TRAGÉDIAOntem, ocorreu uma tragédia, um helicóptero despenhou-se caindo no rio Douro. Com trágico desfecho em vidas humanas.
Aprendi de 1971 a 1973, quando estive na guerra na Guiné, o decisivo, fundamental, o mais importante, que era o regressar de cada missão com todos os homens.
Na guerra, tragicamente, acontece que muitas vezes isso é impossível.
No meu caso, no navio onde me mandaram prestar serviço e onde eu fui o oficial imediato, em 21 meses de guerra tivemos apenas um morto, e vários feridos ligeiros. O falecido era um elemento das dezenas de comandos que transportávamos ao longo do rio Cacheu.
Foi durante o ataque noturno que sofremos, às 2340 horas de 19 de Maio de 1973.
Na vida das sociedades, infelizmente, acontecem acidentes, desastres, tragédias, como esta de ontem, em que se perderam vida humanas, elementos da GNR que regressavam de uma zona de incêndio onde tinham estado a desempenhar-se da sua missão.
Uma tragédia, portanto, pois para mim naturalmente, qualquer perda de vida humana na sequência de acidentes ou na guerra configura sempre uma tragédia.
Em Portugal existe legislação (Lei n.º 40/2006/ 25 de Agosto) que trata dos aspectos diversos inerentes a protocolo de Estado, precedências
protocolares, e aspectos outros inerentes a esta matéria.
Na parte final desta lei estão as normas relativas a "Luto Nacional", o Art. 42º, que transcrevo, com dois sublinhados.
Lei n.º 40/2006/ 25 de Agosto
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Luto nacional
Artigo 42.º
Declaração
1 - O Governo declara o luto nacional, sua duração e âmbito, sob a forma de decreto.
2 - O luto nacional é declarado pelo falecimento do Presidente da República, do Presidente da Assembleia da República e do Primeiro-Ministro e ainda dos antigos Presidentes da República.
3 - O luto nacional é ainda declarado pelo falecimento de personalidade, ou ocorrência de evento, de excepcional relevância.
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Mas quero transcrever também uma frase retirada do "sítio" em Belém.
. . .O Presidente da República, que acompanhou este terrível acidente com o Primeiro-Ministro, no Posto de Comando Operacional, em Lamego, e com a Ministra da Administração Interna, acordou com o Governo a fixação de um dia de luto nacional, para amanhã, dia 31 de agosto. . . .
Ora na sequência desta trágica ocorrência, verificaram-se várias coisas que pessoalmente quero destacar:
1º - trágica perda de vidas humanas
2º - rápida actuação da autoridade marítima, de bombeiros, de mergulhadores, etc., no socorro necessário
3º - aparentemente, boa coordenação entre as diferentes entidades
4º - rápido e muito lamentável aproveitamento desta tragédia por parte, do actual inquilino em Belém e do actual Primeiro-ministro.
Como sempre respeito a opinião de outrem, umas vezes concordo, outras vezes discordo.
Isto dito, não encontro nenhuma razoável justificação para de imediato irem a correr para o posto de comando e controlo quer o PM quer o PR.
E creio que até já lá andaram Gouveia e Melo e Nuno o homem da defesa.
O costume, portanto!
Só atrapalham, e quem tem que estar é concentrado na emergência, vê-se obrigado a montar um Power Point para dar explicações a suas "altezas reais" que querem aparecer aos olhos da população como "uns queridos".
Tive a oportunidade de ouvir pelo rádio do carro uma jornalista (não sei o nome nem a que OCS pertence) que teve o profissionalismo de perguntar a Luís Montenegro que comentário tinha para as vozes que se tinham levantado contra a despropositada presença dele.
Disse umas vacuidades, enaltecendo a autoridade marítima, os bombeiros, as forças armadas, a GNR, os mergulhadores, o difícil e perigoso trabalho dos mergulhadores. VACUIDADES, PURAS.
A que propósito obrigou que o embarcassem num bote, para observar mergulhadores? PATÉTICO!
Deve ser a estas patéticas acções que chamam sentido de Estado e sentido das responsabilidades.
Eles, e sobretudo os antecessores em Belém e S.Bento têm passado as décadas com vacuidades e politicamente correcto, e por isso estamos como estamos.
Ah, não, espera aí, Portugal está no estado em que está por causa das pessoas moderadas como eu, das que desprezam extremos, que procuram ser humanistas, decentes, respeitadores dos outros, que não fogem aos impostos, e procuram ser rigorosos e quando se enganam ou sem o pretender são ocasionalmente injustos, reconhecem, e agradecem a quem educadamente lhes chame à atenção.
É, é certamente esta a justificação.
Portugal está no estado em que está por nossa culpa.
De maneira nenhuma por culpa dos, Guterres, Barroso, Augusto Silva, Sócrates, Costa, Portas, Ferro, Alexandra, Ventura, Mortáguas, Tavares, Real, Rocha, César, Raimundo, Cunhal, Soares, etc.
Ah, quanto ao luto nacional decretado para hoje, umas palavras.
Não discuto.
Mas reparo na legislação.
A legislação nada diz sobre acordos, anuência (como ouvi Montenegro dizer que Marcelo tinha anuído) do Presidente da República; a lei estipula que a responsabilidade e iniciativa é do governo.
Se Luís Montenegro tivesse maioria absoluta na AR, tinha decretado luto nacional?
Enfim, sou eu que sou mauzinho, e um dos culpados pelo estado de Portugal.
Eles (e os antecessores) passarem a vida com estes folhetins, com estas emoções, mas nunca resolverem os graves problemas do SNS, do ensino, da justiça, das Forças Armadas, dos médicos enfermeiros e outros profissionais na área da saúde, a industrialização séria do país, o ordenamento territorial, o repovoamento do interior, a reflorestação, o abastecimento de água nas Beiras Alentejo e Algarve, a ferrovia, a proteção da nossa ZEE, a exploração do mar, o estado dos portos, etc., é que são estadistas, sempre próximos do povo, sempre muito emocionados, sempre muito pesarosos!
Haja paciência democrática.
António Cabral (AC)