quarta-feira, 27 de janeiro de 2016

Como o PS olha para a defesa nacional (DN) e para as Forças Armadas (FA)
1. Como sempre acontece em tudo na vida, há quem defenda ""as suas damas"", o que é natural e compreensível. Mas já custa muito aceitar que quem devia ser prudente e racional, ao legitimamente apoiar quem entende, não mantenha ainda assim uma postura de relativa equidistância.
Até porque, a colagem excessiva pode trazer problemas quanto à sua aparente capacidade de influência.
2. Quem conhece bem as posições assumidas ao longo dos últimos 34 anos pelos sucessivos Primeiros -ministros (PM) e ministros da defesa nacional (MDN), em que estes em Portugal são apenas ministros das FA não desconhece que, apesar de algumas aparentes "nuances", a postura CDS, PS e PSD é/ tem sido sempre exactamente a mesma, para a obtenção de resultados que hoje estão cada vez mais à vista. Só desbocados e tontos podem considerar que o quadro triste das FA se deve exclusivamente aos últimos quatro anos e meio. Como se tudo não viesse a ser, desde 1983, por um lado laboriosamente tecido e, por outro, lamentavelmente desprezado.
3. Ministros houve que assentaram arraiais no edifício do Restelo e tudo pareceu indicar que aí trataram (??) do seu ministério mas também dos negócios do partido; outros por lá pouco apareciam.
Das coisas engraçadas (??!!??) de ver é a fama com que alguns ficaram. Mas convém mesmo é olhar ás realidades concretas, aos factos.
4. O ministro do "hífen", a meu ver naturalmente, tratou sobretudo de fazer asneiras em cima de asneiras. Claro que com dossiers encontrados a arrastarem-se anos a fio a tarefa ficou-lhe facilitada. Porventura uma das maiores asneiras, o cancelamento da construção de patrulhas em Viana do Castelo.
5. Com um problema nas FA que é um caldeirão de imensos problemas, de recursos humanos  financeiros e materiais, é interessante ver certos civis e militares cheios de esperanças com a nova governação. Naturalmente, a esperança deve ser a última coisa a perder-se. Mas esquecem-se de um pequeno detalhe: a postura política do actual governo é, DEVOLVER. Ora devolvendo, e não digo que isso seja indevido, essa devolução será um fardo orçamental muito pesado. Adicionalmente, crescendo a economia tanto como eu ser chinês, os recursos financeiros para as FA não irão aumentar.  Ainda por cima com a intenção já manifestada de aumentar as despesas com as forças destacadas no exterior. Coisa que me parece cada vez discutível, quanto à KFOR (creio que é o acrónimo).
6. Do que se conhece, o ministro Azeredo Lopes anuncia dinamização da componente externa da defesa, a valorização do exercício de funções na área da defesa, a consolidação do processo de profissionalização das FA, o estímulo da indústria de defesa. Quando olho para os últimos 34 anos,  a parte mais engraçada para mim é o reforço da ligação do sector aos portugueses. Belas palavras, mas.....aguardemos.
7. Por outro lado, e olhando para o passado, aos presidentes do passado (excepto Eanes) tivemos de tudo. Os presidentes PS (Mário Soares, Jorge Sampaio) ficaram famosos por várias coisas no que à defesa e FA respeita. Soares sempre manifestou um desprezo absoluto pelos militares em geral. Foi o famoso homem do "desapareça".
Sampaio creio que recebeu as então recém criadas associações militares sem que primeiro tivesse convencido as chefias militares de então a fazê-lo igualmente, e porventura antes dele. Do tempo de Sampaio ficou também, para mim, a enorme dúvida quanto ás decisões de envio de certos militares para o estrangeiro.
De Cavaco Silva, no segundo mandato, creio, conseguiu dar visibilidade aos ex-combatentes nas cerimónias de 10 de Junho É um exemplo. Mas da acção explícita dos três PR, melhor, dos três comandantes supremos das FA, o que de concreto resultou de melhoria, de proveitoso, de alteração real para a instituição militar? Na formação, na operacionalidade, na renovação?
