem dizer nada nem haver combinações sórdidas entenderam passar à reserva em determinada altura para assim outros poderem ser promovidos antes de atingir o limite de idade em posto. 
Faz parte da vida militar, sempre foi assim.

18º - O que se passou e não está encerrado, bem longe disso, poderá constituir-se como uma das maiores crises institucionais da nossa história recente. Temo que se esteja à beira de um conflito grave, à beira de fim de ciclo, mas encarado como sempre com a maior leviandade, desfaçatez e ligeireza na praça pública. 
O PR, dizem uns, meteu o pé na porta. Mas, pergunto eu, e se o PM e o MDN forçarem as coisas? 
Não, para mim não estão nada esclarecidos os tolamente chamados equívocos e que na feliz expressão de alguém que mais à frente referirei são de facto "esquívocos". 
Sim, parece claro ter havido um convite prematuro e que é mais que isso pois tem também em vista outros prazos de 3 anos. Parece por isso indesmentível o enxovalho concreto do governo  para com os vice-almirantes no activo TODOS formalmente possíveis futuros CEMA. 
Sim, é claro o conjunto de justificações inqualificáveis. Sim, nada foi tratado em recato, e temos momentos adequados ou não, arrogância, erros de percepção, manipulação, desrespeito por processos estabelecidos em lei ao ponto de antes de ser já é, manipulação variada nos OCS, se o MDN recuou ou não, se outro ficou agora ainda mais escondido, se Cravinho fintou Costa ou não. 
Tratando-se portanto de assuntos de Estado na mesa do café, mas dando-se sempre um ar de grande elevação. Mas, claro, nada de explicações claras ao povo ignaro. 
Comungo do que escreveu Eduardo Cintra Torres no Correio da Manhã - "Essa dos equívocos é cá um eufemismo. A pequena história da exoneração do Chefe do Estado-Maior da Armada não se resume a equívocos, como dizem Marcelo, Costa e Cravinho. São jogos - joguinhos - de poder, mesquinhos e indignos de militares, de governantes e do chefe de Estado. É por isso que eles não os descrevem e explicam ao povo que os elege e paga.

19º - Umas considerações mais sobre realidades nas FA. 
O actual CEMGFA que, ao que se soube na praça pública muito se empenhou quando ouvido em sede parlamentar e no CSDN, teve em Agosto passado o poder que se presume há muito ambicionava. A grande dúvida que se pode colocar é se, na sequência do aumento das suas responsabilidades e competências, vão ser finalmente resolvidos alguns problemas de décadas e por exemplo estes: a situação do Arsenal do Alfeite, a não atractividade das carreiras militares, as faltas de efectivos, o reequipamento dos ramos e nomeadamente no que respeita a Marinha e Força Aérea dada a realidade geográfica de Portugal e inerentes responsabilidades do país, a modernização de sistemas, as questões de carreiras, as questões sociais relativas aos militares e famílias, as questões salariais, etc. 
E, se agora com as suas acrescidas responsabilidades e competências, a intervenção política na gestão de recursos humanos das FA não atingirá níveis ainda mais inqualificáveis.
É conveniente lembrar aos esquecidos que, decorre da CRP, do estatuto dos militares, e sobretudo da coluna vertebral, acatar sempre a CRP e as leis mas, que as chefias militares têm o direito mas sobretudo o dever de, se chamadas a depor em sede parlamentar, ou ao MDN, ou ao CSFA, dar com lealmente rigor e verdade as suas opiniões e defender aquilo que entendam ser melhor para a IM, e em particular para o seu ramo. Uma criatura que não compreenda isto e não actue em conformidade qualifica-se a si próprio, e não deve ter a tutela das FA.

20º - O que pensar disto tudo? Que é um nojo!
Não, isto não está nada bem, e por exemplo, o PR continua a não ser nada claro. Ou ser claro advém do seu silêncio sobre o assunto durante a visita na manhã de 4 de Outubro à Escola de Tecnologias Navais no Alfeite e onde não estiveram o MDN nem o CEMGFA? Ou na entrevista na TVI?  
Não, ninguém, nem PM, nem MDN, nem CEMGFA, explicaram porque queriam que o PR exonerasse o CEMA. E parece que todos o queriam, e um muito mais que os outros. Obviamente, porque a transparência é aquele grande activo em Portugal, nunca dirão uma palavra sobre isto, sobre esta vergonha que têm em cima dos ombros. Eu e outros gostávamos de saber, mas a maioria dos cidadãos quer lá saber. E sim, com a ajuda das várias manipulações, confusões premeditadas incluindo demissão e exoneração, etc., estamos nesta triste situação. 

