Como sempre acontece em ocasiões de sobressalto - Ai que alvoroço, ai que tumulto, ai que desgraça, e logo gritam, "estamos preparados para a guerra"?
E lá aparecem frenéticos os jornalistas a quem chamam "especialistas" destas coisas. E, também, "Especialistas" institucionais, académicos de faculdades, universidades ou institutos ou outros académicos aí agregados, e militares reformados, aparecem também a dar as suas visões. Muitos doutores e doutorandos.
Em democracia ouvem-se as opiniões diversas, concorda-se, ou discorda-se, argumenta-me, respeita-se, deve respeitar-se sempre todas as opiniões.
É o que sempre fiz e assim continuo.
Mas discordo de muito do que por aí ouço e leio e, legitimamente, penso diferente em muitas coisas. Respeitosamente, vários cantam mas não me encantam.
Coisas que sempre tive por óbvias:
> a posição geográfica de Portugal não mudou; a geografia não muda pelo que, o mar, a ZEE, e o alargamento da plataforma Continental que os ditos nossos amigos (??) e aliados (??) e outros teimam em manter congelado, mostram sem sombra de dúvidas qual devia ser desde sempre a prioridade quanto a Defesa Nacional (DN) e Forças Armadas (FA):
> devia ser a prioridade, mas nunca foi, apesar de loas ao mar desde o próprio Mário Soares passando por muitos a uns mais recentes, mas que de retórica para "tuga" ouvir nunca passou, como continua a não passar;
> devia ser prioridade, nunca foi e não o é para quem ainda antevê projectar grandes unidades militares; irritam-se com a realidade geográfica, a de água por quase todos os lados deste Portugalinho;
> DN não é = FA; as FA constituem o pilar último a que recorrer para defesa do país; tenho quase a certeza de que, para a esmagadora maioria da população civil, é exacto que DN = FA;
> dificuldades crescentes no seio das FA é realidade antiga, tem pelo menos 30 anos, e culpa primordial dos poderes institucionais, dos poderes públicos, todos ao longo do tempo, de Belém a S.Bento (PM e deputados);
> os poderes, os titulares dos órgãos de soberania, e desde 1982, NUNCA quiseram definir que FA o país devia ter, NUNCA; andaram sempre a enganar a perna à rã, asfixiando gradualmente as FA existentes;
> a maior parte do orçamento anual das FA é sempre para pagar salários;
> a designada Lei de Programação Militar (LPM) criada salvo erro nos meados/ finais da 2ª maioria absoluta de Cavaco Silva/ PM, tem sempre contemplado material para reequipamento militar mas foi sempre defraudada na sua execução, sempre, sendo disso responsáveis os governos PSD e PS mas mais ainda os socialistas;
> a esmagadora maioria da população abaixo dos 30/35 anos discorda de serviço militar obrigatório; a restante parte da população também creio que para aí não está nada virada;
> este sentimento condiciona totalmente, e bloqueia, as elites partidárias, por causa das suas queridas "juventudes"; ai as juventudes;
> são formalmente condicionantes da posição nacional, a OTAN/ NATO, a União Europeia (UE) e os documentos estratégicos e outros que daí imanem; mas isso não é de agora, e nunca foi obstáculo a que os sucessivos governos do PSD e PS fizessem sempre orelhas moucas ao que se devia atribuir para os orçamentos das FA; chegou-se ao ponto vergonhoso de engenharias financeiras contabilizando os gastos com a GNR e certas "ditas" empresas englobadas actualmente nessa famosa - "idD Portugal Defence";
> "Podeis enganar toda a gente durante um certo tempo; podeis mesmo enganar algumas pessoas todo o tempo; mas não vos será possível enganar sempre toda a gente"; isto recordado, a realidade é que, em Portugal, andam a enganar-nos há muitas décadas e, infelizmente, muitos gostam;
> para um processo de decência, a ética deve comandar a política, esta comandar o direito, e este comandar a economia; tal como não acontece em Portugal;
> o medo é o pior dos conselheiros;
> e, tal como alguns, tento não errar, mas não receio o erro, pois estou sempre pronto a reconhece-lo, e a corrigi-lo.
