domingo, 30 de novembro de 2025

CondeCORAR de VERGONHA

Obrigado Ricardo Araújo Pereira.

Obrigado por me mostrar nesta noite de Domingo o que eu não tinha visto. Que coisa tão deplorável. Que indigência.

Nunca mais chega 10 de Março de 2026.

António Cabral

 
AC

Esteve Sol durante a manhã e até cerca das 1600 horas quando o céu começou a ficar muito nublado. Continua vento muito forte.
AC

DIZ o PEQUENOTE

. . . .  e já dei provas disso . . . . 

Enfim!

AC 

DOMINGO  na  ALDEIA
Bem agasalhados, casacão bem forte, luvas, cachecol, chapéu, óculos de Sol pois está bastante Sol e nuvens brancas lá em cima correndo com a fortíssima ventania, lá fomos ao café tomar a costumeira bica e tentar saber novidades. Eram 1030 h quando saímos dos quentinhos 21º C caseiros. No exterior tinha subido a temperatura, quase 10º C, parecendo muito menos tal a ventania!

Não há novidades especiais a não ser a questão efervescente das enormes e projectadas centrais fotovoltaicas.

Regressados ao quentinho, via NET passei os olhos pelas gordas nacionais e internacionais.

O computador ia-se engasgando quando viu isto.

Venezuela: Marcelo diz que acompanha situação permanentemente através do Governo

O que seria da comunidade portuguesa na Venezuela e o que seria de mim e dos meus concidadãos aqui no país se ele não acompanhasse a situação permanentemente.

Acredito que a cada quatro horas esteja a telefonar ao ministro Rangel, que telefone directamente ao nosso embaixador em Caracas, que queira que o PM o informe da coisa à hora do almoço, lanche e jantar. 

Estará a ponderar convocar de urgência o Conselho de Estado ?
Terá tentado telefonar ao maduro do Maduro ? 

Espero que os candidatos à corrida de 18 de Janeiro próximo tomem bem tento nesta vigorosa e permanente acção presidencial.
O que seria de nós sem isto!

AC
Um Será Aberto para ALMOÇO  DOMINGUEIRO 
AC

autor desconhecido

AC
 

 

AC

Bom dia , aqui vos deixo a carta que recebi do meu amigo La Palisse

A PROPÓSITO DE 18 JAN 2026

António, aqui te deixo a minha opinião sobre a Tugolândia e a corrida para Belém.

Prosseguem as análises nos órgãos de comunicação social, prosseguem os jogos de bastidores, prosseguem as sondagens, prosseguem os comentários diários do papagaio-mor, prosseguem entrevistas, prosseguem os  debates, prosseguem as vacuidades e a demagogia.

Estou convencido que, por mais que os políticos e os jornalistas intimamente ligados a empresas de sondagens (coisa que nunca será publicamente deslindada) digam, uma grande parte dos portugueses está-se nas tintas para este folhetim de candidatos à corrida presidencial no próximo mês de Janeiro. Nas TV só ligam a oito.

Estou certo de que o melhor Presidente que poderemos vir a ter será aquele que,

- em primeiro lugar passe muito tempo a reflectir,

- em segundo lugar, que tenha entregue o cartão partidário exactamente antes do seu discurso de declaração de candidato, para assim mostrar a isenção com que exercerá o cargo, à semelhança de Mário Soares um dos grandes recordistas da isenção, 

- em terceiro lugar, que tenha anunciado a sua candidatura no lugar onde nasceu o que, naturalmente, afasta Gouveia e Melo da corrida pois nasceu em Moçambique,

- em quarto lugar, será um dos que no final do discurso de candidatura tenha tido no palco os familiares directos,

- em quinto lugar, e para ser coerente com a entrega do cartão partidário, que do dia da apresentação da candidatura não tenha estado na sala nenhum dirigente político do seu partido.
 
Mas, sobretudo, será presidente aquele que, 

- mais ética tenha, sobretudo ética republicana, 

- tenha maior experiência e dimensão política, 

- tenha sempre demonstrado grande capacidade para servir Portugal, e não tenha passado a vida a servir-se de funções e cargos,

- tenha larga mundividência, 

- seja um pacifista, um humanista, um multicultural, um construtor de pontes e de estradas,

- tenha feito parte dos revisores da Constituição, 

- jure a pés juntos defender sempre a Constituição, 

- garanta que a interpretará a seu modo, 

- garanta que falará aos jornalistas todos os dias, 

- garanta ir todos os Domingos à missa,

- reuna mensalmente o Conselho de Estado que mais não seja para ver se todos estão com atenção ao mundo do futebol, 

- regularmente se sentará numa mesquita e conversará com o líder dos Ismaelitas, 

- não seja um homem dos negócios nem lobista, 

- não seja membro de nenhuma organização secreta meio secreta ou reservada, 

- condecore mensalmente muita gente,

- inaugure semanalmente qualquer coisa,

- visite as feiras todas,

- vá a um jogo de futebol pelo menos uma vez por mês, 

- viaje ao estrangeiro pelo menos uma vez por mês,

- receba de dois em dois meses um presidente estrangeiro, 

- tenha grande capacidade de captação ao centro mas, também, à extrema esquerda, à extrema direita, e na diáspora, 

- roube comida às pessoas quando se passear por aí,

- e, obviamente, de vez em quando esteja uns bocadinhos no Palácio de Belém.

Se reunir estes predicados virá a ser um bom Presidente da República.

Se não reunir estes predicados, não virá a ser um bom Presidente da República.

Com a amizade do teu amigo de sempre, aceita um abraço

Aldeia, 30 de Novembro de 2025, 

"La Palisse"


Bom dia tenham um bom Domingo.

