Ainda o 25 de Novembro de 1975Há dias numa pequena reflexão sobre o assunto (evento que continua envolto em algum mistério, polémica, e que, infelizmente, quem sabe a rigorosa verdade histórica e está vivo, continua a manter alguma nebulosidade; porquê? Porque uns "donos disto" têm inconfessáveis?) coloquei estas questões /perguntas:
1. PCP e muita esquerdalhada à sua esquerda não engoliu o fim do V governo provisório. Nem na altura nem hoje.
2. Os deputados Constituintes, com mais percalços ou não, com cercos ou não da AR executados por grevistas comandados esquerdas várias, continuaram o seu trabalho, e a CRP foi felizmente aprovada em 2 de Abril de 1976. Publicada em DR a 10 de Abril.
3. No seio das Forças Armadas e principalmente no Exército, creio que várias relações de força se alteraram, penso que os mais esquerdistas foram sendo afastados.
4. Houve uma real insubordinação de pára-quedistas de Tancos.
Quem a desencadeou, quem efectivamente a incentivou, quem depois se encolheu, quem assobiou para o ar como se nada tivesse a ver com aquilo? É um dos vários aspectos não esclarecidos.
5. O grupo dos Nove, sendo certo creio eu que Vasco Lourenço passou a comandar a região de Lisboa apenas umas horas antes de tudo teoricamente começar, sabia de tudo, não sabia, andou meses a preparar tudo ou não, estendeu a casca de banana, ou estenderam-lhe a casca de banana?
6. Como e quem sossegou os fuzileiros para se manterem nos quartéis, fuzileiros que, se têm saído para a rua, se calhar nada tinha ficado como ficou? Quem descansou o grupo dos nove sobre isto?
7. E a detenção de inúmeros oficiais, e a posterior instauração de processos, e o seu subsequente e progressivo afastamento das carreiras, e a quase total reintegração nas fileiras há alguns anos, e a condecoração em vagas sucessivas impostas por Marcelo, em nada disto há casos estranhos?
8. E Mário Soares e outros, é verdade ou mentira que foram para Norte, apoiados por sectores que a esquerda muito criticou e critica e, creio eu, com bastante razão?
9. E o real papel de Otelo? E a história do tristemente famoso COPCON? Que aconteceu de facto? Que acordos, que promessas?
10. E o PCP? Afinal, esteve por trás de tudo, só parcialmente, foi ultrapassado por esquerdalhada radical, qual a realidade?
Sabia de tudo, pouco controlava, ajudou os NOVE?
11. E as relações dentro do Conselho da Revolução, mesmo depois de depurado na sequência do fim do V governo provisório e do afastamento de Vasco Gonçalves e outros, foram calmas, sempre serenas, e claras?
12. Há o costume de falar em vencedores e vencidos. Mas qual é a realidade?
A propósito da sessão recente na AR em que decidiram celebrar (???) 49 anos passados sobre esse evento de 1975, os capitães de Abril Vasco Lourenço e Sousa e Castro, outros militares e civis, vieram a público tecer algumas considerações.
Continuo a ver nisto tudo algumas coisas estranhas e, sinceramente, merece-me pouco respeito quem continua a não querer esclarecer completa e cabalmente o evento de 75.
Porquê?
Porque, na minha opinião, com os seus silêncios e meias palavras assim continuam a contribuir para o surgimento à luz do dia de uma cambada de malandros, idiotas, e muito perigosos farsantes.
O não cabal e definitivo esclarecimento dá azo à retórica e má acção (opinião pessoal, naturalmente) de Venturas e quejandos.
É mau para a Democracia.
Indo às minhas questões/ dúvidas/ perguntas supra, SIM, a revolução continuou nos dias seguintes ao 25NOV75.
Para o PCP e as agremiações radicais à sua esquerda (com entendimentos diferentes; Cunhal escreveu sobre esses fenómenos), o caminho não foi o devido; para outros, o caminho foi limpo e lúcido.
Presente as últimas declarações de que me apercebi, e o documentário passado na RTP3, creio que tenho algumas respostas, e arrisco dizer o seguinte:
- Em 25 NOV 75 algum juízo se restaurou, e creio que é razoável dizer que em 25ABR74 se adquiriu a LIBERDADE, e em 25 NOV 75 ela não se perdeu, e assim se prosseguiu o caminho para instaurar o regime em que felizmente vivo.
- Depois de 25ABR74, há eleições livres, cada português vota em quer quer, ou em branco, ou não vai às urnas (o que muito lamento, e sempre dou na cabeça dos que depois se me queixam; votei sempre, em todas as eleições), e os governos são formados com base nos resultados eleitorais.
