terça-feira, 25 de janeiro de 2022

A HISTÓRIA NÃO SE REPETE!…… NÃO ?
Tenho as minhas dúvidas de que a história não se repita, aqui e acolá. Tenho dúvidas que, em certas sociedades, determinados traços, determinados “fados”, não se prolonguem por séculos, ainda que com matizes ligeiramente diferentes. Não se repetirão a papel químico certas situações, as condicionantes internas e externas vão sendo diferentes ao longo dos tempos mas, temo que, tendências, um certo fio condutor, sim, se repitam.
Olho para os últimos 35 anos e vejo, não só muito do que não devia ter acontecido, como sinais crescentes de inquietação.
Globalmente estou satisfeito com o regime. 

É o regime que perfilho.

Mas ando feliz?  Pessoalmente, olhando para o que tem sido a minha vida, directa, familiar, profissional, de reformado, a resposta tem de ser - feliz completamente não estou, mas não me posso queixar como muitos dos meus concidadãos. Agradeço o que a vida me tem dado.
Mas, enquanto concidadão, muito preocupado com o futuro, com o dos meus filhos e sobretudo com o dos meus netos.
Olho para a história passada, entre 1700 e 1910, e relembro apenas alguns dos muitos episódios e fases da nossa história, que me parecem ajudam a compreender algo do presente.

> 1700 - chegada dos colectores de impostos ás minas do Brasil 
> 1701 - decreto sobre a mendicidade
> 1706 - aumento de impostos por D. João V (reinou a partir de 9 Dez)
> 1708 - entra no Tejo uma frota vinda do Brasil, com carga avaliada em 54 milhões de cruzados: ouro, diamantes, etc.
> 1708 - fome generalizada a todo o reino
> 1712 - os procuradores dos mesteres apresentam à Câmara de Lisboa um quadro negro da situação económica e financeira do país
> 1712 - entra no Tejo uma frota vinda do Brasil, com carga estimada em 50 milhões de cruzados
> 1720 - exploração de jazidas de ouro na Baía e em Mato Grosso
> 1734 - descobertas novas jazidas de ouro em Mato Grosso
> 1753 - alvará estabelecendo monopólio régio para os diamantes do Brasil
> 1763 - grave crise económica, prolongando-se até 1770
> 1793 - lei visando o estabelecimento de um cadastro do País
> 1796 - alvará lançando empréstimo de 10 milhões de cruzados ao juro de de 5%
> 1797 - alvará lançando empréstimo de 12 milhões de cruzados ao juro de de 6%
< 1801 - novo empréstimo de 12 milhões de cruzados, constante de 20000 acções de 240 reis cada
> 1834 - lei da liberdade de imprensa
> 1834 - gravíssima situação das finanças públicas prolongando-se até 1836
> 1891 - aprovando contrato de trabalho garantindo a jornada de 8 horas, e fixando tarifa de salários mínimos
> 1892 - situação de quase bancarrota
> 1893 - Março, decreto sobre a criação de bolsas de trabalho
> 1894 - 14 Março, decreto sobre a mendicidade
> 1898 - Outubro, decreto sobre segurança e higiene no trabalho
> 1899 - 23 Março, decreto sobre a mendicidade
> 1900 - José Bento Ferreira de Almeida, antigo ministro da Marinha e do Ultramar, discursa na Câmara dos Deputados, em que defende a venda das colónias (excepto Angola e S.Tomé e Príncipe), para com cujo produto se poder pagar a dívida externa e fomentar o desenvolvimento do País.

Como porventura menos desconhecidas, deixei de parte tropelias praticadas pelas elites a partir de 1900 até hoje, e assim os diversos e diferentes sobressaltos porque foi passando a sociedade portuguesa, em consequência da irresponsabilidade/ incompetência/ corrupção/ desleixo/ ausência de sentido de Estado, dessas mesmas elites.
O retrato supra sugere, creio eu, um povo que basicamente sempre foi desgraçado, e elites a viver no fausto ao sabor do que era a história na Europa e um pouco por toda a parte. 
Elites que, parece, pouco terão cuidado da segurança e bem estar da sociedade/ dos seus concidadãos e do seu desenvolvimento.

Mendicidade constante, fome e pobreza, atraso, finanças públicas variadíssimas vezes em situação atroz, empréstimos e calotes, sumptuária para uns poucos.
Para o final do século XIX terão existido tentativas para alterar um pouco a sociedade no respeitante a, trabalho, comunicação social,  finanças públicas.
Mas quase tudo, depois de bem espremido, tendo dado sempre em pouco.
Por isso, creio, o Portugal que se encontrou em 1900 e daí a 1926, e daqui a 1969 e a 1974.
Bastante miséria, desemprego, analfabetismo, provincianismo, muitas doenças, elevada mortalidade infantil, muito atraso e generalizado.

O problema das colónias/ Ultramar/ províncias, esteve periodicamente em cima da mesa, com pouca, nenhuma, ou muita atenção, consoante as épocas e aflições internas, e os ventos da história mundial. 
Parece que houve quem, de vez em quando, olhasse para elas como um activo a despachar para compensar dificuldades do Estado.