Aqui dentro de casa estão uns simpáticos 21º C.
Lá fora está muitooooo vento.
E está um friooooo. . . . 8º C às 0900 h. . . . . brrrrrr !

Saúde e boa sorte.

António Cabral (AC)

ONU, PALESTINA, ISRAEL

Passaram 78 anos.

Em 29 de Novembro de 1947 pela resolução 181 a ONU decidiu que passariam a existir dois Estados: um, Israel, e outro Árabe. 

Mal Israel proclamou a independência os exércitos de vários países árabes iniciaram a agressão ao território israelita. Perderam.

Tudo começou mal no início do século XX.

O mundo Árabe foi sempre enganado concretamente pela França e pelo Reino Unido.

Mas a realidade é que quem começou logo por se borrifar na resolução da ONU foi o mundo Árabe.

No presente temos o execrável "Bibi" e um atoleiro no Médio Oriente com culpas de todo o lado.

Muito triste. Lamentável.

AC

 
AC

NOZES

Estupendas nozes, compradas hoje lá em baixo, na "Adelina"
AC

Oh PÁ . . . . 

Não é que um contratempo de última hora me impediu de ir assistir à magma convenção do BE?

Oh pá, que azar, e eu que tinha tanto empenho em ir ver . . . . 

Ir ver eles falarem que é preciso humildade (será uma boca foleira para a Mortágua), solidariedade e mobilizar os que estão dentro e os que se entristeceram com eles

Ir ouvir eles lembrarem que no BE há católicos e atenção à doutrina social da igreja. Ir ver alguns deles defenderem que o BE não está em cacos.

Oh pá, que azar o meu, e eu que tinha tanto empenho em ir ver . . . . 

AC

FOTOGRAFIA

AC
30  N0VEMBRO  2025
1719 - Chega ao Tejo uma frota proveniente de Nova Inglaterra com provimento de bacalhau
> 1762 - Armistício Luso-Espanhol
> 1874 - Nasce Winston Churchill
> 1900 - Faleceu Oscar Wilde
> 1935 - Faleceu Fernando Pessoa
> 1995 - Faleceu Fernando Assis Pacheco
AC

sábado, 29 de novembro de 2025

FOTOGRAFIA
AC

 

AC

NOITE  VENTOSA
AC 

FRIDAY.   BLACK  FRIDAY 

Friday - palavra inglesa que em português significa 6ª Feira.

Ou significava.

Agora a 6ª Feira é basicamente uma semana se não for mais.

INSUPORTÁVEL. Para mim naturalmente.

AC

Um PASSEIO pelo ALENTEJO  PROFUNDO
AC

O  sr  PINTO de SOUSA

Não tenho visto nenhum debate televisivo entre candidatos à corrida para Belém em 18 de Janeiro próximo. Por uma questão higiénica não verei nenhum.

Disseram-me já que há dias Gouveia e Melo foi confrontado com um declarado apoio do inarrável Sócrates. E que se irritou bastante.

De facto ter apoio de gente do calibre deste insuportável e arrogante ex-PM é no mínimo desesperante.

Não faço ideia e estou-me borrifando para saber porque razão a criatura anunciou a sua vontade. 

Haverá quem diga que isso (o apoio) é mau para Gouveia e Melo mas, pensando bem, continuam por aí milhares e milhares de cidadãos que muito ajudaram a que a criatura subisse a onde subiu. Para nossa desgraça.

Será que vendo bem as coisas Gouveia e Melo obterá mais uns votos com esta declaração de apoio incondicional?

Será que muitos do PS e outros políticos que rastejaram à volta de Sócrates nunca detectando as vigarices do sujeito irão votar em Gouveia e Melo por devoção Socretina e, já agora, para hostilizar Seguro?

Dizem por aí que muitos deputados e deputadas socialistas votarão em Catarina Martins, ou em Cotrim, ou em Gouveia e Melo ou em João Vieira só para não colocarem a cruzinha no Seguro. Não faço ideia.

Nem em quem votarão os sucialistas!

Aguardemos


Bom dia.
Tenham um bom Sábado. Saúde e boa sorte.

AC

CULTURA
. . . . . . 
Sobre obrigações tamanhas,
velem-se com tudo os reis
dos rostos falsos e manhas,
com que lhes fazem das leis
fracas teas das aranhas
. . . . . . . 
(excerto da carta a D. João III, Sá de Miranda)

AC
O  HABITUAL  
A propósito das eleições na Guiné-Bissau, escrevi há poucos dias este texto.

ELEIÇÕES NA GUINÉ BISSAU

Aí está mais um acto eleitoral. 

Não faço a menor ideia nem do resultado que surgirá das eleições, nem se serão livres.

A história desde a independência mostra um trajecto lastimável. Naturalmente que é culpa nossa, integral!

Creio que as suspeitas de continuar Estado dominado por interesses obscuros continuam. Narcotráfico uma delas.

Independentemente do colonialismo português, creio que não erro muito se disser que a história naquela zona da África sempre foi dominada por lutas entre as etnias. 

Como falar de um chão comum a mandingas, manjacos, papéis, fulas, felupes, balantas, bijagós, nalus, e até mestiços cabo-verdianos e libaneses que por lá também andam?

Aguardemos.

Na sucessão de notícias relativas aquele país (???) relata-se que a oposição terá ganho as eleições, por outras palavras, 
segundo as actas eleitorais EMBALÓ embalou para perdedor.

Mas Embaló muito habituado a embalar, como há tempos também  aqui lembrei - Presidente da Guiné-Bissau, Sissoco Embaló, recusou outro dia  explicar razões de expulsão da Lusa, RTP e RDP
Embaló . . . . . embalou . . . . . fora com eles! - parece que sofreu um golpe de Estado . . . . espera, estão aqui a segredar-me que, se calhar, antes de serem divulgados os resultados oficiais das eleições de que Embaló já tinha conhecimento, tratou de mandar a sua guarda pretoriana fazer um golpe de Estado. Guarda aparentemente formada na sua maioria por balantas.

