terça-feira, 3 de outubro de 2017

ELEIÇÕES,  DEMOCRACIA
Algumas coisas para mim interessantes, sintomáticas, no pós resultados das autárquicas 2017, são por exemplo (sem interesse a ordem):
1 - "não vão demorar a perceber o erro"
2 - "se não querem escolher, depois não se podem queixar"
3 - "independência e defesa da liberdade"
4 - "Em Oeiras, um certo país provou que pertencer a um nível social com elevada educação académica e de rendimentos não significa necessariamente ter padrões morais e cívicos recomendáveis, na hora de votar
- "estas eleições autárquicas são a festa da democracia"
- "obtivemos uma grande vitória em Lisboa"
- "a minha reflexão? está a andar bem!"

Salvo melhor opinião, a festa da democracia não são as eleições autárquicas. São-no também. As presidenciais e as legislativas são-no igualmente. A festa da democracia é o exercício do direito, do poder, de ir votar em eleições livres. O direito e poder de escolher.
Que paciência para aturar esta gentinha toda que, desde licenciados e muitos depois do 25 de Abril sabe-se como o conseguiram, nunca fez nada na vida senão à mesa do OE. Trabalhar no sector privado, por conta própria ou por conta de outrem, trabalhar no sector público, mas trabalho. Depois sim, trabalho político, como gostam de dizer.

Voltando à questão da escolha coloca-se-me, uma vez mais, o parâmetro abstenção. Uma das mais elevadas. Que causas de tão grande abstenção? Porque tanta gente, na rua, repete "ad nauseum" são todos iguais? Os votos brancos e nulos contam para a percentagem de votantes. A abstenção é um grito, será em muitos casos um "quero lá saber", e por aí fora. Causas? Porque não se discutem, em concreto, por exemplo entre os doutos, Seixas da Costa, Júdice, Morais Sarmento, Rui Rio, Ricardo Costa, Estrela Serrano, Marques Mendes, Manuela Ferreira Leite, Passos Coelho, Jorge Coelho, António Costa, Catarina Martins, Jerónimo de Sousa, Miguel Sousa Tavares, Marcelo Rebelo de Sousa, etc? 

Porque continuam a não se limpar os cadernos eleitorais? A todos os partidos, na prática, convém?

No plano das salientadas vitórias e derrotas, à cabeça pelas derrotas e pela primeira vez, um claro assumir do desastre por parte do PCP, ainda que muito maquilhada com paleio, tipo para encher chouriços.
"No fim do jogo os prognósticos", mas fácil é adivinhar as azias que estão a surgir como vulcões e que vão esgotar as pastilhas na farmácia. E o presidente Marcelo se calhar também vai tomar algumas. PCP e BE, sentindo-se dispensáveis?
No campo das vitórias, o edil com cara de menino ganhou em Lisboa. Mas, mal que pergunte, que é feito da maioria que Costa lhe tinha deixado? Vitória, sim, clara, mas digam o resto.
Estrondosa vitória da líder Cristas. Para mim uma saborosa vitória campanha bem direcionada, e lá estão todos os meninos do costume do sistema OCS a elegerem-na como o futuro. Eu aguardaria um pouco.
A atriz Catarina lá arranjou um descendente de combatente em África e, pelo pouco que liguei à coisa, creio que se desempenhou bem do seu papel, e arrancou um resultado de elogiar. Sem dúvida, creio. Mas, por outro lado, convenhamos, em termos nacionais, a implantação do BE não continua fraquinha? (
estava tentado a escrever ridícula). Sobre o PS, creio que mais ou menos se aguardava o que aconteceu, com o vivaço do PM a injectar a costela nacional, deu ainda melhor resultado que o esperado.

Ao cair, o som no soalho foi verdadeiramente angustiante, um estoiro, um grande trambolhão deu o PSD. Mas sobretudo porque foi um desastre em Lisboa e no Porto. Porque, se se analisarem bem os resultados e vou esperar por Pedro Magalhães, penso que a derrota, muito grande, não terá os contornos tão trágicos traçados com risinhos de contentamento apatetado pelos jornalistas do sistema. Olhar ás percentagens todas, ás capitais de distrito ganhas e perdidas, e por aí fora. E a abstenção.

Agora Oeiras, Gondomar, Matosinhos, Loures.
Loures, PSD com o seu comentador de futebol ganhou o 3º lugar. O agora autarca Ventura parece ter dito que o PSD devia olhar para os resultados em Loures. Concordo completamente, mas pelas razões opostas ao que creio ele está a pensar.
Em Gondomar, Valentim Loureiro arrumou. Arriscaria dizer, a média das pessoas hoje em dia tem frigoríficos, televisores e máquinas de lavar. E compra batatas nos diferentes supermercados. Em Matosinhos, creio que muitos têm boa memória, e isso chegou.
Quanto a Oeiras, alguns, vários, dos que por aí andam há anos a dar cabo do fígado pela Pátria e a tecer doutrina laudatória, acham que por lá os padrões morais e cívicos não são nada recomendáveis.
É bem capaz de acontecer. Gosto de os ver na sua superioridade a escrever e falar sobre decência, sempre na convicção que os outros são completamente burros e não conhecem nada de "mundo".