DEMOCRACIA, LIBERDADE.
- As datas para mim importantes são as de 25ABR74, 2ABR76 quando a CRP foi aprovada (infelizmente com a inscrição do rumo ao socialismo), e 10ABR76 quando foi publicada em DR. Outra data importante, a da primeira revisão da CRP, como importantes foram as das revisões seguintes.
- estou convencido que depois do 11MAR75, gradualmente, o PCP com a colaboração íntima de Vasco Gonçalves e muitos oficiais prosseguiram a sua estratégia de ganhar o poder, o poder do colectivismo, ao ponto de preparem (estou convencido, mas admito estar enganado) nos meses seguintes o assalto "por dentro" às Forças Armadas (FA) com recurso, nomeadamente, à formação de oficiais e sargentos em cursos de tropas especiais das FA. Creio que isso foi travado em 25NOV75.
- estou convencido que algures durante a vigência do IV governo provisório, o PCP e as suas várias organizações (civis e dentro das FA) começaram gradualmente a perder algum controlo da situação, e começam a emergir as linhas Otelistas de esquerdas radicais, com a inerente e crescente indisciplina em quartéis, e um pouco por todo o lado (questão 10).
- estou convencido de que a famosa declaração de Melo Antunes salvo erro na noite de 26NOV75, foi a confirmação do que fora combinado com Cunhal (compreendido por este), quer por Melo Antunes quer por Costa Gomes.
- também estou convencido de que, se no seio do grupo dos NOVE, e sobretudo em Melo Antunes e mais dois ou três deles próximos havia um objectivo claro quanto ao regime a instituir no país e ao desenvolvimento do país, duvido muito que o pensamento e objectivo desse restrito grupo fosse partilhado por outros deles.
- estou convencido de que é correto o que escrevi em 1, 2, 3 e 4 supra.
- posso estar a ser injusto mas, estou convencido que o real papel (questão 9) de Otelo (o grande e inesquecível responsável militar de 25ABR74) depois de 11MAR75 e até 24 NOV 75 foi ir deixando degradar a situação militar, mais pelo silêncio e indecisões, e assim ir na prática incentivando a indisciplina dentro de quartéis e, tacitamente, apoiando linhas radicais fora do controlo do PCP; no documentário da RTP ouvi a afirmação de Vasco Lourenço de que estava convencido que a ordem para os pára-quedistas teria partido de Otelo. Numa recente entrevista que li na TSF, à pergunta - qual o papel de Otelo? - Sousa e Castro respondeu - NADA.
- quanto à minha questão 5, estou cada vez mais convencido de que o grupo dos NOVE sabia perfeitamente que Otelo permanecia impávido e sereno perante o avanço das agremiações esquerdóides dentro das FA, tal como relativamente aos avanços do PCP quer nas organizações civis quer dentro das FA, pelo que muito antes do 25NOV75, porventura algures na vigência do IV governo provisório, os NOVE prepararam-se para, militarmente, enfrentarem insubordinações; nas palavras de Sousa e Castro - se e quando alguém saltasse.
- quanto à minha pergunta 6, sobre os fuzileiros, há nisto muita coisa para mim obscura. Creio ser rigoroso afirmar que a componente fuzileiros da Marinha era muito forte, armada adequadamente e numerosa. Sem desprimor, a noção que tenho é que por exemplo não andaram a fazer como o que creio aconteceu com os Comandos, nos últimos tempos antes do 25NOV75, chamarem para as fileiras comandos que já estavam na disponibilidade.
Por outro lado, uma das coisas por esclarecer, é sobre aquilo que está na narrativa que desde sempre se tem ouvido, de que os fuzileiros ficaram nos quartéis porque chegou a ordem - já não é para sair. Quem deu a ordem? Foi alguém dentro da Marinha? Foi alguém de partido político, porventura do PCP ou com ligação estreita a ele (militar de Marinha)?
A narrativa que sempre correu aponta normalmente para um conhecido oficial de Marinha. Mas no documentário que passou na RTP3, ouvi um sorridente Rosa Coutinho a dizer que ele conseguiu isso, que os fuzileiros não saíssem.
Qual a verdade?
Uma coisa creio corresponder à realidade desse tempo, a de que a chefia directa na estrutura fuzileiros obedeceria apenas à hierarquia que estava estabelecida, obedeceria ao PR Costa Gomes. Coisa nada do agrado de quem estava contra os NOVE.