Como popularmente se diz - um faz-de-conta!

Aparentemente, terá havido uma palhaçada engendrada pela guarda pretoriana a mando de Embaló.

Ora em África, e como aliás se passou já várias vezes naquele país (???), quando há golpes de Estado normalmente e no mínimo vão presos os que estavam.

Isto sabe qualquer comum cidadão. 
Mas não, há criaturas que não conseguem fugir da chinela e, ainda por cima dão notícia das suas costumeiras patetices.

Quanto a Embaló, estará sossegado no Senegal até ver como as coisas ficam. Militares para cá, militares para lá, etnia para cá, etnia para lá, narcotráfico para cá, narcotráfico para lá. Para já, parece, novo PM da confiança de Embaló. Giro!

Mas há quem não perceba e faça telefonemas e cenas ridículas. 
O costume.
AC
Marisa Matias: "BE tem estado muito na defensiva, não tem sabido comunicar e terá de haver alterações"

Se fosse só isso, não ter sabido comunicar . . . . .

Haja paciência democrática para ouvir e aturar esta gente.
E respeitar mas depois, concordar e discordar.

Pessoalmente, ao fim de anos e olhando ao historial, raramente concordei com alguma coisa do BE.

AC
29  NOVEMBRO  2025
> 1612 - Batalha de Suvali, Índia, galeões da Companhia Inglesa das Índias Orientais desbarataram uma frota de barcas portuguesas
> 1807 - Família Real e séquito enorme que estavam já a bordo de navios larga para o Brasil
> 1807 - Tropas Francesas entram em Lisboa
> 1874 - Nasce Egas Moniz
> 1877 - Thomas Edison apresenta o fonógrafo
> 1947 - Resolução da ONU para dividir a Palestina em dois Estados, Israel e Palestina
> 1963 - Criada a Comissão Warren para investigar o assassinato de John Kennedy
> 2000 - Portugal, OE passa com a abstenção do deputado do CDS Daniel Campelo, OE que ficou conhecido como o do queijo Limiano
> 2023 - Faleceu Henry Kissinger
AC

sexta-feira, 28 de novembro de 2025

CENTRO  GEODÉSICO  DE  PORTUGAL
AC 
AH . . . . . Oh . . . . Ah . . . . 
Chefe de gabinete de Zelensky alvo de buscas no âmbito de esquema de corrupção.

Já agora, quantas contas bancárias novas foram abertas na Suíça, Gibraltar, Ilhas Caimão, etc. etc. etc. desde 2023 ?
Aposto que muito dos milhões de ajuda à Ucrânia foram arejar!

AC
Afinal, Pedro Delille continua a ser advogado de Sócrates — mas só no processo secundário da Operação Marquês
Pedro Delille apresentou em nome de
José Sócrates requerimento 'matrioska' no processo secundário: pede um impedimento, uma inconstitucionalidade e três nulidades
.

Se um adolescente de 14 ou 15 anos estiver com dúvidas e dificuldades em português, e quiser nomeadamente que lhe expliquem em casa qual o significado concreto de aldrabice, ordinarice, pouca vergonha, desfaçatez, desonestidade intelectual, ausência de valores escrúpulos e princípios, arrogância, má criação, corrupção, aos pais basta que peguem nisto e elaborem um pouco que o filho vai ficar completamente elucidado.

Eu e outros cidadãos comuns há muitos anos que já o sabíamos perfeitamente.

Tenham uma boa 6ª Feira.
Tenham um bom início de fim de semana.
Bom dia e boa sorte.

António Cabral (AC)

quinta-feira, 27 de novembro de 2025

FOTOGRAFIA
AC

25 NOVEMBRO 1975 

Vale a pena recordar uma outra opinião.

Neste caso a do infelizmente já falecido coronel do Exército Carlos de Matos Gomes. Independentemente de se concordar ou não com as suas ideias e com o que sempre defendeu em vida (de que muito comungo) considero-o um homem de grande honestidade intelectual, de enorme dignidade, indiscutível decência. 

António Cabral (AC)

(sublinhados da minha responsabilidade)

O Maestro do 25 de Novembro de 1975
(Carlos e Matos Gomes, Coronel, 25NOV2022)

Os acontecimentos da História são notas para várias sinfonias e distintas interpretações. A História conta-se através da interpretação de temas. A realidade transmitida pelos acontecimentos é apenas um tema conduzido por um maestro através dos executantes da orquestra que dirige.

O golpe de Estado 25 de Abril de 1974 e o processo político que o continuou até ele culminar no golpe de Estado de 25 de Novembro, um clássico putschmilitar para alterar um regime, podem ser analisados como uma peça musical com vários andamentos, intérpretes, e um maestro que recebeu uma partitura com um tema: transformar um pequeno “perturbador rebelde” num menino invisível e bem comportado. 

Francisco da Costa Gomes recebeu essa partitura em Helsínquia, na Conferência para Segurança e Cooperação Europeia, no Verão de 1975, das mãos dos senhores do mundo dessa época, Gerald Ford, Leónidas Breshnev e os dirigentes da troika europeia, a Alemanha, a França e o Reino Unido. 
O 25 de Novembro constituiu o último andamento da sinfonia, em Moderato.

O 25 de Abril de 1974 foi um golpe militar da total responsabilidade de uma fação das forças armadas portuguesas para derrubar um regime de ditadura que levara o país a um beco sem saída com uma guerra colonial. 
A execução golpe não teve interferências estrangeiras. 
A ação dos “capitães” processou-se sem “autorização” de Estados estrangeiros, nem apoios externos.

