PATRIMÓNIONas minhas andanças pelo país, particularmente na parte Continental e com ainda mais intensidade (na perspectiva de passagem mas principalmente estadia, e observação/ visita) desde 2006, uma área que me preocupa de há muitos anos e tem a minha atenção é a do património cultural. Património edificado, património em recuperação, património degradado, património completamente abandonado e em alguns casos em ruína confrangedora. Portanto, refiro-me aqui e apenas ao "palpável", visível, "pedras" e etc.
Não abordo aqui o fantástico património imaterial que temos no país.
Do abandonado dou apenas quatro exemplos:
* Visitem Idanha - a -Velha, onde existe muita coisa bem recuperada mas outra ao abandono.
* Vagueiem pelos arredores da Golegã.
* No concelho do Sabugal vão até à localidade Alfaiates.
* Dirijam-se à freguesia Paião, no concelho da Figueira da Foz.
Há muita coisa que foi bem recuperada, muita que está em andamento de reabilitação. Do que mais recente e demoradamente visitei e portanto bem conheço (até Fevereiro 2020), aponto alguns dos vários exemplos: Salzedas, Ucanha, Tibães, Castelo Novo, Estói, Óbidos, Piódão, Rendufe, Amares, Alcobaça, Conímbriga.
Quanto a castelos, conheço vários, na realidade quase todos os do Continente, e vários estão em bom estado e recuperados. Dos últimos revisitados estou a lembrar-me, por exemplo: Sabugal, Arraiolos e Belver.
Naturalmente que o dinheiro é pouco, mas ainda assim muito se tem feito nos últimos 30 anos, opinião minha, naturalmente. Mas creio que com juízo e melhor planeamento, mesmo com um pouco mais de gastos, melhor se podia estar a fazer, mais se podia já ter feito, se houvesse menos arrogância, menos demagogia, se houvesse mais ligação governos - autarquias.
Sou católico, de baptismo, sou crente, vou muito pouco à igreja no sentido da habitual missa Dominical, por exemplo. Mas vou com muita frequência a igrejas e capelas. E Portugal tem um património religioso edificado fantástico, que deve ser preservado, independentemente, E BEM, da Constituição estabelecer a laicidade do Estado. Mosteiros, conventos, igrejas, capelas. Dois exemplos: Mafra e Portalegre. Mas voltando à problemática sempre discutível "do que fazer", "a que atender", haverá sempre quem defenda mais as "pedras", outros defenderão mais as pessoas, os "eventualmente" designados por produtores de cultura.
A esquerda e não só (Cavaco Silva teve Santana a olhar para a "Cultura" se a memória não me falha) tem a persistente mania de ministério da cultura ou similar.
Alguns castelos estão ao abandono. Há conventos numa lástima. Etc.
Quando se fala de cultura lembro-me sempre de uma cena célebre, no tempo de Jorge Sampaio em Belém, em que um dia apareceram filas intermináveis de "cultos" em número incrivelmente superior ao que tinham estimado, pelo que os croquetes para que haviam convidado cultos………….faltaram!
De facto, do teatro, desde o fantástico (opinião minha) de João Lourenço a muitos outros com qualidade e muitos outros que me suscitam neste campo muitas dúvidas, ao cinema, à música de todo o tipo, à criação literária, à pintura, etc., há um mundo enorme a que eventualmente acorrer. O que me custa é ver acorrer a muitos porque são correligionários, porque são da "seita" que está!
Há um mundo infindável no "envelope cultura". Das "pedras" do nosso passado, a bolsas e subsídios para pessoas. Critérios? Em muitos casos ao longo dos anos fica ás vezes a sensação da politiquice. E uma coisa me parece que é esquecida, o Estado não tem de definir a cultura.
Naturalmente ninguém gosta ou aceita ver concidadãos em dificuldades. Mas tem de haver critérios e não me parece que pelourinhos, castelos, igrejas, museus (o que se passa com alguns é vergonhoso), bibliotecas, palácios, conventos devam deixar-se apodrecer. Pela minha parte conheço, por exemplo, várias interessantíssimas pontes algumas do tempo dos Romanos. Por terem essa idade devem deixar-se desmoronar?
Depois, no dia a dia dos nossos tempos, qualquer obra que esbarre por exemplo com um poço indiciando ter centenas de anos é imediatamente parada. Investigação. Parece-me adequado. Mas não é adequado levar uma eternidade para ponderar e decidir.
Mas, por outro lado, e por exemplo, pelo Continente descuram-se minas antigas, ou arrasam-se extensões para gáudio do ministro dito do ambiente e da dita ministra da agricultura.
Enfim um mundo! E muita soberba, muita demagogia, bastante desprezo aqui e acolá, caciques nos governos e nas autarquias, uns quantos que se consideram donos da cultura e que se entregam aos cargos internacionais etc. Continuemos a observar.
António Cabral (AC)