Curiosidades que, agora com a guerra, se ouvem por aí:
> afinal é "back to basis",
> capacidade para projetar grandes unidades,
> é inevitável um alinhamento no sentido estratégico e no reforço de de capacidades, e vai obrigatoriamente incidir no reforço do investimento na Defesa;
> vai mudar muita coisa;
> é ter convencional suficiente;
> eventualmente será necessária alguma reorientação do investimento e reforçar alguma parte. E olhar para tudo isso em função das prioridades que forem definidas nos conceitos estratégicos;
> acrescentar equipamentos na LPM que permitam aquisições mais rápidas de material básico, desde munições, armas anti-carro;
> clara novidade, que foi a linha vermelha, de se voltar a uma guerra convencional, ter sido ultrapassada com esta invasão;
> isso requer alguma reflexão no âmbito da revisão da LPM para reforçar as verbas para o funcionamento das operações (manutenção e funcionamento dos equipamentos) e os recursos humanos - olhar com outros olhos para o recrutamento e para as condições de atração da carreira militar:
> repensar um novo modelo de recrutamento;
> o que está previsto é chegar aos 1,68% em 2024. Vamos ver se as circunstâncias o permitem"; dizem que estas são palavras mornas; ao que chega a subserviência.
O louco Putin não é flor que se cheire.
Contrariamente a muitos, para mim isto não é apenas da cabeça dele, sendo certo que ele é central em tudo e desde que, há pelo menos duas décadas, todas as noites se vangloria diante do espelho e lhe pergunta - há algum ditador mais bonito do que eu?
E com o "isto" refiro-me concretamente a tudo o que ele vem fazendo desde que estava a milímetros de suceder a Ieltsin e, muito concretamente, à presente e a todos os títulos inaceitável agressão militar.
Estrategicamente, e aparentemente, parece estar a revelar-se um desastre.
Agressão Inaceitável, seja qual for a perspectiva pela qual se queira analisar a situação, mesmo sabendo-se alguma coisa da evolução histórica e, nomeadamente, entre o século XV e início do século XX. INACEITÁVEL.
Há muitos anos, desde concretamente os últimos meses de Ieltsin, que existem dezenas ou mesmo centenas de "cabecinhas" que pertenceram e/ou pertencem às secretas Russas e que estão instalados por toda a máquina estatal e administrativa Russa. Tal como Hitler não esteve sozinho.
No que respeita a Portugal lembro-me sempre de Keenan, algures em meados do século XX e que terá escrito mais ou menos isto - que as nossas fronteiras estavam muito distantes de conflitos, mas que eram indefensáveis, seja contra uma potência Continental seja contra uma Marítima e, portanto, nós assim sempre dependentes de manobras político-diplomáticas.
Vai mudar muita coisa, dizem alguns!
Não, por cá, não vai mudar NADA, ou praticamente nada, opinião pessoal, naturalmente. Refiro-me à questão da DN e das FA. Porque vai mudar E MUITO a nossa vida, vamos passar tempos muito difíceis.
Sei que ELE está sempre muito atento.
Tão atento que convocou para ontem o Conselho de Estado. E certamente muito vigilante, atento às medidas do governo. Hoje, finalmente, depois de muitos beijinhos e visitas e selfies, lá falou e até disse coisas importantes. Anunciadas medidas pelo governo. Agora,…..concretizadas,…... "bamosber"!
Relativamente ao passado recente, ao período desde fim de 2019 ao presente, praticamente ninguém se queixou de não ter recebido os apoios anunciados durante meses e meses de pandemia. Será que todos, famílias e empresas, receberam?
Ou, se calhar, alguns não receberam mas, caladinhos, com receio de represálias no futuro, ou seja, porque há sempre boas maneiras burocráticas de dizer - não preenche os requisitos para esse apoio.
Ah, claro , isto é a minha veia mázinha, não tem nada a ver com o que os socialistas sempre solidários praticam. Socialistas e os outros, porque nesta coisa das realidades da vida, no relacionamento com a máquina estatal, com autarquias, quase não há monopólios na malandrice e na pouca vergonha, e na corrupção passiva, e no terrível exercício do poderzinho funcional.
Voltando a doutores e declarações de intenções acerca da DN e das FA.
Parece que há algumas criaturas que demonstram conhecer (pelo menos de nome) o conceito estratégico da OTAN/ NATO e a Bússola Estratégica da UE.