Mas talvez se possa olhar a outros aspectos, também. Isaltino de Morais, se me recordo, esteve cerca de 24 anos em Oeiras. Quem for ao concelho e não apenas a Oeiras, encontra certamente muitos aspectos que aliciam qualquer pessoa normal a eventualmente não se importar nada de para lá ir residir. Por variadíssimas razões.
Mais para o fim desses anos descobriu-se, e ainda bem, que Isaltino fez coisas recrimináveis, foi julgado, penso que andou a tentar fugir ás decisões judiciais, acabou por cumprir pena de prisão. E ainda bem.

A este propósito estou a lembrar-me de vários constitucionalistas, de vários sapientes do direito que professam aquela teoria acerca da recuperação e da integração na sociedade e, por isso me interrogo. Isaltino cumpriu, pagou à sociedade ou não?
Pessoalmente, não me esqueço que teve um comportamento de, no mínimo, grande trafulha, e corrupto. Mas pagou à sociedade.
Depois de preso, solto, não pode retomar a vida normal? Ou há aqui uma chatice para alguns senhores - assim o Vistas e o Raposo ficam sem possibilidades? É que foi só maioria absoluta. Agora, daqui para a frente escrutínio rigoroso.

Porto, não me espantou a vitória de Rui Moreira. Quem conhecer o Porto, a classe média (
baixa, média, alta) e as elites (é só ver o ex-cavaquista que entregou o cartãozinho) não se espanta. Haverá questões de ideologia, etc, etc, mas a malta esteve a borrifar-se para o PSD, para o PS, e o CDS encostou-se inteligentemente ao Ruizinho. É só conhecer o Porto, a sério.
E no Porto, um professor universitário, que julgo saber de grande dignidade intelectual, com coragem para dar a cara pelo PSD, politicamente ingénuo, teve um péssimo resultado como seria de esperar, mesmo que o PSD não estivesse tão abandonado das elites que, há décadas, tratam da vidinha e gostam de coisas chiques. Para lá da questão de princípios, da questão ideológica.

Não me parece que seja uma questão bem de imagem do País, é mais uma questão de realidades da vida. Isto dá ideia de a democracia estar pobre, adoentada? Bem provável, mas também valerá a pena tentar perceber certos meios, as pessoas, em Sintra, Lisboa, Porto, Almada, Alcochete, Montijo, Castro Verde, etc. 
As cassetes de fita sempre tiveram um problema, por vezes a fita saía, cassete estragada. E as cassetes, estão há anos no PCP é certo, como se sabe, mas mais disfarçadamente, também, em muitas elites, comentadores, jornalistas.

A campanha autárquica, do meu ponto de vista, foi fraca, talvez mesmo medíocre. E estou certo que gastaram muito dinheiro. Este, um aspecto decisivo, que devia ser contabilizado, averiguado, divulgado com rigor. Cada vez mais penso que existe aqui matéria de grande escândalo.
Porque o poder autárquico é verdadeiramente importante, porque escorrem milhões há anos, porque a par do desenvolvimento generalizado das terras (
olhe-se 40 anos para trás), melhoria de qualidade de vida, muita coisa errada tem sido feita.
Vai-se verificando, por exemplo, que muita obra de saneamento foi sendo feita a preços e materiais mais baratos e, agora, anda muita coisa a estoirar em cidades vilas e aldeias no Portugal profundo.

A política caseira, creio, está pobre, na qualidade geral, em todos os partidos.
Todos, ou pelo menos uma grande maioria, jornalistas e políticos, estão excitados com a vida no PSD. Com Passos Coelho, sobre quem já escrevi e designadamente sobre as burrices que praticou e mandou praticar, a par de muita coisa que tinha de ser feita. Não perco mais tempo.
Mas, numa linguagem sem rendinhas, para mim, Jerónimo, Catarina e António Costa estão os três a rezar, em conjunto, para que Passos fique mais tempo, o mais tempo possível. Senão, onde ir arranjar outro inimigo?

Quanto ao PSD, e respeitando sempre as opiniões alheias, que ideia concreta têm para o País, Manuela Ferreira Leite, José Eduardo Martins, Morais Sarmento, Rui Rio, Silva Peneda, Ângelo Correia, Feliciano Barreiras Duarte, e muitos outros?
Ah a maioria deles já deu muito ao partido. 

Sim sim, pela minha parte lembro-me bem de alguns, por exemplo a aterrar no aeroporto de Valkenburg/ Haia nos idos de 91/ 92, a azáfama das compras, as reuniões antes de Mastrich.
Todos deram muito ao partido, tanto que ficaram cansados e trataram de ir à vidinha, há muitos anos. Há décadas? E isto havendo poucas misericórdias ricas.
Como de certa maneira foi acontecendo também no PS e CDS.
Aguardemos.
AC

Sem comentários:

Enviar um comentário