- quanto à minha questão 8, estou convencido de que aqui reside muita da incomodidade do PS e dos vivos do grupo dos NOVE. A ligação de então, a ligação a grupos "esquisitos", o que leva depois dessa data a uma reserva enorme, o que leva ao inconfessável.
Estarei a acertar, ou estou enganado?
- estou convencido de que quanto às minhas questões 11 e 12, ouvir ao longo dos anos representantes da Associação 25 de Abril, ouvir outros militares, ouvir os vários documentários sobre o 25 de Abril e sobre o 25 de Novembro, ou ler certos blogues, ou ler o que alguns vão escrevendo nas redes sociais sobre casos concretos que por acaso um ou outro até são rigorosamente conhecidos por bons amigos meus (e não o que agora apenas parcialmente pintam esquecendo o que não lhes convém) nisso encontro quase todas as repostas. Naturalmente que uma revolta militar, um movimento militar, e o que se lhe seguiu, é um processo muito complexo. Eu sei.
- Mas se estou muito grato aos que instituíram o regime onde felizmente vivo, embora por vezes com alguma tristeza por coisas que subsistem, e que já deviam ter sido resolvidas e definitivamente erradicadas, não posso deixar de lamentar a permanência de tabus.
- Passados já mais de 50 anos, era mais do que tempo de contar as verdades todas, mesmo que doesse a certos comentadores, a certos herdeiros políticos, a certos ex e actuais titulares de órgãos de soberania, a certos pais da Pátria.
- Deixei propositadamente para o fim as minhas interrogações condensadas na questão 7 - "as detenções pós 25NOV75", "a instauração de processos", "a reintegração" e "as vagas de condecorações" nomeadamente de Marcelo.
E à minha pergunta - em nada disto há casos estranhos? - não tenho respostas, mas tenho algumas convicções.
Começo pelo fim, as vagas de condecorações impostas por Marcelo.
Revejo-me nas palavras de Sousa e Castro que li na TSF - porque ele só homenageia oportunisticamente.
- "as detenções pós 25NOV75"- certamente inevitáveis. Provavelmente houve alguns abusos, não sei.
- "a instauração de processos"- desconheço esses processos, mas imagino que na maioria tenha tido saudável legitimidade administrativa decorrente da realidade, decorrente de que os NOVE estavam vencedores, e a hierarquia militar foi escrutinada.
Houve abusos? Desses tempos haverá algumas coisas a criticar?
É bem provável. Desconheço detalhes.
Mas o que não desconheço é que um homem como Salgueiro Maia foi ostracizado dentro do Exército. Porquê? Gostava de saber.
Como gostava de melhor perceber como e porquê ocorreram certas catapultagens militares. Houve complacência dos vencedores?
- "a reintegração"- gradualmente, ao longo do tempo, foram abertos processos para reintegrar oficiais afastados no pós 25NOV75.
Naturalmente desconheço completamente o assunto.
Conheço quem sabe alguma coisa desses tempos, das reintegrações.
Do muito pouco que ouvi, a sensação que tenho é a de que houve casos peculiares. E não me estou a referir ao estranho caso de Valentim Loureiro. Fico por aqui.
- "as vagas de condecorações"- são uma das facetas que na nossa história democrática me fazem recordar algumas coisas do Estado Novo. E nesta afirmação não estou a referir-e ao caso particular dos militares, NÃO, estou a referir-me a esta coisa anacrónica (opinião pessoal naturalmente) que é a seguinte: sai de cargo importante na enorme máquina do Estado, toma lá condecoração da praxe.
Por acaso já houve pelo menos uma situação de inexistência de condecoração, por uma questão higiénica. Sócrates, depois de ser PM não levou a condecoração da praxe.
Há um outro caso no mesmo âmbito, mas a não condecoração deveu-se a uma coisa diferente e que pouco abunda em certos meios, e se define assim: dignidade, integridade, seriedade, probidade, honestidade intelectual. Refiro-me a Passos Coelho, que mandou Marcelo à fava.
Mas voltando às condecorações, às vagas de condecorações que Marcelo impôs a inúmeros militares (diz-se que em função das listas apresentadas pela Associação 25 de Abril) para lá da CERTAMENTE MAIS QUE JUSTA HOMENAGEM, será que não houve nisso, também, um querer apaziguar consciências de alguns por coisas do passado recente?
Tenham um bom resto de dia, saúde, e arranjem muita paciência.
Sim, porque Portugal continua com a casa por arrumar. Penso isto!
António Cabral (AC)