Estou a imaginar a maioria dos meus concidadãos que eventualmente tomaram atenção a estas declarações, a olharem de boca aberta para estas elucubrações das elites e dos doutores estrategos e politólogos, exactamente como num filme português célebre em que as tias olharam embevecidas para o Vasquinho no seu exame de anatomia.
Atentando nas declarações particularmente de certas criaturas do PSD e PS e certos doutores civis e militares, e de outros agora numa fase da vida muito activos, vale a pena reparar que disseram por exemplo isto - antes de falarmos em - antecipar investimentos - defesa do espaço aéreo e marítimo, não esquecendo a ciberdefesa - rever rapidamente os programas de modernização das fragatas - o poder político sabe perfeitamente - não devemos sonhar com grandes exércitos, mas sim em equipas altamente especializadas.
Todos preocupadíssimos e cheios de belíssimas intenções. E muita estratégia.
O poder sabe perfeitamente como estão as coisas no âmbito das FA. Disseram.
Sabe mas, como sempre vem demonstrando, está-se borrifando para certas coisas e para certos senhores, muito activos agora, mas complacentes no passado e, ás vezes, quase servis tomando subordinação por quase submissão.
Mas nada complacentes com quem não tendo a letra muito redondinha nem levando trabalhinho para casa para agradar ao chefe, com dignidade e coluna vertebral e de forma reservada e em tempo próprio colocava questões a que se devia olhar. Questões a que o tempo veio a dar razão.
Querem-me convencer que o governo e, concretamente, o PM, mais o inarrável Cravinho, mais o almirante Chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas (CEMGFA) estão preocupados 1% que seja, por andarem por aí a sussurrar nos jornais que há militares apreensivos? Mas quais militares? E mais, esses estarão apreensivos, apenas e só, ou veementemente apreensivos?
Alguns adiantam que é preocupante - não assumir desde já que é preciso, no mínimo, antecipar investimentos que estão previstos para mais tarde na Lei de Programação Militar (LPM) é fugir ao óbvio - o que deve dar uma vontade de rir enorme ao governo, por várias razões.
Esquecem que não há verbas da LPM ?
Há sim aquilo que em cada OE for consignado como fatia para a LPM. Como para tudo o mais na gestão do país, para todos os sectores da sociedade.
Esquecem que o cumprimento de execução das sucessivas LPM foi sempre vergonhoso fundamentalmente por escassez de dinheiro noutras áreas da governação e, portanto, toca de rapar onde se podia. Mas alguns sempre acreditando - agora é que vai ser!
Estarão convencidos que este governo ou outro que fosse, vai desatar a gastar dinheiro? Não, não vai. E bem. Quase não há dinheiro.
As palavras do inarrável Cravinho que uma jornalista "especialista" carimbou como "mornas" isso confirmam. Aliás, Cravinho já tinha lembrado que, com a dissolução da Assembleia da República (AR), tinha ficado apenas concretizada a grande reforma (!?!?) no âmbito das FA, estando por alterar o Conceito Estratégico de onde derivam depois as missões para as FA e para os diversos sectores da governação e, quanto às FA, daí depois se retiram e definem prioridades e se atribuem meios. Escalonando-os no tempo e dentro das possibilidades do país. Tudo a ter que ser quantificado, definindo-se prioridades e fases e prazos para os necessários e inerentes investimentos.
E é forçoso ponderar que investimentos a fazer porque, por exemplo, mesmo sendo óbvio que o mar deve ser uma prioridade também a nível militar, e a vigilância do Atlântico uma das prioridades, a manutenção de submarinos modernos (também indispensáveis nesse papel) como os dois existentes na Marinha é coisa muito dispendiosa.
Como encaram isto o PR, os deputados da nova AR, o PM, o governo?
Como muito dispendioso é manter uma esquadra de fragatas e dispendioso mantê-las modernizadas, o que creio não vem sendo feito como devia ser.
Como encaram isto o PR, os deputados da nova AR, o PM, o governo?
Como encaram os titulares de órgãos de soberania tudo o respeitante às FA?
Eu imagino.
Mais grandes considerações, grandes proclamações, elogios constantes tipo - os melhores dos melhores - grupos de trabalho, ouvir os doutores encaixados em certos "clubes" agregados a faculdades/ universidades, pedir relatórios circunstanciados ao todo poderoso CEMGFA, etc. Lá para finais de Junho próximo se pensará melhor no assunto. Espera, não, de finais de Junho a fins de Setembro há que preparar o orçamento para 2023, há que ver como param as modas sobre o PRR, pelo meio metem-se as férias da malta toda, depois se vê melhor.