21º - Dizem por aí que o MDN não mais receberá o CEMA e fará veto de gaveta a tudo. Dizem até que o vem fazendo há semanas e semanas. O PR não intervém? O PM não intervém? O PM talvez lhe pudesse dizer baixinho que se não se porta bem, em próxima remodelação governamental não o considerará como potencial Ministro dos Negócios Estrangeiros que, dizem, ele tanto gostava de vir a ser.
Ah, o CEMA não sai, PARA JÁ, disse o PR. Sai quando? Talvez para a semana, ou no dia de Finados?
E qual o papel do Conselho do Almirantado onde tem assento o actual chefe da casa militar da Presidência da República conselho que, pela lei, um mês antes do CEMA acabar o seu tempo, se deve pronunciar sobre o nome substituto em princípio escolhido pelo poder político? 
Como disse acima, estamos numa de - ainda não é mas já sendo?
Houve ou não uma tentativa real de saneamento de um chefe militar à boa maneira do PREC?
Na feliz expressão que me chegou ao conhecimento, andam por aí muitos verbos de encher……..não andam?

22º - Sendo seu dever ir melhorando a sociedade, uns senhores civis e não só, com elevadíssimas e formais responsabilidades políticas, divertem-se com jogos de poder e a procurar destruir uma instituição pilar do Estado (….tempo para destruir e tempo para edificar (livro do Eclesiastes Ecl. 3, 1-8; 11-12). 
Brincam e nada acontece (….já não vos chamo servos, porque o servo não sabe o que faz o seu Senhor…(Evangelho segundo S. Mateus (Mt. 5, 14-16 e 13). 
Nenhum, desde o topo da pirâmide, está bem na fotografia. Temos aqui um exemplo acabado e mais do que triste do país real. Nada lisonjeiro. 
Até porque há diversas formas de comunicação, como, gritar, gesticular, falar, murmurar, beijar, ou darem-nos manteiga como referiu Balsemão um dia, o que se tem passado é desprezível, porque nada comunicam aos cidadãos.
Depois dos importantes falarem (falaram, disseram alguma coisa, clara, perceptível, concreta?) não se pode dizer mais nada? Discordo, porque tem sido também com este tipo de respeitinho serôdio que querem impor que nos encaminham para o lamaçal.

23º - Ah, já agora, quando perguntam como perguntaram ao PR - os políticos, os governos, têm tratado mal as FA? 
A resposta é (foi) sempre redondinha, cheia de rodriguinhos, inócua, lamentável.
Porque não respondeu o PR por exemplo assim: sabe, cabe ao poder político definir no âmbito da Assembleia da República que FA deve o País dispor no quadro internacional do presente e futuro perspectivado, no quadro de ameaças e riscos e aliançasO poder político não tem entendido assim, e tem levado a efeito pequeninas reformas ao longo dos anos, mas tenho a certeza de que as FA e os militares têm de ser melhor tratados e mais considerados na sociedade portuguesa.

24º - Que conclusão tirar disto? É que é nojento tudo isto, por causa de sede de poder, soberba e incompetência pessoais brincar-se com instituições e enlamear pessoas. Que conclusões?
Todas terríveis. Os jornalistas não divulgarão as suas fontes relativamente ao que na praça pública veio escrito - fontes da defesa. Ora, tanto pode ter sido do MDN ele mesmo, de assessores ou pessoal do gabinete, do CEMGFA ele mesmo ou de subordinados ou amigos na sociedade, da área de Belém, de amigo ou detractor de Gouveia e Melo.
Interessa-me pouco se tudo se desencadeou para desviar atenções de outros assuntos, ou para rapidamente procurar que Gouveia e Melo tenha menos visibilidade pública.
Uma coisa é evidente, aconteceram coincidências estranhas.
Para lá do que se quer fazer crer, alguma vez, a sério, houve entrega do nome Gouveia e Melo para o conselho do almirantado apreciar o seu nome para CEMA?
E o chefe da casa militar da Presidência da República teve alguma intervenção nisto tudo?
Uma coisa é evidente, dos interveniente nisto desde os "ás claras" aos "na sombra" não há um único que esteja bem na fotografia.
 
25º - De um excelente artigo de opinião, de um oficial da Armada, reformado, o Comandante Costa Correia, (sublinhados meus) reproduzo a conclusão - … .."Do qual porém se infere que a actual situação não se pode manter, e que dada a existência de novas leis estruturais, é aconselhável que com tantos "esquívocos", e notórias e prováveis dificuldades de leal relacionamento com os Chefes dos Estados-Maiores dos três Ramos (que aliás estão nas fases finais dos seus mandatos), deva haver num prazo curto novos intérpretes nos cargos de Ministro da Defesa Nacional, e do seu conselheiro principal, o Chefe do Estado-Maior-General das Forças Armadas. Com urgência"

E, acrescento eu, pelo menos esses dois porque, infelizmente, não é realista poder correr  com outros. 
António Cabral (AC)

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