8. Regresso ás FA e ao actual governo e actual MDN. As minhas terríveis "" S "" obrigaram-me a não conseguir ver de seguida a audição do ministro Azeredo Lopes na comissão parlamentar de defesa (CPD). Por razões profissionais, lembro bem CPD passadas, lembro e testemunhei presencialmente alguns discursos de MDN's, lembro-me de alguns secretários de estado da defesa.  Quero vincar, que de todas as experiências guardo bem as memórias, e também por essa vivência tenho uma percepção muito diferente de muitos. Nem melhor, nem pior, só DIFERENTE.
9. Da audição do MDN, ontem à CPD, o que concluí?
> que foi escolhido para MDN porque tem algum pensamento inclusive escrito em áreas, da DN, de política externa, e por ter uma bagagem intelectual muito acima da média, e uma soberba oratória;
> Que tentará aumentar as verbas para as FND no exterior;
> que, aparentemente, pouco mudará mas, sobretudo, que não o fará sem critérios, e sem avaliação prévia bem sustentada, e com identificação de consequências/ custos, seja em que área for;
> que está já bem conhecedor do seu "negócio", embora sempre manifestando muita prudência, e nada quanto a orçamento para a DN e para as FA, o que não se pode criticar no plano formal;
> que não me pareceu hostil a privatizações, tanto mais que na área da defesa ela foram definidas em governo PS mas, e registei, em alguns casos como EID, mostrou-se adepto de revisitar o processo;
> falou bastante do IASFA e ADM e, pareceu-me claro, que já está bem ciente que o dossier IASFA deve ser uma embrulhada, referindo explicitamente estranheza por certos aspectos;
> obviamente, nada prometeu de substantivo;
> ah, .....registei que já recebeu um secretário regional dos Açores, por causa das Lajes, mas ainda não conseguiu receber as associações representativas dos militares.
10. Nesta audição falaram alguns deputados. E teceram muitos comentários e teceram muitos elogios e fizeram algumas perguntas. Nada me espantou. Saliento a vacuidade do deputado do PSD que falou em primeiro lugar, de uma elegância e educação de realçar mas, espremido, ZERO. Saliento o deputado do PCP que deixou, a meu ver naturalmente, a confrangedora cassete do costume, mas muito mal preparada. A condução dos trabalhos pelo deputado do BE foi interessante (!!) A tudo o MDN foi de uma superioridade esmagadora.
11. O que espero? Um orçamento escasso para as FA, a mesma demagogia de sempre, as mesmas intenções enaltecendo o papel das FA, e pouco mais. Gerir da melhor forma o explosivo caldeirão. que é explosivo sem rastilho. Para isso o PM tem um assessor militar, um para a PSP, outro para a GNR. Desconheço se vai ter um da PJ, outro do SIS, outro do SIED, outro do SEF.
12. Existe um PR eleito. O que esperar dele? Pouco. Não tenho dúvidas do seu sentido de Estado, que olhará para a instituição militar com a dignidade que se impõe, fará esforços para publicamente enaltecer o inestimável e insuperável papel da FA mas, olhando à CRP que nada de concreto e palpável na vida real reserva para o PR, e sobretudo lendo a legislação que enforma a DN e as FA, fácil é verificar que o PR pouco de efectivo pode fazer para alterar o ""status quo"". Sem dinheiro não há navios a construir em Viana do Castelo, não se melhora operacionalidade, sem dinheiro não há modernização de navios, por muito que o actual MDN tenha evidenciado saber o significado de MLU. Sem dinheiro não há palhaços. O PS, e sobretudo este PS, vai continuar o mesmo. Até porque para BE e PCP, que ainda suportam este governo, as FA não constituem qualquer prioridade. Como ficou na audição mais uma vez muito claro. E o PR terá a constituição da casa militar......como de costume!!!!!!
Depois de aprovado o OE, fico a aguardar pelos vozeirões que tanto se têm insurgido recentemente.
AC

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