Já o processo político desencadeado pelo 25 de Abril de 1974 teve, esse sim, fortíssimas intervenções externas até ao seu epílogo, em 25 de Novembro de 1975.

O derrube da ditadura portuguesa e a instauração de um regime de liberdade e de direitos políticos alterava a situação na Península Ibérica, onde conviviam duas ditaduras, e podia motivar fenómenos idênticos de intervenção democrática nas Forças Armadas de Espanha, com o ressuscitar de conflitos vindos da sangrenta Guerra Civil. 

Portugal era membro da NATO, um membro fundador e fiel, qualquer alteração política em Portugal e, mais ainda, causada por militares, implicava uma intervenção da NATO e em especial dos Estados Unidos. 

A Europa vivia ainda um momento de entusiasmo com o reforço da CEE devido à entrada do Reino Unido, existia um clima de détente na Guerra Fria, com a preparação de acordos de limitação de armas e forças entre a NATO/Estados Unidos e a URSS, que iriam conduzir aos Acordos de Helsínquia, que nem Gerald Ford e Kissinger, nem Breshnev queriam ver perturbados pela agitação num pequeno e periférico país, e, por fim, decorria o processo de descolonização com as negociações para a independência de Angola, a última jóia da coroa do colonialismo europeu, cujo domínio interessava às duas superpotências, mas também, a toda a África Austral, à China e a Cuba.

O processo político português passou a ser, principalmente após o 11 de Março de 1975, um “caso” pilotado do estrangeiro
A partitura do processo político passou a ser escrita em Washington, em Moscovo, em Londres, em Paris, em Bruxelas e foi entregue a um maestro nacional: Francisco da Costa Gomes.

Costa Gomes passou a ser o maestro do processo político português com a missão de o controlar e de manter Portugal enquadrado pelo modelo de governação, de economia de mercado e capital instaurado na Europa Ocidental após a partilha feita entre os EUA e a URSS nas conferências de Ialta e de Potsdam. 

Foram atribuídas a Costa Gomes pelos Estados Unidos, através do diretório da NATO, as tarefas de disfarçar a exclusão de Portugal do Grupo de Planeamento Nuclear da Nato (GPN) — o santo dos santos da organização — de modo a não ofender os militares portugueses e a não fornecer argumentos à esquerda portuguesa, na altura anti-NATO.

É Costa Gomes quem recebe a indicação de afastar Vasco Gonçalves do governo (o medo do comunismo — que era, na realidade, a recusa a aceitar autonomia estratégica de Portugal na descolonização de Angola, dado o papel da URSS e de Cuba — também da RDA). 

É Costa Gomes quem aceita e coordena a intervenção do grupo europeu de controlo de Portugal constituído pela Alemanha, França e Reino Unido e presidido por James Callaghan, antigo primeiro-ministro britânico e que convencem Kissinger a não desencadear uma ação preventiva violenta do tipo chileno, uma “pinochetada”. 

É ainda Costa Gomes quem nomeia um “grupo militar” nacional para planear a ação que seria determinante no retorno ao redil europeu ocidental, ao padrão de modelo de governo, necessário a proporcionar uma aceitação serena de um regime de democracia de baixa intensidade aos falangistas espanhóis. (Curiosamente a morte de Franco e a ascensão de Juan Carlos à chefia do Estado espanhol para dar um novo e aceitável rosto democrático à ditadura ocorrem nas vésperas do 25 de Novembro de 1975).

À volta de Costa Gomes movem-se dois “segundos” como interlocutores que credibilizam e mobilizam forças internas e externas. Os dois segundos, ou lugares tenentes (embora apenas por força das circunstâncias), serão Mário Soares e Melo Antunes. 
Serão ambos aliados funcionais entre si e de Costa Gomes, ambos realizam tarefas complementares junto da sociedade civil, dos militares portugueses e nas instâncias internacionais, mas agem em tensão permanente: Costa Gomes não é um carismático, nem pretende mais palco do que já teve e tem. É um mestre de xadrez, um adepto das políticas que ficaram conhecidas pela palavra italiana de aggiornamento, que significa “atualização” e que transmitiu a orientação chave do Concílio Vaticano II, convocado pelo Papa João XXIII, em 1962. 

Melo Antunes tem uma personalidade parecida com a da Costa Gomes, de alguém que prefere compor na sombra. 
Resta Mário Soares, o solista, a estrela. 
Mário Soares não quer militares protagonistas políticos
Costa Gomes e Melo Antunes conhecem a extrema flexibilidade tática e ideológica de Mário Soares, a sua ligação muito próxima da subordinação com Carlucci, o embaixador americano, a sua disponibilidade para conseguir acordos de conveniência com quem lhe pareça favorece-lo, que serão substituídos por outros à medida das necessidades, confiado no seu génio para o improviso

Costa Gomes sabe do que Mário Soares é capaz e sabe que não o poderá ter como aliado na ação. 
Sabe que Mário Soares tem um projeto e um programa pessoal e conhece pelas suas vias o que ele está a fazer e agirá para que essas ações não prejudicam a condução da orquestra na sua partitura. 

Costa Gomes e Melo Antunes aliam-se para negociar o 25 de Novembro, com o menor custo possível: estabelecem acordos com Cunhal e com Otelo e também com a NATO e com o embaixador da URSS em Portugal. 
Deixam Mário Soares de fora, obrigando-o a alianças com setores com os quais ele preferira não ter de negociar. 
Uma exclusão que Mário Soares nunca lhes perdoará.