Qualquer interessado em coisas militares e preocupado com o país em todas as suas vertentes, não precisa de ser um "esperto" para ter a noção de que, hoje, a interdição aérea, o rebentar com cadeias logísticas, o cercar objectivos privando-os de meios de subsistência e sobrevivência, a guerra de informação, a guerra electrónica e informática, são as "ferramentas" da guerra dos nossos dias, chamemos-lhe "Clássica", "Convencional". Da guerra não nuclear, química e biológica.
Qualquer interessado sabe que nem todos os navios de guerra têm condições para operar no Atlântico alteroso, embora em Portugal andem por aí uns pândegos a pensar que podem comprar e usar uns barquinhos para passear até à Madeira.
Os tempos da "nação em guerra" estão lá muito para trás, e ainda mais para trás os tempos da "nação em armas". Os tempos de receber navios em 2ª mão do Reino Unido e EUA a seguir à II GG estão para trás. As relações havidas entre militares e o poder político antes e durante e pouco depois da II GG estão para trás. Os tempos da guerra colonial/ do Ultramar também já foram. A aceitação da segunda parte do plano Marshall está lá muito para trás.
Se percorremos a lista da participação nacional nas chamadas operações de paz, participação iniciada em 1958, cada um é livre de pensar o que quiser.
Pela minha parte, e baseando-me particularmente em algum conhecimento mas sobretudo no do meu melhor amigo militar, essas participações que, creio, foram sempre DIGNAS, são eloquentemente demonstrativas da nossa realidade, da nossa modéstia, da nossa pequenez, da nossa fragilidade como país.
Cada país tem um voto na ONU, e nenhum voto é melhor que outro, mas tenhamos a noção das realidades e das possibilidades. Quem dá o que tem a mais não pode ser obrigado. Mas convirá ter bem a noção de que é capaz de ser ridículo colocar-se em bicos de pés.
Tenhamos a noção, e não devo errar muito, se disser que por exemplo, nos últimos 5 anos do século XX, Portugal terá anualmente gasto cerca de 5 milhões de euros ou mais para manter 100 militares em intervenções no exterior, sob chapéu ONU ou OTAN. Se numa eventual participação militar no exterior se projectarem/ incluirem meios como navios e/ ou aviões, as inerentes despesas com essa participação subirão astronomicamente.
Voltando ao que a presente ignominia do ditador PUTIN a todos os seres humanos decentes coloca mas, concretamente, no que respeita ao nosso país, olhando ás nossas dificuldades e enormes limitações, presente que estava alinhavado que as verbas do PRR eram quase 100% destinadas á máquina estatal e amigalhaços, uma AR e um governo e um PR decentes e conscenciosos olhariam com urgência para o conceito estratégico que o país devia ter, global, nacional, e não o que tem tido e periodicamente alterado sob grande coordenação (!?!?) dos sucessivos e quase todos inacreditáveis ministros da defesa nacional (MDN).
E, por uma vez, debater final e seriamente, mas rapidamente e não andar meses e meses a encher pneus, o que nunca foi feito nacionalmente.
Definir, que FA deve ter um país rodeado de água por quase todos os lados, com as alianças e compromissos internacionais vigentes, com as responsabilidades internacionais que tem no Atlântico Norte, com a plataforma continental a que tem direito, um país geograficamente disperso como é o nosso.
É que, para os desatentos, de 1982 a este ano de 2022 em Dezembro próximo, fará 40 anos que se fez a primeira lei colocando alguma ordem nas áreas da DN e das FA. Não será mais do que altura de se tomar juízo?
Antes disto que deixo supra, antes de olhar seriamente para o problema que nos está colocado, e que tem de ser explicado a fundo aos portugueses alertando-os para o dificílimo período da nossa vida que aí vem, tudo o mais como o que se vem assistindo é puro folclore, e folclore eivado de, vaidades pessoais, com inconcebíveis agressões a militares por parte de certos jornalistas, com elucubrações de gente que ainda não percebeu que estamos no 22º ano do século XXI.
António Cabral (AC)
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