sábado, 12 de março de 2022

HOJE, E SEMPRE, POUCA VERGONHA, VERSALHES

Dizem alguns - o mundo está perigoso. Penso que estamos perigosamente a caminho do cataclismo, em solo Europeu. Oxalá me engane, mas nada vai ser como dantes e tal pode começar a confirmar-se já ao virar da esquina.
Nada do que eu e outros escrevamos altera o que se está a passar. 
Ainda por cima, no meu caso, pouco sabendo de geopolítica e de muitas outras coisas. Como ignorante de quase tudo, tenho pelo menos uma vantagem, é que procuro não me espalhar, e por isso leio muito e estudo, há muitos anos. E como cada vez me sinto mais ignorante, nunca diria que a Rússia não invadiria porque só tinha na fronteira cerca de 150 000,00 homens! 

Como nunca tolerei que me tomem por parvo (a comunicação social e em particular a portuguesa, e a maioria dos políticos e elites nacionais) aqui fica uma reflexão de quem se orgulha de pensar pela sua cabeça, de quem reconhece quando se engana, ter em conta sempre a panóplia dos cinzentos na vida, a geografia e a história. 
A geografia não se altera. A história não é tudo, mas ajuda muito. 
Mas a história sr Putin, não justifica a agressão militar da Rússia.
Ah, e como sempre procuro ser imparcial, provavelmente vou ser mais um acusado de Putinista, ou Russófono! A minha vida demonstra o contrário.

O título desta minha reflexão deriva da pornográfica (para mim, naturalmente) ostentação dos "riquinhos" em Versalhes, confraternizando com uns bimbos que parece não perceberem que como tal são considerados ainda que com sorrisos e abraços. Uma autêntica pouca vergonha face ao mais de milhão e meio de desgraçados Ucranianos. Uma farsa formalmente justificada com a burocracia da UE mas amplificada por razões de política interna Francesa, por razões de Macron.

Inqualificável a agressão militar da Rússia. Há poucos dias recordei mapas explicativos (de forma sintética) do evoluir dos tempos até se chegar à Rússia dos finais do século XIX. 
Nada justifica o presente. 
Mas deve ponderar-se tudo, e ter presente que os anjos e puros estarão no Céu, e não estão, certamente, em Moscovo, Pequim, Berlim, Londres, Nova Deli, Paris, Kiev, Haia, Bruxelas, Washington, Tóquio, Seul, Damasco. Cairo, Telavive, Ankara.

É sabido como se enfrentaram Áustria, Prússia, Rússia, França, Reino Unido, Itália, Japão entre 1864 e 1906. Dupla Aliança, Tríplice Aliança, de um lado a outro, anexações, guerra. Em 1867 é concedida independência à Hungria ainda que Francisco José continuasse como seu rei. 
No antigo império Austro-Hungaro a miscelânea de culturas e nacionalidades era enorme. Após independência da Hungria, pela Europa se foram firmando crispações, Eslavos, Croatas, Eslovacos, Checos, etc. E os Balcãs sempre em polvorosa, Bulgária, Sérvia, Grécia, império Otomano.
E a Rússia a apoiar a Sérvia. Depois de muita conversa e do célebre assassinato, império Austro-Húngaro declara guerra à Sérvia, irritando e muito a Rússia, que marcou posição. E acabou tudo desaguando na I GG.
E voltamos a Versalhes, e é conhecido o que sucedeu de 1919/ Versalhes a 1945.

Acabada a II GG, o "democrata" Estaline espraiou-se Europa dentro. 
A 20 de Novembro de 1945 iniciaram-se os julgamentos de Nuremberga, a 10 de Dezembro de 1948 concretiza-se um marco histórico, a Declaração Universal dos Direitos Humanos. 
Surge a ONU, em que Portugal não é membro fundador, veto da URSS. 
A superioridade dos EUA era incontestável e incontestada, ainda por cima com o nuclear já dentro dos paióis. Mas Estaline não se fez rogado, e entrou para o clube nuclear em 1949. \
Em 4 de Abril de 1949 nasce a OTAN/ NATO. 
É célebre a frase - Americans IN, Russians OUT, Germans DOWN.
O Pacto de Varsóvia foi criado em 14 de Maio de 1955, depois da fundação da OTAN, e dissolvido em 1 de Julho de 1991. 

Síntese mesmo muito espremida, erigiram-se dois blocos, dois antagonistas, sistemas económicos distintos, democracias de um lado, ditaduras e autocracias de outro. 
A 8 de Maio de 1949 constituiu-se a República Federal Alemã e a 7 de Outubro do mesmo ano a República Democrata Alemã. Depois ocorreram, por exemplo, o bloqueio a Berlim, o muro de Berlim e o esmagar de veleidades democráticas na Hungria e na então Checoslováquia.

Como sempre, no chamado Ocidente, todos fazendo-se esquecidos por exemplo, das doutrinas Monroe e Truman que devem o nome aos respectivos presidentes dos EUA. 
E ficou registada a crise de Cuba. Porque os EUA, obviamente, não queriam mísseis Russos à porta mas, por outro lado, entendiam que não era problema mísseis americanos na Turquia à porta da Rússia. Sabe-se como acabou.
E houve os episódios vários no âmbito das descolonizações em África e Ásia, com influências dos dois blocos.
E houve os "tumultos" diversos nos "quintais" Americanos, as Américas Central e do Sul.

Por outro lado, havia uma coisa no papel desde 1948, UEO (União da Europa Ocidental) que nos anos mais recentes acabou integrada na UE. E desde os anos 80 do século passado, na Europa, muitas voltas deram os chavões como PESC (Política Externa e de Segurança Comum), IESD (Identidade Europeia de Segurança e Defesa), EUROCORPO, PESD (Política Europeia de Segurança e Defesa). 
E, sempre, muitos tratados, muitas conferências, novas estruturas político-militares, muitas cimeiras. Muitas convivências tipo Versalhes.