O 25 de Novembro terá, necessariamente, executantes nacionais para que a partitura regida por Costa Gomes seja levada a cabo com o resultado que teve. 
Não ocorreu nenhuma “guerra civil” em Portugal, nem esteve para acontecer, foi apenas um “papão” para criar tensões e adesões, isto porque a “guerra civil” não constava das pautas que Costa Gomes dirigiu, nem estiveram jamais reunidas condições para uma guerra civil em Portugal. 

Nem a instauração da República, nem da ditadura haviam provocado uma guerra civil! 
Podia ter ocorrido um confronto entre unidades militares — o que é bem distinto de uma guerra civil — mas os acordos feitos com Cunhal e Otelo, decorrentes do senso político de ambos, da análise da situação internacional e dos custos de uma aventura de confronto interno, preveniram essa possibilidade

Podia ter ocorrido um tempo de violência política urbana, guevarismo, mas, mais uma vez, os acordos obtidos por Costa Gomes com as organizações com alguma capacidade para desenvolver ações de terrorismo e de desestabilização evitaram-nas, apesar das tentativas que foram feitas por agentes que pretendiam um regresso ao passado, um banho de sangue anticomunista, uma vingança contra a descolonização, uma reparação aos banqueiros e às grandes família agrárias.

A “verdade” sobre o que foi o 25 de Novembro, quais os seus objetivos, tem e continua a ter três versões, o que é elucidativo da diversidade conflitual dentro aliança que se estabeleceu para a sua realização e do papel de Costa Gomes como maestro de naipes tão distintos.

Há um naipe na orquestra do 25 de Novembro que pode ser representada pelos instrumentos de bombos e foguetes, a cargo de executantes como Joaquim Ferreira Torres, destacado ativista do MDLP e contratador do mercenário Ramiro Moreira, que considerou o 25 de Novembro «uma traição» («Do 25 de Abril ao 25 de Novembro», Editora Intervenção). 

Também o cónego Melo, de Braga ficou manifestamente desiludido. Tanto empenho, tanta mobilização das populações arregimentadas pela Igreja e pelos padres, tantos assaltos e destruições de Centros de Trabalho do PCP, tantas bombas, tantos atentados e afinal um tal resultado: liberdades, regime democrático, aprovação da Constituição. 
Desapontamento profundo. 
Não sabe como explicar, mas explica: «O 25 de Novembro foi da total responsabilidade dos marxistas […] foi uma luta de marxistas» (entrevista ao Diário do Minho/Rádio Renascença , 13–3–1999). 

Jaime Neves, num jantar em sua homenagem realizado em Janeiro de 1996, declarou que «o “problema” seria resolvido “muito simplesmente com a prisão do líder do PC”, Álvaro Cunhal» (Público, 11–1–1996). 
Alpoim Calvão, comandante do ELP, numa entrevista a Eduardo Dâmaso, publicada no livro «A Invasão Spinolista», Círculo de Leitores, 1997, p. 98 afirma que apesar do 25 de Novembro, «muitos queriam pegar em armas e vir por aí abaixo matar comunistas». 
É o que teriam feito, pelo que se vê, se tivessem sido eles a impor o resultado. 
E esses grupos têm uma interpretação muito vaga e alargada do que é um comunista.

Uma outra explicação para o 25 de Novembro é a do «Grupo dos Nove», que inclui os militares que ficaram conhecidos como “moderados”. 
Este grupo, com Melo Antunes, tal como Eanes e Costa Gomes, defendia uma solução política da crise
Melo Antunes tem uma intervenção decisiva em impedir que o 25 de Novembro seja uma ação revanchista e restauracionista indo no dia 26 à televisão declarar que «a participação do PCP na construção do socialismo era indispensável». 
Eanes, ao tomar posse como Chefe do Estado-Maior do Exército, no dia 6 de Dezembro, declarou como «objetivos políticos prioritários a independência nacional e a construção de uma nova sociedade democrática e socialista.» (Jornal de Notícias, 7–12–1975).

Resta, por fim, a tese do contragolpe, que é uma explicação recorrente com raízes nas lutas entre fações maçónicas da I República. 
Tal como na I República, os políticos e os jornalistas vindos da oposição ao Estado Novo, justificaram os seus golpes contrarrevolucionários como resposta a golpes revolucionários. 

Foi assim com o golpe Palma Carlos, 28 de Setembro, 11 de Março. No caso, todos os golpes foram explicados pelos seus autores, apoiantes e cúmplices como respostas a golpes ou tentativas de golpes do PCP visando o assalto ao poder. 

Assim sucedeu também no verão quente de 1975, quando começou a ser preparado um novo golpe militar. A tese do contragolpe tem a matriz do Partido Socialista e de Mário Soares e, dada a relevância de ambos na formulação da história de base da III República, a partir da aprovação da Constituição e da formação do primeiro governo constitucional, passou à categoria de doutrina para-oficial e o contragolpe passou a ter origem no comício da Fonte Luminosa (Junho 1975).

Mas há a realidade. 
Um livro bastante esquecido — A Resistência — de Gomes Mota, esclarece que o golpe estava a ser preparado muitos meses antes de Novembro
Segundo José Gomes Mota, o golpe foi preparado pelo «Movimento», que ele define por ser contra o que chama «os dissidentes», os gonçalvistas e o PCP. Fala em «novas estruturas reorganizadas». 
Diz que o «Movimento» deveria ter presença ativa no Conselho da Revolução. 

O «Movimento» chamava a si a preparação e decisão do golpe militar, mas, «preservando e garantindo a legitimidade revolucionária do Presidente da República» Segundo José Gomes Mota, a cúpula efetiva era o «Movimento», que dispunha de dois grupos dirigentes. 
Um «militar», cuja tarefa principal era a «elaboração de um plano de operações» tarefa que «cumpriu rigorosamente», tendo «para isso muito contribuído a liderança de Ramalho Eanes». 