A história não se repete?
Quando nos nossos dias se olha à mentira constante, ao ludibrio, ao equilibrismo faccioso, ao assalto da coisa pública, aos resultados concretos do sistema de justiça, à hipocrisia, à bajulação, qualquer cidadão médio deveria interrogar-se se, de facto, estamos no bom caminho, se temos tido anos saborosos, para usar uma recente e infeliz expressão de conhecido político.

Muitos afirmam que a política é a arte do possível. Será. 
Mas no caso português, salvo melhor opinião, há décadas, talvez mesmo pelo menos há século e meio, que se devia ter procurado atingir objectivos talvez considerados impossíveis. Tentaram? Outros o foram fazendo lá fora, com a tal arte do possível.
Quando olho para a nossa história, em particular de 1700 para cá, fica-me sempre a triste sensação de que a política em Portugal sempre foi prosseguida no interesse de uns quantos, poucos. 

Na monarquia e sobretudo os vários séquitos à sua volta, as facções na I República, as convulsões e os garrotes na II República de Salazar e depois Marcelo Caetano. De 1974 até ao presente tivemos infelizmente um ror de oportunidades perdidas. Será diferente com o PRR ? 
Duvido e muito. 
Vejo a esmagadora maioria dos meus concidadãos amorfos, acomodando-se, deixando-se facilmente iludir. 
E preocupo-me muito.

Por exemplo, e um só, quanto à questão da dívida, nunca se diz com rigor aos portugueses o que vem acontecendo com a dívida bruta e com a dívida líquida. Há diferenças importantes. 
Mente-se, dissimula-se. 
A realidade é que estamos entalados, encalacrados até ao tutano, mas jogam todos com as famosas expectativas. Festeja-se a melhoria das notações das várias agências, dizem que já não “somos lixo”. 
Mas o que mudou de facto, a sério? Vejo um mau “teatro".

Se Portugal fosse um País a sério, num tribunal e num mesmo processo, não se tratava um cidadão pela categoria profissional, e outro cidadão pelo primeiro nome.
Se Portugal fosse um País a sério, não aconteceriam actos de pura e pornográfica propaganda política, como semanalmente se constacta.
Se Portugal fosse um País a sério, o que se passou em Tancos estava completamente apurado, tinha doído a muita gente, e não seria por causa de murros no estômago. Vê-se que contou muito o não abrir um computador ou utilizar o elevador especial, ou sussurrar ao ouvido.
Se Portugal fosse um País a sério, não se assistiria a este espectáculo de uma qualquer instituição se dar ao luxo de não entregar documentação à Assembleia da República ou, classificar documentação de forma a dificultar ou mesmo impedir o seu escrutínio.

Se Portugal fosse um País a sério, não se passava o que semanalmente se vê no âmbito do futebol.
Se Portugal fosse um País a sério, um ministro com a tutela do desporto não diria “- …se o mundo do futebol e a sociedade quiserem o governo pode intervir….”
Se Portugal fosse um País a sério, o sistema eleitoral já há muito que estava alterado, com maior participação de cidadãos, com lei eleitoral modificada, com listas de eleitores actualizadas, e onde os partidos pequenos pudessem ainda assim ter voz.
Se Portugal fosse um País a sério, o sistema de justiça já teria sido melhor observado designadamente quanto a delongas, alçapões, testemunhas, prazos, megaprocessos, etc. A questão maior e delicada não estará certamente nos conselhos superiores, mas sim na legislação urdida há décadas, por quem e onde bem se sabe.

Se Portugal fosse um País a sério, a questão por alguns levantada - “sair do Euro?” - seria debatida com serenidade, com verdade, sem exaltações, e muito detalhadamente, e designadamente explicando nas TV’s e nos jornais o que aconteceria aos nossos depósitos bancários   no dia seguinte à saída da zona Euro.
Se Portugal fosse um País a sério, a comunicação social teria o seu lugar e acção indispensáveis, e não teríamos pouca assertividade, nem o melhor espaço para futebol, facadas, desastres nas estradas etc.
Se Portugal fosse um País a sério, há muito que o papel e dimensão das Forças Armadas estava equacionado e bem definido, e não andava com ministros patéticos ufanos de coisas de que se deveriam era envergonhar.
Se Portugal fosse um País a sério, tinha há muito (antes de 1974) repatriado para o país os restos mortais dos portugueses que tombaram em combate em África e na Ásia e, depois dessa data, tinha estabelecido acordos com os novos países/ ex-colónias para repatriar os restos mortais dos que por lá continuvam sepultados.

Se Portugal fosse um pais a sério, o poder legislativo estaria de facto na Assembleia da República e não em certas agremiações. 
 
Num país a sério, os titulares dos órgãos de soberania, as chefias de demais orgãos e entidades, os dirigentes de empresas públicas e privadas, as chefias em geral, TODOS, teriam sempre bem interiorizado que estão em cargos temporariamente, para servir a sociedade, e não servir-se.

Como sempre tenho escrito no meu blogue, como sempre defendi enquanto profissionalmente na vida activa, como sempre continuo a fazer, procuro ponderar, olhar à minha envolvente, formular opiniões. 
Penso pela minha cabeça, tenho convicções, e concordando ou discordando, respeito sempre as opiniões alheias. 

Continuarei a tentar minimizar as minhas limitações, e a dar a mão à palmatória por erros aqui ou ali. Assim respeitem as minhas opiniões.
António Cabral

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