Em síntese, uma Europa tipo balão com escasso ar, mas sempre com o confortável guarda-chuva militar americano. 
Americans IN, Russians OUT e, particularmente, a Alemanha recuperando da guerra também com os dinheiros Marshall, confortável por praticamente nada gastar para coisas militares, tratando de erigir o seu império económico e financeiro, e o seu Estado Social, tratando de docemente alargar a influência às regiões onde no passado a tivera. O que se passou com aquilo que hoje é a Croácia é ilustrativo. E mandando na UE, mas dando sempre a impressão de acatar a França.

Recordar que tivemos, por exemplo, a postura dos Estados Unidos disfarçada de NATO de alargar a organização para Leste, não inocentemente, dada a dissolução havida do Pacto de Varsóvia. Houve, a cimeira de Roma de 1991 em que se estabeleceu uma estrutura de cooperação e um novo conceito estratégico, a Cimeira de Bruxelas de 1994, a Acta Fundadora de Paris de 1997 e a Associação da Rússia à Aliança Atlântica com o Conselho de Parceria Euro-Atlântico.

Muito blá-blá diplomático, de um lado e do outro, mas sobretudo do lado Ocidental. 
Pelo meio, houve uns pequenos "episódios", formalmente alicerçados nas resoluções da ONU. Umas operações de paz sob a égide da ONU na ex-Jugoslávia, 1992, mais umas quantas entre 1992 e 1995 sempre sob a égide da ONU, com um papel da NATO pelo meio, IFOR, Daytona, mais umas acções sempre pelo bem, Kosovo, etc.
Sem ser sob a égide da ONU, a Rússia entreteve-se igualmente, 2008 a 2014. Um forrobodó de todos os lados, nuns casos pelo bem, em outros casos pelo mal. 
Em qualquer caso, sempre a tramarem-se dezenas e dezenas de milhões de pessoas por causa dos jogos de Putin, Clinton, Bush, Obama e vários Europeus sempre em bicos de pés.

Como disse acima, quem sou eu, um simplório cidadão, para me atrever a definir seja o que for, a culpar seja quem for. Mas penso sempre no ovo e na galinha.
Na minha ignorância, tenho muitas dúvidas, como por exemplo estas:
1º - esta pouca vergonha ficará contida, ou vai extravasar?
2ª - Ursula, Macron, Scholz, Michel, e companhia limitada, têm a noção real de que, mesmo para os mais ricos, isto não vai correr nada bem?
3ª - terão a noção real que a destruição, se isto extravasar, ocorrerá eventualmente também em áreas da chamada Europa Ocidental? E, então, mais uma vez, Europeus DOWN?
4ª - a guerra de informação fala em armas bacteriológicas; será que apenas os Russos se tentarão? Quando da dissolução da URSS nada ficou na Ucrânia, na Bielorússia, Cazaquistão, etc.?
5ª - quantos telefonemas Schroeder/ Gazprom já recebeu para não fechar o gás esta ano à Alemanha?


Na minha ignorância tenho as certezas seguintes:
1ª - o cu da galinha e o ovo imediatamente a ser expelido, não são recomendáveis;
2ª - não sei quem apareceu primeiro, se o ovo se a galinha;
3ª - as fábricas de armamento, nomeadamente, Americanas, Alemãs, Britânicas, Francesas, Belgas, Holandesas, esfregam as mãos de contentes;
4ª - a verdade e a análise, mais uma vez, são vítimas;
5ª - Os Estados Unidos intervieram nos assuntos internos Ucrânia pelo menos desde desde 2014, e a Rússia no Donbas e anexou a Crimeia; 
6ª - todos, mas particularmente EUA e Ucrânia têm cuspido nos acordos de Minsk;
7ª a Ucrânia cada vez se sentiu com as costas mais quentes por parte dos EUA e UE e não percebeu que, na pancadaria, ficaria só frente à Rússia ainda que recebendo  armamento Ocidental pelo que progressivamente aumentou as provocações face à Rússia;
8ª - a agressão militar da Rússia à Ucrânia, em pleno século XXI é inaceitável.
9ª - prevalece na cabeça tonta dos dirigentes Europeus a retórica da confrontação, para gáudio dos EUA que interessados estão que a Europa fique DOWN!
10ª - a memória, ai a memória!

Enfim, nada do que escrevo interessa, mas fico bem comigo. Não tenho aspirações a essa treta de "influencer", a dinamizar redes, a escrever para OCS (tem que se pertencer a "clubes", e cultivar certas amizades, e eu não gosto disso). 
Estou bem assim.

Divirto-me a ler e ouvir as "komentadeiras". E divirto-me a ler e ouvir as vozes dos irados particularmente civis, alguns ligados familiarmente aos poderes
Divirto-me a ouvir os veementes. E ouço por aí uma patética criatura que continua a não perceber o que é, diplomacia, interesses, dependência. Sobretudo não percebe porque não sabe, o que é dignidade institucional, coerência, decência, sentido de Estado.

Mas nada me divirto com o que se passa, designadamente no meu desgraçado país, onde pontificam umas criaturas sentadas em palácios e passeando constantemente de Falcon ou em viaturas de luxo, à conta dos do costume. 
Não seria grave se alguma coisa de concreto fizessem pelos cidadãos.
NADA FAZEM de CONCRETO. 
Tudo, todos os problemas do país, estão esquecidos, escondidos. 
Uma vergonha, e digo-o VEEMENTEMENTE! 
Antonio Cabral (AC)

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