Outro «político», de que faria parte o «Grupo dos Nove», «veio a desempenhar o papel de um verdadeiro estado-maior de Vasco Lourenço», que «assumira a chefia do Movimento». 
A preparação do golpe «para pôr fim a uma situação insustentável» vinha pois de longe. Costa Gomes conhecia o plano e até tinha autorizado a cedência de instalações para o “grupo militar” no edifício do Estado-Maior General das Forças Armadas, sede também do Conselho da Revolução.

Contrariando o que afirmaram os principais executantes do 25 de Novembro, Mário Soares e seus aliados políticos e militares conseguiram impor a tese que os favorece perante a opinião pública nacional e internacional (os políticos vivem da imagem para conquistar votos), a narrativa ficcional de que, no 25 de Novembro, «houve uma tentativa de golpe, animado pela Esquerda Militar e pelo PCP, e uma resposta, […] um contragolpe da parte do sector democrático, isto é, militares moderados. “Grupo dos 9” e PS» (Maria João Avillez, “Soares. Ditadura e Revolução”). 

Esta versão dos acontecimentos foi através dos anos repetida incansavelmente, embora não tenha ocorrido nenhuma ação de forças militares a não ser as dos “Comandos”, que desde o Verão de 1975 contratavam antigos militares já na disponibilidade, e a da Força Aérea, cujo chefe de Estado-maior determinou à margem da hierarquia, em cumprimento de uma estratégia de provocação do confronto delineada noutras instâncias, a alteração do dispositivo militar, com extinção da Base de Paraquedistas em Tancos e a transferência de todos os meios aéreos para a Base da Cortegaça

A tese do contragolpe é apenas uma fábula sem fundamento para criar heróis virtuais, gloriosos resistentes ao golpe totalitário, mas inexistente — um moinho que foi apresentado como um castelo em pé de guerra! Um golpe militar em que não existe um plano de operações e em que nenhuma “unidade golpista” sai dos quartéis para ocupar um qualquer objetivo, por mais insignificante que fosse.

É, ou foi, Costa Gomes quem conseguiu harmonizar as dissonâncias entre os vários naipes de executantes nacionais da ação “normalizadora” e conseguir executar a partitura que tinha como ponto alto e remate a instauração de um regime que adotasse o pronto-a-vestir europeu ocidental, que se integrasse nas instituições europeias sem extravagâncias, que não assustasse os falangistas espanhóis e que deixasse a questão da independência de Angola para ser dirimida pelas superpotências e, feito tudo isto, que reduzisse a tropa ao seu papel de disciplinada guarda da ordem dos interesses do mercado, enfim, que entregasse Portugal higienicamente desinfetado de extravagâncias de poderes populares a um político de confiança: Mário Soares.

Foi ainda Costa Gomes, e é também muito pouco referido esse papel, que controlou a ação dos operacionais da CIA que permaneceram à ordem na embaixada de Lisboa, através de oficiais portugueses próximos dele (Costa Gomes) e que regressaram à sua base nos EUA ainda em Dezembro de 1975, findo o trabalho na retaguarda. 

Graças à maestria de Costa Gomes, o golpe da orquestra, que poderia ser negro e sangrento, resultara sem grandes tumultos, de forma aceitável pelas opiniões públicas europeias. 
A experiência internacional de Costa Gomes deu-lhe a sabedoria do mundo que lhe permitiu conhecer desde o 25 de Abril de 74 que o processo político português seria conduzido do estrangeiro, que o futuro de Portugal após a descolonização era o de um pequeno estado europeu invisível, com um modelo político harmonizado e padronizado. 
Conduziu o processo político de modo a executar essa partitura com o menor número de desafinações possíveis.

É revelador das leituras de conveniência dos adeptos da tese do contragolpe do 25 de Novembro, e do 25 de Novembro como data refundadora da democracia, que estes ignorem e mordam as canelas aos que impuseram a manutenção do calendário para aprovação de uma Constituição, que evitaram confrontos violentos, que impediram prisões e execuções, que resistiram ao MDLP e ao ELP e ao terrorismo, aos que conseguiram impor um Estado de Direito e que teçam loas democrática aos que tinham como plano para o seu 25 de Novembro a instauração de um regime de ditadura presidencialista, de uma assembleia sujeita a um presidente, de ilegalização de partidos políticos, de sujeição da justiça ao governo, de proibição do exercício de diretos fundamentais, de fim da proteção social (leia-se o programa do MDLP/ELP elaborado em Madrid por Pacheco de Amorim e José Miguel Júdice). 

Costa Gomes e foi ele e alguns militares do grupo dos «Nove» (os políticos civis estiveram na onda do golpe violento, com a proposta de se reunirem no Porto e daí desencadearem ações violentas contra o que crismaram junto da opinião pública internacional de “comuna de Lisboa”) que conduziram a travessia desse campo minado.

E assim acabou o desconcerto que Costa Gomes geriu com o maior êxito e reduzido reconhecimento. Ele foi o maestro de Portugal durante o período mais quente da segunda metade do século XX. Merece ser recordado e reconhecido
28  NOVEMBRO  2025
DIA DO MEDITERRÂNEO
> 1520 - Fernão Magalhães chega ao Pacífico
> 1907 - Nasce Alberto Moravia
> 1917 - Moçambique, I GG, forças militares coloniais Alemãs surpreendem as nossas em Negomano
> 1944 - Acordo Portugal-EUA para construção de base aéro-naval em Sta Maria
> 1990 - Reino Unido, Margaret Thatcher resigna 
AC

RECORDAÇÕES  de  FAMÍLIA
Recordações de um então estudante, que me deixou em 2011.
AC
 
FOTOGRAFIA
AC
R E S I S T I R 
Procuro resistir.
A quê?

