sexta-feira, 24 de março de 2023

PARA LÁ da BORRASCA RECENTE . . . .

Para lá da recente borrasca na Marinha, e porque nos últimos tempos tem havido muitas declarações de várias criaturas, muita pompa acerca do futuro Conceito Estratégico de Defesa Nacional, há tempos que ando a ler muita coisa: livros, entrevistas antigas algumas mesmo muito antigas, legislação militar, etc. 
Ontem reli o artigo supra, do Expresso de 17 de Junho de 2022,
e este em baixo, de 28 de Outubro também de 2022.
Neste, escrevi na altura - certos jornalistas fazem lembrar metralhadoras, escrevem sobre um dado tema mas aproveitam para matar mais coelhos - e é delicioso reler agora, quando se tem passado o que se sabe, e para novo CEMGFA (Chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas) afinal Costa e Marcelo quiseram o general chefe do Exército. Um dos que não fala para as FA e ao mesmo tempo para o país.

Pois neste artigo de Outubro do ano passado, o jornalista citava entre muitas outras coisas sobre o actual chefe da Marinha - que o próprio terá já terá feito chegar a António Costa o recado de que gostaria de continuar a desenvolver o seu trabalho para "revolucionar" a Marinha
 Uma das delícias deste artigo de Outubro é a citação de um general sobre Gouveia e Melo.

Mas a propósito de Marinha e o empenho em revolucioná-la, no bom sentido, naturalmente, os problemas na Marinha não começaram com o actual chefe (como aliás nos outros dois Ramos das FA, nem com o chefe da Força Aérea nem com o general do Exército que agora é CEMGFA), e o que se passou há dias na Madeira é certamente um indício dos muitos problemas. Um mau indício. Na sequência da bronca na Madeira, com o patrulha Mondego, a Marinha reconheceu formalmente que anda há bastante tempo em - modo degradado! Mas, é bom reafirmar, um intolerável acto de indisciplina.

Ora pode falar-se para a Marinha em público considerando que se fala para o país também, como se viu há dias, ou pode falar-se só para a Marinha dentro de portas, nomeadamente de viva voz para todas as chefias superiores e intermédias.

Neste caso, mesmo sendo dentro de portas, convirá que se seja cuidadoso e e rigoroso, e se tenha a noção exacta de que em política é que fazem promessas que sabem não cumprirão em grande parte.

Eu, que muito pouco ou quase nada sei destas coisas, tenho como meu melhor amigo militar um almirante reformado e calejado, que ao longo da vida me tem contado muita coisa da sua longa carreira, da sua experiência nacional e internacional. Tenho sempre presente o que com ele aprendi sobre a Marinha, as Forças Armadas, a Defesa Nacional e sobre a NATO e as Marinhas de países amigos e aliados.

E baseando-me no meu amigo:
> nenhum chefe militar, por si só, conseguirá alguma vez inverter a situação grave relativa a pessoal,

> nenhum chefe militar, por si só, conseguirá melhorar o recrutamento, ou a seleção de pessoal, menos ainda resolver a questão da retenção de pessoal nas fileiras, se o governo nada alterar na situação presente que conduz, por exemplo na Marinha, a uma perda de pessoal na média de 1,3 homem por dia,

> nenhum chefe militar pode, por si só, alterar gratificações, suplementos, vencimentos, uma competência exclusiva do governo, pelo que quem eventualmente prometa que tudo isso vai ser em breve alterado só pode estar a gozar com quem trabalha, como diz Ricardo Araújo Pereira, 

> eventuais desejos de alterações de carreiras dependem naturalmente de alterações de estatutos, coisa que tem de ir aos poderes executivo e legislativo,

> o governo prometeu agora, repito, prometeu agora, entregar uma tranche anual (durante 3 anos) de 13 milhões de euros para manutenção de navios, verba que, parecendo muito, se afigura relativamente escassa para a dimensão dos problemas que publicamente se conhecem, quanto mais para os que se desconhecem e devem ser muitos e graves, 

> em 2004 havia quem sonhasse que os estaleiros de Viana do Castelo iriam dar cumprimento a um plano de construção de dez patrulhas oceânicos mas, como se sabe, esse plano nunca foi cumprido, está longe de ser cumprido, e sendo agora os estaleiros privados os negócios tratam-se de forma diferente,

> sobre os estaleiros em Viana do Castelo, não será despiciendo dizer que os sonhos de que lá se construa a oitava maravilha da construção naval, inexistente em qualquer outra parte do mundo, relevam de delírio genuíno,

pelo que . . . . . vou aguardar novos desenvolvimentos, esperando que se apaguem objectivos outros que não os das FA e particularmente os da Marinha nacional.
António Cabral (AC)

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