À bovinidade que grassa.
À demagogia e à mentira descarada.
À ausência de debate democrático sério, intelectualmente honesto.
À pouca vergonha instalada um pouco por todo o lado.
À pouca vergonha de uns quantos que usam a desgraça a miséria e o que não funciona como argumento político.
À pouca vergonha dos salvadores da pátria oriundos das cores todas.
À pouca vergonha do jornalismo onde são cada vez menos as boas excepções e que ainda me dão esperança.
À boçalidade que ressalta das inundações televisivas a que chamam informação, ou entretenimento, ou desporto, ou festivais.

Procuro resistir. 
Cuidar do corpo, com equilíbrio, na alimentação, sem manias e modas, 
E para a sanidade mental nada melhor que mergulhar nas bibliotecas e livrarias.
Nada melhor que sair, andar por aí, por todo o lado, andar a pé, com a minha amiga NIKON na mão, observar as pessoas, disparar a NIKON.
Ar puro e SOL.
Bom dia.

António Cabral (AC)

MUNDO

"A quem olhar para o mundo com racionalidade, o mundo, por sua vez, irá apresentar um aspecto racional. A relação é mútua"

(Hegel)

AC

LIVROS ANTIGOS

AC
ULTIMAMENTE
Ultimamente ao ouvir certas personagens ocorre-me este animal
Bom dia.
Tenham uma boa 5ª Feira.
Saúde e boa sorte.

AC
PORQUÊ ?
O Expresso online noticia que as empresas do Estado agravaram prejuízos em mais de € 500 milhões e que o mais recente relatório do Conselho das Finanças Públicas (CFP), relativo a 2023-2024, revela um agravamento das contas do Sector Empresarial do Estado (SEE) e do Sector Empresarial Regional (SER).

O volume de negócios das empresas não financeiras do SEE cresceu para 20,6 mil milhões de euros em 2024, mas o resultado líquido deteriorou-se, atingindo –1,3 mil milhões de euros, um agravamento de 546 milhões face ao ano anterior. O relatório analisou 146 entidades do SEE e 39 do SER, já avaliadas de forma integrada. Apesar do reforço de capital próprio, que subiu para 18,9 mil milhões de euros, o CFP alerta para a existência de 35 empresas em falência técnica.

O SEE empregava no final de 2024 mais de 187 mil trabalhadores, um aumento de 14,5% impulsionado pela integração das 31 novas Unidades Locais de Saúde. A saúde e os transportes mantiveram-se os setores mais representativos.

Eu sei que sou um ignorante nesta matérias.
Mas porque raio é que 51 anos depois do 25 de Abril de 1974, o Estado continua a ter tantas empresas?

Uma das explicações porventura não a principal mas certamente muito relevante, é que dá empregozinho a muita criatura do PS, PSD, CDS. Não sei se também IL.

Porquê a manutenção disto? PORQUÊ ?

Boa noite e boa sorte
AC
PESCADORES

AC

Da boca dela jorra água límpida.

Particularmente nos últimos dias, o que tem bolsado das bocas de certas personagens?

AC
 

É  INDECENTE 
É indecente não considerarem dar ao homem pelo menos mais um ano.
É mesmo indecente, nem sei até se não será antidemocrático.
AC
27  NOVEMBRO  2025
> 1199 - Guarda fundada por foral de D. Sancho I
> 1701 - Nasce Anders Celsius
> 1807 - Família Real e séquito embarcam nos navios para depois fugiram para o Brasil e evitar captura pela forças invasoras Francesas
> 1918 - Sidónio Pais dá posse à delegação nacional à Conferência de Paz
> 1955 - Faleceu Luís de Freitas Branco
AC

quarta-feira, 26 de novembro de 2025

 FOTOGRAFIA

AC

A Marinha, segundo Eça de Queirós:
(...)
Mas, meus senhores, antes de tudo, nós não temos marinha! Singular coisa! Nós só temos marinha pelo motivo de termos colónias — e justamente as nossas colónias não prosperam porque não temos marinha! Todavia a nossa marinha, ausente dos mares, sulca profundamente o orçamento. Gasta 1159 000$000!

Que realidade corresponde a esta fantasmagoria das cifras? uns poucos de navios defeituosos, velhos, decrépitos, quase inúteis, sem artilharia, sem condições de navegabilidade, com cordame podre, a mastreação carunchosa, a história obscura. E uma marinha inválida. A D. João tem 50 anos, o breu cobre-lhe as cãs: o seu maior desejo seria aposentar-se como barca de banhos.

A Pedro Nunes está em tal estado, que, vendida, dá uma soma que o pudor nos impede de escrever. O Estado pode comprar um chapéu no Roxo com a Pedro Nunes — mas não pode pedir troco.

A Mindelo tem um jeito: deita-se. No mar alto, todas as suas tendências, todos os seus esforços são para se deitar. Os oficiais de marinha que embarcam neste vaso fazem disposições finais. A Mindelo é um esquife — a hélice.

A Napier saiu um dia para uma possessão. Conseguiu lá chegar; mas exausta, não quis, não pôde voltar. Pediu-se-lhe, lembrou-se-lhe a honra nacional, citou-se-lhe Camões, o Sr. Melício, todas as nossas glórias. A Napier insensível, como morta, não se mexeu.

Das 8 corvetas que possuímos são inúteis para combate ou para transporte — todas as 8. Nem construção para entrar em fogo, nem capacidade para conduzir tropa. Não têm aplicação. Há ideia de as alugar como hotéis. A nossa esquadra é uma colecção de jangadas disfarçadas! E este grande povo de navegadores acha-se reduzido a admirar o vapor de Cacilhas!

Têm um único mérito estes navios perante uma agressão estrangeira: impor pelo respeito da idade. Quem ousaria atacar as cãs destes velhos?

Já se quis muitas vezes introduzir nas fileiras destes vasos caducos — alguns navios novos, ágeis, robustos. Tentou-se primeiro comprá-los.

Sucedeu o caso da corveta Hawks. Era esta corveta uma carcaça britânica, que o Almirantado mandava vender pela madeira — como se vende um livro pelo peso. Por esse tempo o Governo português — morgado de província ingénuo e generoso — travou conhecimento com a Hawks, e comprou a Hawks. E quando mais tarde, para glória da monarquia, quis usar dela, a Hawks, com um impudor abjecto — desfez-se-lhe nas mãos!

Estava podre! Nem fingir soube! Tinha custado muitas mil libras.

Tentou-se então construir em Portugal. Sabia-se que o Arsenal é uma instituição verdadeiramente informe: nem oficinas, nem instrumentos, nem engenheiros, nem organização, nem direcção. Tentou-se todavia — e fez-se nos estaleiros a Duque da Terceira. Foi meter máquina a Inglaterra. E aí se descobre que a tenra Duque da Terceira, da idade de meses, tinha o fundo podre! Foi necessário gastar com ela mais cento e tantos contos.

Nova tentativa. Entra nos estaleiros a Infante D. João. 87 contos de despesa. Vai meter máquina a Inglaterra. Fundo podre! O Arsenal perdia a cabeça! Aquela podridão começava a apresentar-se com um carácter de insistência verdadeiramente antipatriótica! Os engenheiros em Inglaterra já se não aproximavam dos navios portugueses senão em bicos de pés — e com o lenço no nariz. As construções saídas do Arsenal sucumbiam de podridão fulminante. A Infante D. João custou em Inglaterra, mais cento e tantos contos!

O Arsenal, humilhado no género navio, começou a tentar a especialidade lancha.

Fez uma a vapor. Lança-se ao Tejo, alegria nacional, colchas, foguetes, bandeirolas... E a lancha não anda! Dá-se-lhe toda a força, geme a máquina, range o costado — e a lancha imóvel! Mas de repente faz um movimento... Alegria inesperada, desilusão imediata! A lancha recuava. Era uma brisa que a repelia. Em todas as experiências a lancha recuava com extrema condescendência: brisa ou corrente tudo a levava, mas para trás. Para diante, não ia. Pegava-se! O Arsenal tinha feito uma lancha a vapor que só podia avançar — puxada a bois. O País riu durante um mês. O Arsenal roeu a humilhação, encetou a espécie caíque. Ainda o havemos de ver, no género construção em madeira, cultivar — o palito!

A nossa glória, inquestionavelmente, é a Estefânia. Parece que poucas nações possuem um vaso de guerra tão bem tapetado! O orgulho daquele navio é rivalizar com os quartos do Hotel Central. E um salão de Verão surto no Tejo. E no Tejo realmente dá-se bem. No mar alto, não! Aí tem tonturas. Não nasceu para aquilo: um navio é um organismo, e como tal pode ter vocações: a vocação da Estefânia era ser gabinete de toilette. E pacata como um conselheiro. E uma fragata do Tribunal de Contas! Por isso quando a quiseram levar a Suez, quantos desgostos deu à sua Pátria! quantas brancas fez à honra nacional! É verdade que os cabos novos, da Cordoaria Nacional (sempre tu, ó terra do nosso berço!) quebraram como linhas, e ninguém lhes pode contestar que tivessem esse direito. A marinhagem também não quis subir às vergas (opinião respeitável, porque a noite estava fria). Alguns aspirantes choraram de entusiasmo pela Pátria. O capelão quis confessar os navegadores.

O caso foi muito falado nesse tempo. Mais celebrado que a descoberta da Índia.

Essa só teve Camões que naufragou; — a viagem da Estefânia teve o Sr. O. Vasconcelos que arribou! Tanto é semelhante o destino dos que cultivam o ideal! O facto é que desde então brilha no Tejo, tranquila, reluzente e vaidosa — a Estefânia, corveta mobilada pelos Srs. Gardé e Raul de Carvalho.

(…)

Eça de Queirós, «A Marinha e as Colónias», em Uma campanha alegre (1890-1891)

"Naquele tempo" . . . . 
É assim que se ouve na igreja . . . . 

Ora "naquele tempo" em que viveu Eça estava-se longe, 
- da Convenção das Nações Unidas sobre o Direito no Mar, 1982,
- da estrutura e legislação da IMO (International Marítima Organization), 
- da Comissão Mundial Independente para os Oceanos, 
- da existência de ZEE dos países que como nós têm costas e ilhas banhados pelos oceanos, 
- da existência de áreas marinhas protegidas,
- da pesca intensiva, 
- dos navios fábrica que acompanham as frotas pesqueiras,
- das conferências sobre o clima,
- das conferências dos oceanos,
- da ISA ( International Seabed Authority,
- da economia azul, 
- do SOS Ocean,
- de estratégias para o mar,
- do degelo de glaciares, no Ártico, Gronelândia e Antártida,
- das potencialidades de extracção e mineração submarina, 
- dos pedidos de alargamento de plataformas continentais, estando o nosso pedido"morto" numa gaveta da ONU desde 2013, 
- da comissão OSPAR (Oslo/Paris),
- da biotecnologia, etc.

Um país que tem mar como o nosso só é pequeno se o não souber aproveitar.
Veja-se o caso da Holanda, geograficamente minúsculo comparativamente com Portugal, com uma costa ridícula de comprimento comparado connosco, tem o maior e mais pujante porto do mundo, estaleiros navais etc.

Não digo mais. . . . isso mesmo, pintassilgos não são pardais.

Bom dia, tenham uma boa 4ª Feira.
Saúde e boa sorte.

António Cabral (AC)